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O Disco Artesanal de Mallu Magalhães

Cantora grava terceiro álbum, Pitanga, contando com o acaso e o aconselhamento de Marcelo Camelo

Pablo Miyazawa Publicado em 08/09/2011, às 10h52 - Atualizado em 19/09/2011, às 15h04

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<b>ESMERO</b> Mallu Magalhães, no estúdio El Rocha, em São Paulo: atenção aos mínimos detalhes - OTÁVIO SOUSA
<b>ESMERO</b> Mallu Magalhães, no estúdio El Rocha, em São Paulo: atenção aos mínimos detalhes - OTÁVIO SOUSA

“As primeiras demos, gravei no mês em que fiz 15. O primeiro disco, quando fiz 16. O segundo, no mês seguinte aos 17. Agora, vou fazer 19.” Em uma tarde do final de julho, Mallu Magalhães reflete sobre estar finalizando seu primeiro disco como uma artista maior de idade. “A vantagem é poder ir dirigindo para o estúdio.”

Diante da mesa de som do estúdio paulistano El Rocha, Mallu finaliza Pitanga, seu terceiro álbum desde 2008, previsto para outubro. “Às vezes, saio na rua sem destino e fico torcendo para que tenha um acaso qualquer. E isso acaba refletindo na minha música”, ela diz. Do estilo inusitado da gravação à escolha do título, tudo parece refletir essa alardeada “filosofia do desapego”. “Eu estava torcendo: ‘Bem que poderia acontecer alguma coisa, voar um papel de biscoito chinês...’ E do nada veio essa Pitanga”, ela explica a origem do nome. “Era tudo o que eu precisava: uma palavra forte, que ninguém nunca usou. E adoro pitanga – tem uma pitangueira na frente da janela do apartamento, outra aqui no estúdio... Juntou com minha conduta de vida: o que vier, agarra e levanta.”

É o dia 55 da produção, e Mallu e o coprodutor Victor Rice dão polimento na mixagem das 12 faixas de Pitanga. Em turnê, Marcelo Camelo, namorado de Mallu e que também assina a produção do álbum, não se encontra ali. “Tinha uma lista de 47 músicas prontas. E pra escolher só 12?”, ela lamenta. “A gente quis fazer um disco conciso, não um apanhado de músicas bonitas.”

Pitanga, contudo, acaba soando como uma coleção de canções singelas e arquitetadas de modo quase artesanal, com Mallu e Camelo criando os arranjos em tempo real. “Quem resolveu fazer desse jeito foi o Marcelo. Ele falou: ‘A gente tem que gravar um disco que seja você o máximo possível”, Mallu conta. “Foi tudo feito aqui, não teve ensaio. Eu tocando e cantando, colocando coisas por cima, experimentando. Me encontrei nessa nova maneira de trabalhar.” Tirando os baixos (gravados por Rice) e alguns sopros, quase a totalidade dos instrumentos foi tocada pelo casal. “Dá vontade de colocar nos créditos: ‘Marcelo e Malu: Não se sabe o quê’. Porque é difícil distinguir o que cada um fez”, ela diz, rindo. O produtor Kassin também foi acionado e contribuiu, remotamente, com detalhes sonoros. “A ‘Wake Up in the Morning’ era de um jeito, mas, quando entraram as guitarras do Kassin, virou outra música”, ela exulta.

A balada “Cena” já denota o amadurecimento do timbre de Mallu, mais versátil e confiante. Chamam a atenção os arranjos intrincados, recheados de nuances, que só podem ser captadas por completo em repetidas audições. O nível de complexidade evidencia reminiscências de Toque Dela, de Camelo, percebidas aqui e ali. Não por coincidência, ambos os discos foram gravados naquele mesmo El Rocha. “Não é um disco para se pensar: ‘Foi caro’”, Mallu comenta. “É para se pensar: ‘Caramba! Foi feito com dedicação’.”

“Aumenta mais o volume, pra impressionar”, ela diz antes de apresentar “Velha e Louca”, já conhecida de shows recentes. O reggae “You Hu Hu” traz solo de assovio, versos em inglês e refrão em português; a bossa “Sambinha Bom” é ornada por um solo de piano martelado; “Baby I’m Sure” traz a estreia de Mallu na bateria. “Foi preciso muita concentração pra isso”, ela desdenha. “Ô Ana” é uma homenagem à irmã, que Mallu canta aos sussurros, evocando Nara Leão. No meio da audição da climática “Cais”, as luzes do estúdio repentinamente se apagaram. “É conceitual mesmo”, brinca Mallu.

“É um disco que veio em um momento de mudança”, a cantora teoriza, talvez se referindo à iminente mudança geográfica do casal, de São Paulo para o Rio de Janeiro. “Foi legal para aprender que o importante na música não é estar tudo perfeito. É escutar e sentir que ela mexeu com você.” Satisfeita, Mallu não economiza elogios ao parceiro, Camelo. “Foi impressionante a eficiência dele”, diz. “Ele sempre proporcionava um ambiente confortável, queria melhorar as coisas que eu propunha. Ele pegava o que eu tinha de mais legal e ficava atento para canalizar pra melhor.”

“Tenho certeza de que vai mudar minha vida”, ela reflete sobre o projeto recém-findado. “Já mudou naturalmente, a gente como casal. Mas também profissionalmente, sabe? Sou extremamente apaixonada pela minha profissão, e eu nem sabia! Descobri fazendo.”