Rolling Stone
Busca
Facebook Rolling StoneTwitter Rolling StoneInstagram Rolling StoneSpotify Rolling StoneYoutube Rolling StoneTiktok Rolling Stone

Anarquista Digital

Convidado da Feira Música Brasil, em Recife, primeiro produtor do Pink Floyd critica a venda de músicas pela internet

Márcio Cruz Publicado em 01/03/2007, às 00h00 - Atualizado em 21/08/2007, às 11h35

WhatsAppFacebookTwitterFlipboardGmail
Peter Jenner, em Recife: pela democratização da música - Agenor Lima/Divulgação
Peter Jenner, em Recife: pela democratização da música - Agenor Lima/Divulgação

Há gerações, os caminhos da música não eram tão obscuros e excitantes. Movidos pela discussão de temas como "copyright", "black box" e "DRM" (termos tão obrigatórios hoje quanto LP e rotações por minuto foram um dia), especialistas, produtores, artistas e representantes de selos e gravadoras estiveram presentes em Recife (PE) na primeira edição do Feira Música Brasil, quatro dias de eventos divididos em módulos: Shows, Negócios, Produtos e o Porto Musical, evento exclusivamente voltado a discutir o futuro da música.

Na cidade onde portugueses e holandeses guerrearam pela posse das terras, palestrantes de nacionalidades distintas trocaram informações e experiências sobre a indústria musical. Entre eles, um representante de uma geração passada teve as palestras mais disputadas: o empresário britânico Peter Jenner, produtor de bandas como Pink Floyd, The Clash e T-Rex. Jenner é hoje secretário-geral do IMMF (International Music Manager's Forum) e diretor do UK MMF (United Kingdom Music Managers's Forum).

O produtor, com mais de 40 anos de carreira na bagagem, conversou com a reportagem da Rolling Stone na pousada onde estava hospedado, em Olinda. Altivo, demonstra tanta admiração pelos caminhos da música como pela experiência de ver um sagüi ao vivo pela primeira vez. "Veja, ela está carregando um filhote nas costas. Ou não está?", comenta, fascinado.

O filhote que se transforma em peso para os pais poderia servir como alegoria para o atual drama das quatro principais gravadoras do mundo - EMI, Sony, Universal e Warner: ao mesmo tempo em que tentam se equilibrar sobre os direitos de comercialização da música dos artistas que representam, são forçadas a procurar novas alternativas de negócio: "O problema é que ir a uma loja de discos ou pagar por música digital não é algo 'cool'. As pessoas simplesmente não querem dar dinheiro para a indústria. Mas se elas souberem que o dinheiro vai para os artistas é diferente". Jenner acredita que a idéia de comprar músicas pela internet e pagar por faixas baixadas é falida e não funciona. "As pessoas sempre pagaram por arte e deram dinheiro para os artistas, mas a idéia de propriedade é muito artificial na internet. Como dizer para a pessoa não copiar em um ambiente propício para a criação de cópias, como é o computador?", declarou, durante a conferência "Capitalizando a Anarquia", uma de suas participações no Porto Digital.

A Federação Internacional das Indústrias Fonográficas (IFPI) estima que, em 2005, houve 1 bilhão de downloads não autorizados somente no Brasil.

Para Jenner, a solução para a questão seria a criação de provedores de música em modelo semelhante às companhias de celular e aos provedores de acesso à internet. Seria de responsabilidade de um órgão independente repassar o dinheiro arrecadado para os artistas. Mas confessa que ele mesmo pode estar errado: "Essa é a minha opinião sobre esse assunto. Você pode ter outra completamente diferente".