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Produtor de 24 Horas fala sobre a sexta temporada

Howard Gordon avisa: "É bem crua".

Por Gavin Edwards Publicado em 22/09/2008, às 18h15

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Jack Bauer vai desejar estar morto, na sexta temporada de 24 Horas - Divulgação
Jack Bauer vai desejar estar morto, na sexta temporada de 24 Horas - Divulgação

A quinta temporada de 24 Horas terminou com Jack Bauer expondo um presidente corrupto e sendo seqüestrado por agentes chineses. No começo do novo ano, terroristas árabes estão bombardeando cidades norte-americanas, e Wayne Palmer, o novo presidente, acerta o retorno de Bauer para, depois, trocá-lo pelo paradeiro do mandante dos ataques. Bauer chega arrebentado, barbado e com medo. "Esta temporada mostra Jack procurando razões para se manter vivo. Por um lado, ele queria estar mesmo morto", diz Gordon.

Existe um número máximo de situações em que você pode ferrar a vida de Jack Bauer?

Tenho de pensar que sim. Mas, no início, fiz campanha para que a série terminasse na quarta temporada. Então aprendi a não seguir meus próprios instintos se estiver com medo. Você deve imaginar que a esta altura é mais fácil fazer a série, mas o negócio só se complica. Esses personagens já passaram por tanta coisa emocionalmente, em especial o Jack, que fica difícil não se repetir e manter a coerência de suas ações. É como cavar minas explosivas - você tem sorte quando encontra uma veia da história ou do personagem, mas, às vezes, você só fica ali martelando nas mesmas coisas e acaba fritando-o. No ano passado, tivemos sorte de encontrar uns belos ganchos. Neste ano, estamos ainda mais ousados.

O Jack Bauer já fez coisas horríveis nos últimos anos.

Ele faz essas coisas e elas têm resultado, mas ele paga um preço altíssimo por isso. O Jack é um cara que não aproveita nada do que a condição de ser humano nos proporciona. Todos os seus relacionamentos deram merda, a filha dele o odeia, e a mulher dele morreu. Outras tentativas de se relacionar terminaram de forma trágica. E acho que esta temporada será o ápice de tudo isso - as cicatrizes nas costas e no corpo do Jack são um mapa do passado trágico dele. Não consigo imaginar Jack saindo dessa de mãos dadas com sua amada. Não acho que esse seja seu destino.

O que você acha da definição de que 24 Horas é um "pornô de tortura"?

Bem, isso é uma racionalização. Não acho que Jack tortura as pessoas e pede uma pizza logo na seqüência. Não acho que ele seja um sádico.

Você não acha que, após os atentados de 11 de setembro, há uma parte do público que faz questão de ver sangue na tela?

Certamente. Mas também se preenche o vazio da insegurança do pós-11 de setembro com uma figura capaz de nos manter seguros. Se o governo podia ou não nos manter a salvo em 11 de setembro, ele obviamente não o fez. As pedras no sapato de Jack são as burocracias corruptas e incompetentes, e o inimigo.

Descreva a visão política dos roteiristas de 24 Horas.

Vai da extrema direita à extrema esquerda. O [co-criador] Joel Surnow é bastante conservador. Eu me definiria como um democrata moderado, e temos algumas pessoas que estão ainda à minha esquerda. E acho que isso se reflete no seriado. A tese central deste ano é: "Qual é o preço para nos mantermos seguros?" É uma pergunta sem respostas - às vezes, a gente se pega escrevendo e não sabe pra quem está torcendo.

Ao que me parece, você tem uma idéia exata do que acontecerá no final de cada temporada.

Não! Juro por Deus, nenhuma idéia. Com sorte, sabemos como começar, imagine terminar. No ano passado, sacamos mais ou menos que o presidente Logan seria mau, mas era só uma idéia que estávamos mastigando. Daí veio aquela discussão: "Não podemos fazer um presidente mau e blablablá".

Por que não se pode fazer um presidente mau?

Por razões de patriotismo, porque vai se parecer com o Bush. Vai saber... Mas rapidinho nos ficou claro que era a única opção.

Por que as temporadas recentes começam sempre às 6h ou às 7h da manhã?

Em parte, por causa dos nossos horários de produção: quando começamos a rodar esta temporada, tivemos mais horas claras, de dia, e é mais fácil filmar durante o dia, quando temos duas horas a mais de luz. Quando vem o inverno e os dias ficam mais curtos, fazemos a transição para o ambiente noturno. No primeiro ano, começamos à meia-noite e tivemos muitos problemas quando passamos a ter menos "horas escuras". Foi um pé no saco.

Antes de fazer 24 Horas, você passou anos fazendo Arquivo X. O que as duas séries têm em comum?

Acho que existe uma grande relação entre as duas séries, e ambas têm muito a ver com o medo. Arquivo X tocou o público porque foi ao ar depois da queda do muro de Berlim e da ascensão da dominação norte-americana. Tudo ia muito bem, mas tínhamos essa inquietação. Os monstros e alienígenas se tornaram metáforas para a idéia de que se devia temer algo que estava escondido. Depois veio o 11 de setembro, e os ETs foram substituídos por terroristas. Então, em 24 Horas, os monstros ficaram muito mais específicos e literais.

O que você acha da onda de séries dramáticas na TV norte-americana?

Boa sorte [risos]. Muitos desses seriados parecem versões "míni" de 24 Horas. Se o cara escapa da prisão ou seqüestra alguém, isso a gente já fez - muitas vezes. Temos sorte de ter marcado o território. nós chegamos antes.