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DNA duplamente registrado

Wanessa equilibra as tarefas de divulgar o novo álbum, DNA, e de se preparar para a chegada do primeiro filho

Stella Rodrigues Publicado em 12/09/2011, às 13h58 - Atualizado às 16h51

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Wanessa - Ale de Souza/Divulgação
Wanessa - Ale de Souza/Divulgação

“Estou mais empolgada comprando discos para ele do que as roupinhas”, diz Wanessa, grávida de cinco meses, sobre os preparativos para a chegada do filho, José Marcus. Não é só o DNA biológico da artista que foi repassado no rebento: Wanessa desde já tem colocado sua genética musical no garoto, que antes de sair da barriga tem frequentado os muitos shows de divulgação de DNA, disco recentemente lançado pela mãe. “Dizem que com o tempo ele vai começar a ouvir os shows e que o som que deixa a mãe feliz também deixa o bebê feliz. Acho que ele já vai nascer no ‘puts puts’. A primeira coisa que comprei para ele foi um CD Bob Marley Para Bebês, e quase chorei”, conta a cantora.

Wanessa aproveita o fato de que a gestação tem sido tranquila e tem mantido uma rotina de trabalho bastante intensa. “Estou adaptando a coreografia conforme não consigo mais fazer as coisas. Está sendo bom porque estou descobrindo novas formas de expressão corporal”, ela afirma.

E haja expressão para dançar a pegada eletrônica intensa desse álbum, como todo tipo de ritmo dançante. Na entrevista abaixo, Wanessa comenta sobre as letras e a melodia das músicas do trabalho, com o qual tem uma espécide de relação sinestésica (“Quando escrevo a letra, vou enxergando como ela é, sentindo o cheiro da música”), da temática das composições, que servem como um diário, e da importância do produtor Mister Jam (a quem se refere como “Fa”, de Fabianno Almeida, seu nome de batismo), essencial para a existência de toda essa variedade rítmica.

Para começar, uma pergunta do tipo “ovo vs. galinha”: como funciona isso do DNA, é a sua genética que está no disco ou a música que está no seu DNA?

Nossa, difícil de definir [para e pensa]. Meu DNA estar na música veio primeiro. E aí acabei tornando o CD um pouco um diário, uma forma de expressar como me enxergo como ser humano hoje, o que quero dizer verdadeiramente. Não o que gostaria de ser, é diferente. Busquei colocar tanto meu lado bom, como coisas que identifico que são difíceis de lidar, alguns comportamentos meus que me irritam. Minhas pendências como ser humano.

E isso está nas letras que você escreveu, por isso funciona como um diário?

Ele é todo pensado e proposital, até na ordem. Começa com “DNA”, comigo falando que aprendi que tenho o bom e o mau dentro de mim, que as pessoas vão me julgar e que não tem como controlar isso. Começa com uma busca sincera de autoconhecimento. Questiono se fui atrás de me olhar no espelho e descobrir quem eu sou de verdade. Daí vamos para a luz, os momentos plenos que temos na vida. “High” [já bem ao final do disco] é uma música espiritual superforte para esse tipo de discurso. É um disco que parte da escuridão e chega na luz.

Como nasceu a parceria com o Mister Jam?

Tudo começou com ele me mandando “Falling For You”. Fiquei apaixonada pela música e gravei logo, antes que algum outro artista a pegasse. Dali já sabia que meu próximo CD seria com ele e que seria um pop bem eletrônico. Música de pista, mas com a liberdade de ter uma coisa mais flamenca em uma música, outra só com piano, essas coisas. Entendemos como um trabalho de parceria, o que é importante, mas ele é um produtor que sabe que está dando voz a algo que é meu, autoral.

Essa variedade toda de vertentes eletrônicas vem mais dele ou de você?

“DNA” foi toda dele. Já em “Stick Dough”, cismei que tinha que ter um funkão carioca na música, queria uma mistureba, aí ele sugeriu colocar dubstep. Em “Blow Me Away” quis essa coisa cigana e ele foi atrás. O produtor é importantíssimo nisso de te ajudar a se fazer entender. Com a experiência, ficou mais fácil dizer o que eu quero, trazer mais coisa para a produção do CD.

Como você encontrou a BamBam e a convidou para participar de “Sticky Dough”?

Eu sonhei com uma voz exatamente igual à dela para essa música! Não achava... as rappers que apareciam tinham uma voz mais agressiva, e eu queria uma voz de menina sapeca. Um amigo do Mister Jam falou que conhecia uma rapper do Snoop Dogg assim. Encaixou direitinho com o meu timbre, tem horas que parece que sou eu cantando, eu mesma esqueço que é a voz dela.

Com esse disco, você acha que chegou ao “estilo Wanessa”?

Cheguei em uma identidade bem uniforme, que com certeza não foi do dia para a noite. São referências de músicas que ouvi a vida inteira, desde que me entendo por gente. Acho que é até um problema, porque eu passeio por muita música diferente. Não gosto de rotina. Eu me emociono com Tonico e Tinoco, Green Day, gosto de uma Celine Dion, Faith Hill, Shania Twain e chego em um Ting Tings. Nunca consegui ser de uma tribo só na escola, é de mim isso. Eu achava mágico e legal cada linguajar, vestimenta e forma de pensar. E a música tem o mesmo intuito. Não precisa ter, sempre, uma supervoz, como a da Adele. Eu aprecio uma voz da Madonna, menor, mas que tem outros elementos. Nunca a Adele vai mandar um “Like a Virgin” como a Madonna, sabe?

O Brasil é carente de cantoras que façam um “pop internacional” como o seu?

O Brasil tem uma cultura muito forte de samba, sertanejo e estilos próprios. O rock foi um desbravador no Brasil – uma influência de fora que conseguiu vir para cá e ter a nossa cara. Os anos 80 foram essenciais para isso. Isso não vai ser quebrado nunca e nem tem motivo para isso. Isso não impede de a gente se identificar com uma música mais internacional. Meu pai me apresentou Queen, e lembro de descobrir o que era a música pop, Madonna e Michael Jackson, e decidir que queria ouvir aquela música para o resto da vida. É curioso, o Mister Jam tem sucessos desde os anos 80 que eu sempre achei que fossem gringos. Se você for pensar: a gente gosta, a gente compra, lota show, por que não fazer essa música aqui também?

Daí o disco ser só em inglês...

Tem uma influência gringa muito grande, não consigo nem enxergá-lo em outra língua, apesar dos temperos e pinceladas latinas. É legal que a música está tocando na Europa sem nenhum de marketing. A ideia era já ter começado a correr atrás de gente que ajude a colocar para tocar ainda mais lá fora, mas como engravidei, os planos agora são outros. Vou parar no fim do ano, volto em março e aí quero gravar um DVD no Brasil e já pensar em mais um CD, além de carreira no exterior. De qualquer forma, tudo isso é só depois que o José Marcus nascer.

Sua parceria com o Ja Rule foi bastante definidora na carreira, certo?

Ja Rule foi o chute no balde. E foi indicação do meu marido, que entende como ninguém de mercado e soube achar um caminho para eu expressar coisas que não tinha conseguido expressar ainda. Queria mostrar um outro lado para o mercado pop fazia tempo e não conseguia. Foi um risco, mas funcionou muito bem. Foi algo muito genuíno – se não fosse verdadeiro, tenho certeza que o público não teria engolido. Estava pronta para parar de cantar, se não conseguisse. Não tinha sentido fazer algo que não fosse a minha cara.

Você poderia comentar a prisão do Ja Rule, por porte de arma, este ano?

Nesse pessoal do rap tem muita gente que vem de gangue, de bairros que competem, a gente sempre ouve falar. Tem amizades erradas no meio. Ele é um cara muito, muito do bem. Fico com o coração na mão. Mas aposto que isso vai dar um monte de letras maravilhosas para ele, aposto que esse bicho está escrevendo um monte. Eu acho que essas coisas até acabam sendo boas para a imagem de bad boy deles. Ele é sensacional, muito doce - tem esse lado bad boy, que não conheço, que estava portando arma, mas tem o lado que eu conheci, de ser extremamente educado com as mulheres, muito apaixonado pelo que faz. Uma das grandes experiências da minha vida foi ver esse cara gravando “Fly”. Ele rasgou a letra e fez tudo na hora, foi impressionante. Quero ainda trabalhar muito com ele, que ele não me apronte mais nenhuma!

A comunidade LGBT te recebeu de braços abertos. Foi planejado?

Desde o começo tive esse público comigo, sempre tive empatia pessoal e profissionalmente. Mas meu trabalho nunca teve foco em público. No começo, talvez, como marketing da gravadora, era público teen. O que foi diferente foi que meu marido teve a ideia brilhante de fazer divulgação, ano passado, cantando na The Week. Eu nunca tinha cantado em uma boate. Estava em pânico, mas quando entrei, parecia que tinha nascido para isso, me encontrei! Foi esse público que me deu a liberdade de arriscar, me expressar no palco fazendo tudo que eu quiser.