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A Década do Terror

Como o terrorista mais notório de todos os tempos, Osama bin Laden, abalou a vida dos norte-americanos – dentro e fora dos Estados Unidos

Por Michael Hastings Publicado em 20/07/2011, às 19h51

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Ilustr ação: Mark Summers
Ilustr ação: Mark Summers

As ações de Osama Bin Laden, e nossas reações a elas, definiram a minha vida. Eu estava em Nova York em 11 de setembro de 2001, no último ano da faculdade. Depois que as torres desabaram, andei 95 quarteirões para chegar o mais perto possível do Marco Zero para poder ver em primeira mão a destruição que definiria o nosso futuro. Quando cheguei a Bagdá quatro anos depois, pouquíssimos norte-americanos acreditavam que as pessoas contra quem lutávamos no Iraque representavam uma ameaça aos Estados Unidos. Nem mesmo a imprensa militar se importava mais em mentir sobre isso, chamando nossos inimigos de "insurgentes" em vez de "terroristas". Uma mulher que amei foi morta em Bagdá em janeiro de 2007 - a Al Qaeda no Iraque recebeu os créditos por isso - e meu irmão caçula lutou por 15 meses como líder de um pelotão de infantaria, ganhando uma Estrela de Bronze. Outros amigos, norte-americanos e iraquianos, sofreram suas próprias perdas: casas, partes do corpo, pessoas amadas.

No outono de 2008, quando me mudei para o Afeganistão, Bin Laden e a Al Qaeda mal eram notas de rodapé com relação ao que fazíamos ali. "Não se trata de Bin Laden", um oficial da inteligência militar me contou. "Trata-se de arrumar a bagunça." Isso aumentou o crescente desespero que os norte-americanos sentiam com relação à guerra: se não se tratava de Bin Laden, a que raios diz respeito? Por que estávamos lutando guerras que não nos deixavam mais perto do homem responsável por desencadear o horror do 11 de setembro? Um oficial militar de alto escalão me afirmou, no ano passado, que não acreditava que capturássemos Bin Laden. No entanto, cada vez que os nossos presidentes e os generais nos diziam por que ainda estávamos lutando no Iraque e no Afeganistão, sempre usavam Bin Laden e o 11 de setembro como desculpa. Enquanto insistiram em lutar essas guerras que não precisávamos, a psique norte-americana não pôde se curar.

Desde o início, a ideia da Guerra ao Terror era confusa. Fomos convencidos de que não haveria "campos de batalha e cabeças de ponte", como o presidente George W. Bush afirmou. Seria uma guerra secreta, conduzida principalmente no escuro, sem restrições. É isso que poderia ter sido se tivéssemos capturado Bin Laden no começo, vivo ou morto, mas não foi o que aconteceu. Em vez disso, partimos para o ataque em plena luz do dia. Tivemos nossos campos de batalha e cabeças de ponte no final das contas. Kabul, Kandahar, Bagdá, Fallujah, Ramadi, Najaf, Mosul, Kirkuk, Basra, Kabul e Kandahar de novo - a lista continuava. Não conseguíamos encontrar Bin Laden, então fomos atrás de qualquer um que se parecesse com ele, buscando outros monstros para derrotar: o Talibã, Saddam Hussein, Abu Musab al-Zarqawi.

No final, Bin Laden conseguiu a carnificina que esperava desencadear. Quase três mil norte-americanos morreram no 11 de setembro. Desde então, 6.022 militares foram mortos no Iraque e no Afeganistão, e mais de 42 mil feridos. Mais de três mil soldados aliados morreram, além de 1.200 empreiteiros, trabalhadores assistenciais e jornalistas. A maioria das mortes não ocorreu em batalhas - foi na métrica suja de homens-bomba, esquadrões da morte, assassinatos em pontos de inspeção, câmaras de tortura e dispositivos explosivos improvisados. Civis a caminho do trabalho ou soldados dirigindo em círculos, procurando um inimigo que raramente conseguiam encontrar. Talvez nunca saibamos quantos civis inocentes foram mortos no Iraque, no Afeganistão e no Paquistão, mas estimativas sugerem que 160 mil morreram até agora. A Al Qaeda, por sua vez, perdeu poucos operativos na conflagração mundial - talvez apenas "pontos", como o presidente Barack Obama disse recentemente. Na verdade, a Al Qaeda nunca teve muitos membros, para começo de conversa. Nunca desde que Gavrilo Princip assassinou o arquiduque Ferdinando, iniciando a Primeira Guerra Mundial, uma conspiração assumida por tão poucos foi sentida por tantos.

Depois de saber da morte de Bin Laden, dei parabéns aos meus amigos na comunidade militar e de inteligência, tuitei meu agradecimento ao presidente Obama e à sua equipe, depois me sentei e ouvi as buzinas tocando na minha rua, em Washington. Pensei em todos os mortos, e no que acrescentar o nome desse filho da puta à lista realmente significa. Minha esperança - e ela não é tão grande assim - é que nossos líderes políticos usem a morte de Bin Laden para colocar um ponto final na loucura que ele provocou. Retirar nossas tropas restantes do Iraque, um país que nunca representou uma ameaça a nós. Terminar a guerra no Afeganistão, onde gastaremos US$ 120 milhões neste ano para evitar que o país se transforme em um esconderijo para a Al Qaeda. Como a morte de Bin Laden deixa claro, nossos verdadeiros inimigos sempre encontrarão um esconderijo, não importa quantas pessoas torturemos, subornemos e matemos. Nos últimos dez anos, usamos o nome Osama bin Laden para justificar nossas guerras. Agora que ele está morto, talvez possamos usá-lo na causa da paz.