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Panic! at the Disco e o circo emo

Jenny Eliscu Publicado em 22/09/2008, às 18h15

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O Panic! at the Disco (da esq. para a dir.): John Walker (baixo), Brendon Urie (vocal), Ryan Ross (guitarra) e Spencer Smith (bateria) - Max Vadukul
O Panic! at the Disco (da esq. para a dir.): John Walker (baixo), Brendon Urie (vocal), Ryan Ross (guitarra) e Spencer Smith (bateria) - Max Vadukul

Ryan ross comprou uma mercedes C55 há três meses, mas o carro está parado em sua garagem, em Las Vegas. Quando o guitarrista da Panic! at the Disco senta no banco do motorista, coloca para tocar a nova coletânea de Tom Waits, Orphans, e começa a apertar os botões do sistema de navegação do veículo - dá para ver que ele ainda não sabe muito bem como tudo aquilo funciona. Ross percorre as ruas do centro de Las Vegas à procura de uma filial da cadeia de lanchonetes preferida do Panic!, a Port of Subs, para um lanchinho antes do penúltimo show da turnê: eles vão fazer uma apresentação com ingressos esgotados no Hotel e Cassino Orleans, para 7,5 mil fãs, seus familiares, amigos e três quartos do Fall Out Boy - que vieram de Los Angeles para assistir ao maior show que seus protegidos já fizeram em sua cidade natal. Mais tarde, nesta mesma noite, Ross, de 20 anos, vai enfrentar a platéia vestido como um Oliver Twist (o órfão-protagonista do romance homônimo do escritor inglês Charles Dickens) gótico. Uma trama de galhos negros traçados com delineador sai de seu olho direito e ele usa uma boina por cima do topete castanho. Mas esta não é a primeira vez que Ross sobe ao palco do Orleans: há dois anos e meio, esteve ali para receber o diploma do ensino médio.

Quando Ross entra na loja do Port of Subs em uma galeria, na companhia do baterista Spencer Smith e do vocalista Brendon Urie, ambos de 19 anos, o lugar está vazio, a não ser por dois atendentes frios que não reconhecem as três celebridades locais. Ao receber a informação de que a Rolling Stone vai pagar a conta, os três resolvem mudar o pedido para combos, com refrigerante e batata frita. Depois de algumas mordidas no sanduíche - o Pilgrim, com peru, molho de cranberry e farofa -, Ross esfrega o maxilar e observa que seus dentes de siso estão nascendo. Depois de ouvir uma discussão entre Smith e Urie sobre qual deve ser a quantidade de "maionese e mostarda extra", Ross observa que o Pilgrim é o segundo sanduíche do Port of Subs que ele come neste dia. Quando Urie diz que este é o seu primeiro, o guitarrista fica estupefato. "O que você fez o dia inteiro?", ele pergunta. "Precisei arrumar minha mala da Dior", Urie responde, como se fosse a coisa mais normal do mundo um adolescente que enche a cara com uma refeição de US$ 5 ter uma bolsa de US$ 1.500 de uma grife de alta-costura parisiense. "E dei uma geral no meu quarto, porque estava começando a feder."

No final de 2006, quando acompanhei a banda em shows em Las Vegas, San Diego e Los Angeles, os rapazes estavam prestes a dar início a suas primeiras férias de verdade desde que assinaram com o selo Decaydance, de Pete Wentz (baixista do Fall Out Boy), no final de 2004. Naquela época, a banda só tinha três músicas no repertório e nenhuma apresentação ao vivo no currículo. Mas, em dezembro do ano passado, a maior (nova) banda de rock dos Estados Unidos já tinha garantido um disco de platina duplo e ainda vendia 20 mil cópias por semana de seu álbum de estréia, A Fever You Can't Sweat Out (disco gravado por parcos US$ 10 mil). O primeiro single do grupo, "I Write Sins Not Tragedies" - três minutos de cordas em pizzicato, acordes poderosos e melodia de cabaré - garantiu a eles o prêmio da MTV de Melhor Vídeo do Ano. A este se seguiu uma série de clipes igualmente arrebatadores [o mais recente, de "Lying Is the Most Fun a Girl Can Have With Her Clothes On", mostra um mundo onde as pessoas passam a vida com a cabeça enfiada em aquários] que fizeram garotos de 14 anos - que não viveram a época de ouro do Technicolor cafona na MTV na década de 1980 - acessarem o YouTube em massa.

"A gente não esperava que este álbum fizesse sucesso", diz Ross, o principal compositor do grupo. "Realmente não acho que seja muito bom. Foi mais uma experiência nossa para tentarmos nos entender. A gente só queria crescer alguns anos e mostrar às pessoas o que poderemos fazer no próximo álbum. Durante um tempo, nem queríamos tocar nas rádios ou aparecer na MTV. "

"Não éramos pessimistas", diz Smith, a caminho do Orleans em seu Nissan 350z esportivo. "Mas não me surpreenderia se nós ainda estivéssemos em uma van indo tocar para uns 200 garotos neste momento. O Fall Out Boy passou três anos fazendo turnê com uma van e um trailer. É o que as bandas fazem em início de carreira." Até Wentz reconhece que não poderia ter previsto que o Panic! at the Disco cresceria tanto a ponto de ameaçar eclipsar o próprio Fall Out Boy. "A banda é uma aberração, conclui. "Fazem exatamente o oposto de tudo que uma gravadora recomendaria e, ainda assim, têm sucesso. Há um algo a mais aqui que é intangível. É parecido com o Kiss, mas mais esperto e 30 anos depois."

Na era do MySpace, bandas de moleques de olhos pintados como o Panic! agradam à juventude melodramática - com imaginação hiperestimulada e viciada em internet - que depende da rede para encontrar seu próximo artista preferido. A identidade do Panic! at the Disco deriva menos de referências musicais e muito mais da maneira como selecionam suas influências. As letras citam livros do (escritor norte-americano) Chuck Palahniuk; o nome das músicas extrai falas do filme Closer - Perto Demais (de Mike Nichols) e covers apresentadas em shows ao vivo, como "Killer Queen", do Queen, foram aprendidas com o game Guitar Hero. E o visual foi composto com base em seus filmes preferidos - Moulin Rouge! (de Baz Luhrmann), O Estranho Mundo de Jack (de Henry Selick) e Edward Mãos-de-Tesoura (de Tim Burton) - que, assim como as canções deles, estão cheios de corações partidos. O Panic! faz parte de uma nova raça de bandas punk, que inclui My Chemical Romance e AFI, que têm a intenção de trazer o espetáculo de volta ao rock'n'roll com tanto destaque para os figurinos, a maquiagem e os trejeitos teatrais quanto para as músicas. A maior parte de seus fãs nunca viu um show de rock. E o Panic! quer fazer com que essa primeira experiência seja arrebatadora.

Na turnê de outono do Panic! (no segundo semestre do ano passado), a produção era tão elaborada e cara que o empresário disse que eles só ganharam dinheiro com a venda de camisetas. "Eu me lembro de Spencer ter dito: 'Talvez a gente coloque leões vivos e um carrossel no palco'", Conta Ginger, a mãe do baterista. Grandes felinos nunca entraram no show, mas o conceito básico foi incorporado: inspirada pelo Cirque du Soleil e por Moulin Rouge!, a banda resolveu fazer com que o palco se parecesse com um Carnaval pós-apocalíptico ou com um delírio circense. Ross diz que a encenação foi se desenvolvendo a partir de sua fascinação por Paris "e qualquer história de amor verdadeiro, seja Romeu e Julieta, O Fantasma da Ópera ou Titanic. Não sei o que é, mas alguma coisa na idéia de um cavalheiro culto de terno me fascina".

Durante a apresentação, os garotos se apresentam com figurinos vitorianos aparentemente em frangalhos, o rosto coberto com maquiagem branca, preta ou vermelha. E há as dançarinas, cujas contorções de ginastas, infinitas trocas de fantasia (bailarina! Cleópatra! paciente de hospício!) e interações indecentes com os integrantes da banda dão ao show um elemento inesperado, apesar de toda noite ser exatamente a mesma coisa.

O que Urie diz entre as músicas também é premeditado, e a parte que desperta mais gritos histéricos acontece mais ou menos no meio da apresentação, logo antes de tocarem "Lying". "Você já sonhou que estava em um campo de girassóis", Urie começa e, a partir daí, descreve a corrida para um encontro com alguém que está lá para lhe dar "o beijo perfeito". Enquanto fala, vai se aproximando de Ross e inclina o rosto para bem perto do guitarrista, que tira a boca bem na hora H, quase toda vez: em San Diego, na última noite da turnê, Urie foi rápido o suficiente para tascar um beijão na bochecha de Ross, que imediatamente ficou vermelho de tanta vergonha. A platéia engole em seco, e Urie sempre diz algo do tipo: "Bom, este aqui não é esse tipo de sonho. Vou falar de uma transa suada, nervosa, louca e monstruosa." Um mar de meninas solta gritinhos de prazer por estar no meio daquela obscenidade proibida para menores de 13 anos.

"Fazemos várias coisas para conseguir uma reação", diz Ross. "Os fãs sempre dizem que eu e o Brendon estamos namorando. Acho que o show é quase um divisor de águas, em que você precisa escolher: 'Será que eu vou gostar desta banda a partir de agora ou será que eles são demais mais pra mim?' Sei que meu CD não entraria na minha casa antes de eu completar 16 anos. Acho que os pais de hoje são um pouco mais permissivos. Mas, bom, é verdade que eu vi alguns pais e mães bem bravos no meio do público."

Urie e Ross não namoram, mas o guitarrista não precisa provar nada. "Estou com uma menina legal", Ross diz com uma respirada catarrenta que deve ter adquirido ao recitar inúmeros "Pai Nossos" durante os 12 anos que freqüentou a igreja católica. Suas desventuras amorosas forneceram estofo de sobra para A Fever You Can't Sweat Out, assim como um problema pessoal muito mais sério: o pai já morto, George, que lutou contra o alcoolismo e foi hospitalizado diversas vezes durante o processo. Como os pais de Ross se divorciaram quando o guitarrista tinha uns 3 anos, ele, com freqüência, precisou cuidar do pai. O peso dessa responsabilidade se reflete em músicas como "Camisado", que traz os versos: "You've earned a place atop the ICU's hall of fame / The camera caught you causing a commotion on the gurney again" [Você ganhou um lugar no topo da lista do hall da fama da UTI / A câmera o pegou dando escândalo em cima da maca de novo].

Em julho do ano passado, o pai dele morreu enquanto dormia, aos 60 anos. O Panic! estava indo de Vancouver para Seattle quando Ross recebeu a notícia. "Atendi o telefone e, na hora, já sabia o que o policial ia me dizer. No dia do enterro dele estava chovendo - foi estranho chover naquela época do ano. Depois da missa, voltei, coloquei a mão no caixão e me despedi. Bem aí, a chuva parou. As nuvens se dispersaram e o sol apareceu. Falei durante a cerimônia e disse que se tinha uma coisa com a qual meu pai se preocupou desde que nasci era com a minha criação. Sinto saudades, mas está tudo bem agora. Foi triste, mas voltei para a turnê e só perdi três shows."

Ajudou o fato de Ross ter um forte sistema de apoio a postos, incluindo o baterista Smith - seu melhor amigo há 14 anos. Smith lembra em detalhes quando eles se conheceram. "Eu tinha cinco anos e ele seis", conta o baterista, com a fala intercalada por respirações, o que faz com que pareça um clone de Butt-Head, amigo de Beavis. "Meu avô e o pai dele trabalhavam juntos em um hotel famoso daqui, o Thunderbird, na mesa de blackjack e de jogo de dados. Eu estava dando uma volta no quarteirão com o meu avô e ele reconheceu o pai do Ryan, que estava aparando a grama enquanto Ryan jogava bolas de golfe de plástico no quintal do vizinho. Depois disso, durante nove anos nós moramos na mesma rua. Como nunca tive um grupo muito extenso de amigos, simplesmente passávamos muito tempo juntos."

"Estivemos juntos em praticamente todas as fases pelas quais os meninos podem passar", diz Ross. "Ganhamos nossos instrumentos no mesmo Natal (quando estávamos com 13 anos). Com 14 anos, começamos a gravar nossas próprias músicas, na casa do Spencer. Aliás, eram as piores que você já ouviu na vida", desabafa Ross.

"O Blink-182 era enorme naquela época", Smith recorda. "Para nós, eles eram, obviamente, a melhor banda do mundo. Basicamente tentávamos escrever sobra qualquer coisa que o Blink poderia falar. Fizemos uma música sobre cabular aula, coisa que só fiz duas vezes na vida. Simplesmente parecia algo sobre o que o Blink podia escrever também."

O nome inicial do Panic! era Pet Salamander, mas foi mudado para Summer League logo antes de o baixista original - Brent Wilson, substituído por Jon Walker, 21 anos, de Chicago - sugerir um colega da aula de violão dele, Urie, para fechar a formação. "Na primeira vez que tocamos com Brendon, pensei: 'Este cara é muito melhor na guitarra do que eu'", conta Ross. "No final daquela noite, ele fez imitações do Gollum, de O Senhor dos Anéis. Era a melhor imitação de Gollum que já vi!."

"Quando Brendon se juntou à banda, só ia tocar guitarra", prossegue Ross, que dava conta da parte vocal com relutância e agora só contribui com os backing vocals. "Mas acho que fiquei doente um dia e alguém disse: 'Por que você não canta?'. Ele começou a cantar, e nós dissemos: 'Por que você não contou para a gente que sabia cantar?'. Ele respondeu: 'Eu não sabia que sabia'."

Ross nunca se sentiu à vontade no papel de líder, mas Urie se esbalda na função. Assim como Smith e Ross, ele não bebe nem usa drogas, apesar de ser viciado em Red Bull, o que exacerba sua hiperatividade natural. "Sou uma criança que tomou Ritalin [remédio indicado para crianças com déficit de atenção], e sempre fui muito dado", diz o vocalista. "Não tenho problema nenhum em me apresentar para cinco mil pessoas."

Com o elenco fechado, o Panic! passou vários meses tentando compor. Mas o progresso era lento, talvez porque a idéia que tinham sobre o som que desejavam fazer mudava a cada CD novo comprado. Então, depois que o pai de Ross lhe deu um laptop de aniversário, eles aprenderam sozinhos a usar o Garage Band e gravaram algumas faixas durante os ensaios. "Claro que, para isso, levamos dois meses", diz Smith, o mais pragmático do grupo [ele tem uma coleção impressionante de tênis que contabiliza mais de 50 pares: em sua maior parte, são Nikes exóticos que Smith não usa por medo de depreciar seu valor para o caso de a banda passar por maus bocados]. "Os outros poucos amigos que tínhamos, e para quem contamos que estávamos trabalhando em músicas, pararam de acreditar em nós. Eles diziam: 'Vocês nunca vão fazer nada!'."

Os garotos evoluíram de Blink para o Fall Out Boy e, quando ficaram sabendo que Wentz estava abrindo um selo próprio, Ross colocou um link para duas músicas da Panic! em um message board do Fall Out Boy na esperança de que Wentz ou algum fã da banda escutasse e gostasse. "Alguns dias depois, o Pete mandou uma mensagem para o Ryan dizendo: 'Gostei mesmo das músicas'", conta Smith. "Ele estava em Los Angeles, gravando, mas queria vir a Las Vegas para nos ver tocar. Nós ficamos: 'O que a gente vai fazer agora? Nunca fizemos show nenhum!'." Wentz veio até a cidade, pagou o almoço para eles no Del Taco e acompanhou-os até o lugar onde ensaiavam para vê-los tentar tocar as três únicas músicas que tinham. Na ocasião, o quarteto ainda nem sabia como sincronizar as partes pré-gravadas com aquelas ao vivo. "Foi a maior confusão", Wentz reconhece. "Mas vi que eles tinham alguma coisa - um brilho. Tudo que fazem gruda na orelha." Ao voltar para o hotel naquela noite, Pete Wentz ligou para dizer que queria contratar a banda.

Tentar escrever um álbum inteiro em apenas alguns meses parecia impossível, até que Ross comprou um punhado de trilhas sonoras de filmes, incluindo O Estranho Mundo de Jack, Edward Mãos-de-Tesoura e Embriagado de Amor (de Paul Thomas Anderson). "A certa altura, estava assistindo a um filme e tinha uma cena sem diálogo que me fez perceber que, se não houvesse música, não teria dado para sentir as emoções daquele momento", diz o guitarrista. "Fiquei fascinado com a maneira como certas notas e acordes fazem com que a gente se sinta de uma maneira específica. É tão estranho, a gente ouve uma coisa, como uma nota em bemol, e automaticamente pensa em algo triste ou quase agressivo. Quero tratar nosso próximo álbum como se estivesse escrevendo uma trilha sonora. Quero ter todas as letras prontas antes de começar a compor qualquer melodia e estar com a história pronta antes de tudo."

Leitor ávido desde que começou a encomendar livros por meio do clube de leitura da escola, quando criança, o guitarrista diz que descobriu Irvine Welsh, Charles Bukowski e Palahniuk (cujas obras têm referências em quatro faixas da Panic!) durante seu único semestre na Universidade de Nevada, em Las Vegas. "É por isso que muitas das músicas trazem comentários sobre a sociedade moderna e temas que não poderiam ser abordados em nenhum outro momento que não este", explica. Em "London Beckoned Songs About Money Written by Machines", por exemplo, Ross trata do esnobismo da cena punk do século 21. Mas para o próximo álbum, que a banda planeja lançar no segundo semestre de 2007, ele diz que fará letras menos atreladas a sua época. "Não vai haver nenhum tipo de comentário social sobre o que está acontecendo no mundo de hoje", diz o guitarrista, dando golinhos em uma xícara de chá depois da passagem de som em San Diego (o local do show desta noite, a San Diego Sports Arena, apareceu no filme Quase Famosos, na cena em que William Miller começa a andar com a Stillwater. Depois que um integrante da equipe passa essa informação, Urie dá início a uma interpretação a capella de "Fever Dog", da Stillwater, provando que não é mentira quando ele diz que gostaria de cantar como Steve Perry, do Journey).

"Vai ser como poesia; não vai dar para contextualizar em nenhuma época", diz Ross a respeito de seus planos para o segundo disco do Panic!. "Estava lendo um ensaio do [escritor irlandês] Oscar Wilde e ele disse que os dois erros que os escritores podem cometer são ter a modernidade como forma e como tema. Realmente levei isso ao pé da letra. Se você quiser ter algo atemporal, precisa escrever assim. Ultimamente, ando escrevendo coisas entre o que é real e o que não é. Mais ou menos como Alice no País das Maravilhas [de Lewis Carroll]. Nunca escrevi uma canção de amor, mas penso que nosso próximo trabalho terá canções de amor. É engraçada a maneira como as coisas acontecem, às vezes. Realmente acho que vão ter coisas que poderei tirar das minhas próprias experiências. E as partes da vida que não são assim tão interessantes... posso simplesmente inventar."

Apesar de o Panic! ter um show marcado para dali a algumas semanas, o show de San Diego é a última noite da turnê. E, de acordo com as tradições da estrada, a apresentação final de uma turnê exige algumas boas pegadinhas. Durante "I Write Sins Not Tragedies", integrantes da equipe entram correndo no palco, sem avisar. Um sujeito especialmente corpulento - Dan Angell, amigo de longa data da banda, cuja função é praticamente só ficar com o pessoal - aparece de sutiã e saiote de bailarina e ergue Urie no ar. Os rapazes do Panic! deixam o palco eufóricos, animados por terem terminado a turnê e cheios de energia devido à surpresa feita pela equipe. Cobertos de suor e com a maquiagem escorrendo pelo rosto, os quatro desaparecem para dentro de um dos camarins. Instantes depois, a trupe de dançarinas entra correndo só de calcinha, as meninas sobem em uma mesa, ficam lá sacudindo tudo durante 15 ou 20 segundos e voltam em disparada para o camarim delas, dando risada. Os meninos da banda aparecem com as bochechas ainda mais vermelhas, de um tom que a mais espessa das maquiagens de palco jamais poderia se aproximar. Por um momento, não se parecem em nada com estrelas do rock - são só quatro adolescentes felizes da vida por terem visto uns peitinhos. "Uh... heh-heh... hum", Urie gagueja. "Você viu aquilo? Uau. Aquilo foi... Foi o máximo!"