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Coachella: festa no deserto

Em três dias, na Califórnia, o festival Coachella reuniu nomes como Rage Against the Machine e consagrou novas caras; VEJA FOTOS

Pablo Miyazawa Publicado em 16/05/2011, às 12h46

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LOTAÇÃO MÁXIMA Público aguarda por show no Coachella: 180 mil compareceram aos três dias do festival - Bruno Furnari
LOTAÇÃO MÁXIMA Público aguarda por show no Coachella: 180 mil compareceram aos três dias do festival - Bruno Furnari

Às 22h45 do último domingo de abril, exatos cinco minutos após o horário previsto, os quatro músicos um dia conhecidos como Rage Against the Machine subiram juntos ao palco - pela primeira vez desde o já distante 13 de setembro de 2000. Os ansiosos murmúrios de dezenas de milhares se tornam ensurdecedores quando um quase irreconhecível Zack de la Rocha - sem os tradicionais dreadlocks, barba espessa, camisa vermelha de botão - se posicionou sob um intenso holofote amarelo no meio do palco e saudou: "Boa-noite. Nós somos o Rage Against the Machine, de Los Angeles, Califórnia".

Além de marcar o início de um show histórico, era o momento derradeiro - e o auge - de uma maratona de três dias e 122 apresentações de artistas de estilos diversos em um esverdeado oásis incrustado no deserto norte-americano. Em sua oitava e mais celebrada edição, o Coachella Music & Arts Festival mostrou eficiência tanto na tarefa de acolher bandas já esquecidas quanto na de consagrar novos nomes em busca de um lugar ao sol.

"Lugar ao sol" parece um eufemismo irônico em se tratando de um evento realizado no coração árido do Coachella Valley (Califórnia), onde chove apenas dez dias por ano e a temperatura facilmente ultrapassa os 40º C. Inusitada e privilegiada, a localização do festival responde por muito de seu charme: um campo de pólo de enormes proporções localizado em uma cidade pacata, Indio, próxima a estâncias de águas termais repletas de casais aposentados. A região como um todo impressiona pela paisagem e pelos elementos inusitados que a compõem. Terrenos áridos e amarelados fazem par contrastante com fileiras de palmeiras plantadas com precisão milimétrica; cassinos suntuosos com decoração kitsch são controlados por tribos indígenas; centenas de campos de golfe fazem da região um dos principais locais para a prática do esporte, além de abrigar um dos principais torneios do Circuito Profissional de Tênis (em Indian Wells). A origem do nome é ignorada, mas imagina-se que seja uma adaptação da palavra "conchella", como a região era chamada em mapas antigos, devido à grande quantidade de conchas marinhas encontradas em sua área desértica.

Distante 200 km de Los Angeles, Indio em nada lembra uma cidade que abriga um dos maiores festivais da música mundial. Tem meros 70 mil habitantes (75% de origem hispânica), é uma das maiores produtoras de tâmaras dos Estados Unidos e seus clubes de pólo são motivos de orgulho local.

Foi em um desses clubes, o Empire Polo Field, que o embrião do Coachella começou a tomar forma. Em 9 e 10 de outubro de 1999, um público de aproximadamente 25 mil pessoas assistiu a Beck, Rage Against the Machine e mais cerca de 70 apresentações de grupos de rock, hip-hop e eletrônico. A baixa lucratividade foi o motivo alegado para a não-realização no ano seguinte. O retorno, em 2001, foi marcado pela mudança para o mês de abril, quando o calor seria mais ameno, e aconteceu em apenas um dia. A partir de 2002, já contando com maior apoio dos moradores de Indio, o formato "fim de semana" foi estabelecido.

"Só nos últimos dois anos, o Coachella se tornou um negócio realmente lucrativo", afirmou Paul Tollett, presidente da Goldenvoice, empresa responsável pela organização do Coachella. "Nem foi sempre assim, mas, após oito anos fazendo o festival, finalmente começou a dar certo."

A edição 2007, que aconteceu de 27 a 29 de abril, foi a maior em todos os sentidos: foi a que teve maior cobertura da imprensa, a primeira com três dias de duração e a com a maior quantidade de atrações - 37 no primeiro dia, 42 no segundo e mais 43 no terceiro, totalizando 122 shows de artistas diferentes. O retorno do Jesus & Mary Chain e do Happy Mondays, além da presença de nomes consagrados - Red Hot Chili Peppers, Björk, Sonic Youth, Manu Chao, Air - e emergentes - Arcade Fire, Interpol, Arctic Monkeys, Lily Allen, LCD Soundsystem, Kaiser Chiefs, Amy Winehouse, The Good, The Bad & The Queen - colaboraram para elevar o interesse pelo festival às nuvens. Ingressos para os três dias (US$ 249, por volta de R$ 500) se esgotaram em fevereiro, um recorde em se tratando da tradição alternativa do Coachella. Porém, é inegável que muito do assédio em torno do evento foi gerado pela tão alardeada volta do Rage Against the Machine, separado em 2000 por alegadas "diferenças artísticas".

A maneira mais tradicional de se alcançar a área do Coachella é de carro, a partir de Los Angeles. Menos óbvio e mais interessante é iniciar a viagem por San Francisco. A estrada de preferência se torna a Interstate 5 no sentido sul, com um desvio para Bakersfield em direção ao deserto de Mojave, uma passagem por um trecho da histórica Rota 66 e mais centenas de quilômetros de solidão sul abaixo até o Coachella Valley.

Endurecidas pelo sol impiedoso, as manchas de sangue amarelado dos insetos atropelados pelo Mustang que nos conduz já não saem do pára-brisa com simples jatos de água. A velocidade máxima no deserto não ultrapassa 55 milhas por hora (algo em torno de 90 km/h), mas o anoitecer iminente e a ausência de sinais de civilização encorajam o descumprimento da lei. Caminhões com cargas avantajadas são companhias constantes, além de alguns poucos veículos de passeio. Pelas aparências, é possível julgar que o destino dos passageiros dos outros carros será o mesmo que o nosso.

A paisagem na rota do deserto é formada por infinitos pomares de laranjas e uvas do lado direito, e terrenos áridos a perder de vista do lado oposto. Entre uma plantação e outra, vácuos desérticos com aparência abandonada, nenhuma fazenda ou construção como referência. Ao fundo, colinas amareladas de formatos repetitivos. Um belo cenário, ainda que monótono e desolador. A falta de umidade e os largos espaços vazios criam miragens autênticas, recriando um visual compatível com os estereótipos de deserto divulgados pelos desenhos animados. Diante de tal panorama, presenciar cemitérios de trens e aviões antigos se torna algo tão trivial quanto apreciar o surgimento das primeiras joshua trees (a árvore típica da região) ou surpreender arbustos tumbleweeds rolando como bolas de boliche disformes pelo acostamento.

Na rodovia 58, bem além do deserto de Mojave, o sol se pôs em nossas costas, formando um confortável cobertor cor-de-rosa sobre o asfalto. Postos de gasolina cada vez mais esparsos se confundem a motéis vagabundos de beira de estrada e lanchonetes vazias com cardápio altamente calórico. A chegada em Desert Hot Springs, nossa base de apoio da viagem rumo ao Coachella, aconteceu 12 horas depois e 800 quilômetros além de nossa partida. A queda da temperatura não basta para refrescar. Contrariando a regra, o calor deste deserto não dá trégua nem durante a madrugada.

A ida para Indio, a 18 quilômetros dali, aconteceu na manhã do dia 27 de abril, dia 1 do Coachella. A ausência de nuvens e a temperatura ainda mais elevada parecem reforçar a monocromia: casas, calçadas e montanhas oferecem um tom pastel uniforme, deixando por conta das palmeiras e dos gramados das casas a tarefa de fornecer traços de vida à paisagem.

Pouquíssimas pistas entregavam a identidade do evento abrigado na cidade - apenas algumas placas indicando o caminho ao estacionamento gratuito e a presença da polícia, que limitava a movimentação no entorno do Empire Polo Field. Os carros eram estacionados sobre um enorme gramado em perfeito estado. Para compensar a falta de uma solução de transporte público para o festival, os organizadores estimularam a prática do carpooling, a nossa popular carona. Veículos com a expressão "carpoolchella" desenhada nos pára-brisas concorriam a prêmios dados pela organização. Quem não tinha carro se arriscava a andar a pé, vestido como a ocasião exige sob o sol impiedoso. Chapéus, mochilas e roupas coloridas eram freqüentes. Mulheres usavam chinelos e biquínis. Muitos homens nem vestiam camiseta. Faltava só a praia. Próximo à entrada, as atividades tradicionais de um festival: aglomerações, filas, grupos bebendo no porta-malas de carros e escutando música em alto volume. "Por favor, sou um monge e estou doando livros para meditação. Aceita um?", diz o desconhecido aos tropeções. Não, obrigado.

Uma grande placa vermelha dependurada em uma grade indicava as inúmeras restrições que seriam desrespeitadas ao longo do fim de semana. Entre elas, a proibição da entrada de drogas de qualquer espécie e equipamentos para sua utilização. O consumo de maconha, entretanto, não era inibido, e o aroma mais freqüente antes, durante e entre um show e outro era o da versão californiana da erva em combustão. Tanto na platéia quanto nos backstages: após se confundir na letra de "Knock 'Em Out" em seu show no terceiro dia, a inglesa Lily Allen se desculpou: "Eu não estou bebendo ou fazendo nada errado, mas dei uns dois pegas antes de subir no palco...", sinceridade premiada com aplausos e gargalhadas.

Entrar nos domínios do Coachella, mesmo pela entrada VIP, consumia um mínimo de 45 minutos sob o sol. O sistema de segurança era intenso e paranóico ao extremo (óbvio, estamos nos Estados Unidos). Mochilas e bolsas eram revistadas sem cuidado pelos agentes de segurança, que tinham a ordem de eliminar (jogar no lixo) objetos "não permitidos", sem explicação ou aviso. Foi preciso argumentar que, na condição de jornalista cobrindo o festival, eu realmente precisaria entrar com minhas canetas esferográficas. A mesma cena se repetiu no domingo, dia das filas mais curtas e rápidas, apesar do público mais numeroso. A filmadora digital guardada em minha mochila - esta sim proibida dentro das fronteiras do Coachella - passou incólume por três dias de revista acirrada.

O calor infernal, a grande quantidade de atrações simultâneas e a variedade de pessoas circulando distorcem o foco e atrapalham a atenção. Ao atravessar a bilheteria, o primeiro detalhe que se nota é a intensidade do verde do enorme campo aberto. O estilo do público não se restringia aos estereótipos. Havia pais com crianças, mulheres grávidas, vítimas da moda, celebridades do cinema e TV e os músicos, inclusive muitos que nem tocariam no festival. Segundo a Goldenvoice, 60 mil pessoas passaram pelas bilheterias a cada dia, totalizando 180 mil. Desses, por volta de 16 mil acamparam nos arredores do Empire Polo Field.

No grande parque de diversões temático e engajado que é o Coachella, a música ao vivo é o prato principal, mas não a única refeição. Barracas vendiam água, sorvete e comidas típicas, de pizza a falafel, passando por churrasco brasileiro, alcachofra empanada e sushi. Bebidas alcoólicas eram comercializadas dentro de áreas demarcadas, somente para quem exibisse no punho uma pulseira branca com o logotipo de uma marca de cerveja - esta obtida após a apresentação de uma prova de maioridade. Alheio ao que se sucedia nos palcos, um minidomo psicodélico abrigava DJs que se revezavam para tocar incessantemente para incansáveis foliões. A cada 50 metros, era possível interagir ou simplesmente apreciar instalações artísticas impressionantes e de gosto duvidoso. Minitendas vendiam discos, ou apresentavam revistas, ou convidavam o visitante a se afiliar a ONGs, ou a tomar parte do movimento pelo impeachment do presidente George W. Bush. Um terreno equipado com receptores apontados para o céu apresentava os recursos e maravilhas da energia solar. Nos poucos pontos isolados de sombra, DJs se revezavam na tarefa de dar som e espirrar água fresca nos desidratados. A água, aliás, era combustível para o estímulo à reciclagem: a cada dez garrafas plásticas recolhidas, o visitante era presenteado com uma cheia. A estratégia manteve o gramado limpo e impecável, pelo menos até o final do primeiro dia. Já não dava para dizer o mesmo do domingo.

A distância entre os cinco palcos é tanta que torna impossível enxergar todos de um único ponto. Quatro foram batizados com nomes de conhecidos desertos: o maior, Coachella Stage, fica a cinco minutos de caminhada rápida do segundo, Outdoor Theater. Mais cinco minutos adiante está a apertada Gobi Tent. Ao lado, a concorrida Mojave. Longe, quase escondida, a eletrônica e arejada Sahara. O fato de os shows acontecerem simultaneamente facilitava a circulação e não permitia aglomerações nas rotas de conexão. Perto dos palcos, a história era outra. Por mais obscuro que fosse o artista, todos os shows tinham platéia numerosa, aplausos empolgados e músicas cantadas em coro. Não foram poucos os que admitiram com sinceridade ao microfone a "honra de estar aqui com vocês, no meio do deserto". Para o público do Coachella, era como se tudo sempre estivesse perfeito.

O que não significa que a organização não tenha cometido deslizes nas escolhas das arenas compatíveis com a expectativa sobre cada artista. O apertado Gobi, reservado a atrações não tão famosas, abrigou shows excessivamente lotados do rei do mashup Girl Talk e da diva inglesa Amy Winehouse. O instrumental e semidesconhecido Explosions in the Sky se apresentou no nobre Coachella Stage, enquanto o bombado Kaiser Chiefs se espremia no não tão grande Outdoor Theater. Lily Allen, já com fôlego (e público) para palco grande, tocou no discreto e empanturrado Mojave. "É um processo que tem pouco a ver com o fato de a banda preferir tocar no palco ou na tenda, esse tipo de coisa", explicou Paul Tollett, da Goldenvoice, sobre os critérios de escolha de palcos e horários. "Nós programamos os shows para fluírem da melhor maneira possível, e na maioria das vezes isso funciona."

Por conta das longas distâncias e da programação encavalada, era comum perder apresentações inteiras que coincidiam com outras, ou assistir apenas ao início ou ao fim de um show. "Acho bacana o fato de aqui não tocarem apenas bandas de rock e rap", comentou Gregg Gills, o homem por trás do Girl Talk, um dos shows mais concorridos do segundo dia. "Eu só lamento não conseguir ver tudo o que eu queria, é quase impossível."

A frustração, dizem, também faz parte da experiência do Coachella.

Osatellite party poderia ter passado despercebido se não fosse pela presença inconfundível de Perry Farrell, ex-líder dos extintos Jane's Addiction e Porno for Pyros, figurinha fácil na história do Coachella. Já tocou sozinho (1999), com sua banda original (em 2001), fez participações especiais (com o Hybrid, em 2006) e deu som como DJ (em 2002, 2004 e 2005). Sua nova banda subiu ao palco principal pontualmente às 16h do primeiro dia, mas foi só na quarta música que a platéia pareceu descobrir quem estava ali: "Stop", hit do Jane's Addiction, ganhou versão energética e bastante semelhante à original. Provavelmente para chamar a atenção, Farrell, criador de outro megafestival norte-americano, o Lolapallooza, tocou acompanhado por uma backing vocal de vestido exageradamente curto (com quem desfilou de braço dado durante todo o evento) e uma tecladista loira e afinada. Na guitarra, Nuno Bettencourt, que fez carreira à frente do finado Extreme e foi um dos músicos convidados do disco de estréia do Satellite Party, previsto para maio. Talvez ansiando pela atenção que recebera no passado, o vocalista fez questão de circular por palcos e backstages durante todo o final de semana. "Perry Farrell está em todo lugar. É como se estivéssemos no Lollapalooza ou algo parecido! Cara, este não é seu festival, então pare de aparecer no palco de todo mundo esperando por aplausos", reclamou Ed Droste, vocalista do Grizzly Bear, no blog que fez para o site da edição norte-americana da Rolling Stone.

Poucas horas antes, do outro lado do campo de pólo, The Noisettes e Tokyo Police Club davam os primeiros temperos alternativos ao dia. O primeiro é um trio inglês vigoroso conduzido pela baixista Shingai Shoniwa, inglesa com ascendência zimbabuana, voz aguda e muita energia para gastar. Os canadenses do Tokyo Police Club entraram em seguida, tocando apenas o suficiente de seu pop dançante para uma platéia já ganha, formada basicamente por seus fãs de carteirinha.

No Outdoor Theatre, o Of Montreal (que, apesar do nome, é do estado norte-americano da Geórgia) mostrou habilidade de palco e cara-de-pau, em um desempenho que mais chamou a atenção por causa dos figurinos e trejeitos exagerados do vocalista Kevin Barns do que pela música em si. Amy Winehouse, a musa de "Rehab", subiu ao intransitável palco da tenda Gobi pontualmente às 18h e ganhou o público sem fazer esforço. Acompanhada de uma fileira de músicos competentes, visivelmente nervosa e instigante com shorts jeans e regata branca, Amy provou que sabe realmente cantar. Carisma e charme fizeram o resto.

O primeiro grande show se iniciava no palco principal quase ao mesmo tempo. O Arctic Monkeys aproveitou a primeira semana após o lançamento de Favourite Worst Nightmare para apresentar o novo repertório e relembrar hits do celebrado Whatever People Say I Am, That's What I Am Not (2006). Mais simpático do que de costume, o vocalista Alex Turner falava sem parar entre uma música e outra - com seu ininteligível sotaque de Sheffield - comandando uma apresentação impecável e elogiada (que deve se repetir no Brasil em outubro deste ano). O sol se punha logo atrás do palco, criando uma atmosfera favorável que os estimulava a tocar com mais vontade. Planejamento ou coincidência, os Monkeys dispararam "When the Sun Goes Down" no exato momento em que o sol se escondia no horizonte. O set de 50 minutos pareceu curto, e versões ligeiramente aceleradas de faixas como "The View from the Afternoon", "Fluorescent Adolescent", "Teddy Picker" e "Dancing Shoes" deram a impressão de ter passado rápido demais.

A entrada do Jesus & Mary Chain no mesmo palco, já no escuro, foi recebida com menos devoção do que o nome do grupo exigia. Se os irmãos Reid já não são mais os mesmos, é apenas na aparência. Abrindo com "Never Understand" e emendando sem pausas com "Head On", a dupla escocesa reviveu seus hits e arriscou uma música nova, em um show melancólico que extasiou quem estava ali só para vê-los (não eram poucos). Ninguém diria que aquelas músicas há anos não eram tocadas ao vivo. Ao final, a surpresa já aguardada - os tímidos backing vocals da atriz Scarlett Johanson em "Just Like Honey", trilha da cena final de Encontros e Desencontros (o filme que a transformou em musa). Na hora nem pareceu tão catártico quanto poderia (muitos nem chegaram a reconhecê-la), mas no outro dia não se falava em outra coisa.

Lá longe, na longínqua tenda Mojave, Mike Patton relembrava seus velhos tempos de Faith No More frente ao Peeping Tom, seu mais recente (e não menos esquizofrênico) projeto experimental. Vestindo um colete à prova de balas e esbravejando refrãos e impropérios, o cantor era puro gestual e caretas. Ao mesmo tempo, no Outdoor, um show contemplativo e elegante do ex-Pulp Jarvis Cocker fazia o contraste perfeito. Muitos fãs do vocalista inglês nem se deram o trabalho de correr até o Coachella Stage, onde o Interpol começava pontualmente uma apresentação concisa e de pouca conversa, baseada nas músicas do novo Our Love to Admire, previsto para julho. As faixas de Turn on the Bright Lights (2001) e Antics (2004) foram bem recebidas, apesar de a voz do guitarrista Paul Banks parecer comprometida ou mais fraca do que nos discos. Desavisados poderiam supor que o quarteto nova-iorquino estava de mau humor, mas a idéia, aparentemente, era mesmo passar essa impressão. O tempo só permitia conferir o finalzinho do show do Sonic Youth em um palco não muito distante. Não dá para se ter tudo na vida.

Björk já havia sido atração principal na edição 2002 do Coachella. Seu show de encerramento do primeiro dia foi bipolar, carregado de clímax e anticlímax. Vestida de modo indescritível, a islandesa concentrou o repertório em músicas do novo Volta, acompanhada de uma orquestra de sopro inteiramente feminina e um tecladista equipado com um sintetizador sensível ao toque - cuja imagem foi mais exibida nos telões do que a de Björk. Versões alternativas de sucessos como "Army of Me" ganharam aplausos irrestritos, apesar de se parecerem muito pouco com as originais. Ainda havia tempo de conferir o inacreditável Gogol Bordello, big band de punk cigano liderada pelo performático ucraniano Eugene Hütz. Talvez mais conhecido por sua aparição no filme Uma Vida Iluminada, o vocalista foi o maestro da melhor apresentação da sexta-feira, com hinos empolgantes à base de violões, acordeom e percussões insanamente tocadas por uma dupla de belas dançarinas.

Para um primeiro dia, até que estava bom.

Como se fosse possível, o sábado conseguiu ser ainda mais quente do que a sexta. "Hoje está muito calor, mais de 100º [Fahrenheit, o equivalente a 38º C]", reclamava a recepcionista de nosso hotel em Desert Hot Springs. Mau sinal. Nos preparamos para o pior.

Dia das bandas de menor porte e seus seguidores fanáticos. The Cribs, The Fratellis, The Frames e Fountains of Wayne tocaram para seus fãs e não tinham como errar. Premiada com o maior palco, Regina Spektor não tem o carisma de Lily Allen ou o sex appeal de Amy Winehouse, mas ganhou muitos aplausos, apesar de ter deixado a visível impressão de que o Coachella Stage era algo demais para ela.

A alta temperatura do meio da tarde não contribuía para melhorar a qualidade dos shows. A escassez de áreas com sombras transformou a área VIP em um enorme oásis em meio ao sol impiedoso. Teoricamente restrito à imprensa e às bandas, a movimentação era mais intensa do que no gramado principal, assim como a quantidade de sujeira e mosquitos. De VIP, ironicamente, não havia nada além da sombra. Os preços eram idênticos aos praticados do lado de fora (a água era vendida a US$ 2; a cerveja, a US$ 7; a fatia de pizza, a US$ 6) e a maioria das pessoas ali parecia mais interessada na badalação e nas festas pós-festival do que na música em si. "Não dá para entender por que tem mais gente aqui do que lá fora. Se você não paga, não dá valor. Quem paga uma grana pelo ingresso quer aproveitar ao máximo", alfinetou Nick Hodgson, baterista do Kaiser Chiefs.

Eram os shows de música eletrônica os favoritos das celebridades do Coachella. Durante a concorrida apresentação do Girl Talk (que vem ao Brasil em outubro), todas as atenções estavam em Paris Hilton, que dançava sobre o palco ao lado de outros anônimos. Mais do que os próprios músicos, a socialite era a paisagem comum durante os três dias, sempre cercada por seguranças e um séquito de companheiras de guerra como a atriz Lindsay Lohan.

Sábado é para se dançar. O Hot Chip e sua bizarra formação com cinco tocadores de sintetizador tornou a tenda Mojave intransitável por 50 minutos. No mesmo local, o !!! (chk chk chk) - vencedor, ao lado de MSTRKRFT, de nome de banda mais esquisito do festival - se valeu da figura incansável do vocalista Nic Offer, que não parou de agitar um único minuto e levou todo o público junto. No remoto e mais arejado palco, Sahara, nomes idolatrados como LCD Soundystem, Justice, MSTRKRFT e The Rapture fizeram tudo o que se esperava deles. Após o Hot Chip, antes do !!! e na contramão do dance, o trio sueco Peter Bjorn & John, queridinhos da mídia especializada norte-americana, fez uma apresentação singela e pouco vistosa, completamente distante dos shows que o ensan- duicharam. O pop bem-humorado do The New Pornographers agradou mais e confirmou o carisma inesgotável das big bands canadenses no cenário alternativo - o Arcade Fire que o diga.

Favorito dos indies-cabeça, o The Decemberists jogou com o time a favor - a platéia -, que se esbaldou com uma performance teatral e altamente interativa. O líder Colin Meloy não resistia a bater papo e propor participações dos fãs: rodas de dança (des)organizadas e participações vocais foram convocadas durante o desfecho "The Mariner's Revenge Song", cuja letra conta uma história que se passa dentro do estômago de uma baleia. "Uma das minhas grandes vontades é tocar no Brasil", confessou Meloy horas antes do show. "Só não sei quando, porque nossa agenda está lotada. Mas está em nossos planos." Simultaneamente no palco maior, os cabeludos do Kings of Leon faziam aquele mesmo show barulhento e bem penteado de sempre.

O clima de ansiedade pelo Arcade Fire ajudou a transformar o Coachella Stage em um altar para uma bizarra missa catártica. Com repertório baseado no recente Neon Bible (2007), mais os hinos do anterior, Funeral (2004), os canadenses mais misteriosos do rock se empolgavam exponencialmente a cada canção tocada, contagiando um público devoto que estava ali só para apreciá-los. Não intimidado pelo transe gerado por "Rebellion (Lies)", o vocalista Win Butler desceu até a área reservada aos fotógrafos e interagiu com o público do gargarejo, tal qual um padre faz com seus fiéis. Perturbador, para dizer o mínimo.

Apesar de tocar em casa e ser a mais conhecida entre as 122 atrações, o Red Hot Chili Peppers era um peixe estranho na rede do Coachella. Muito mainstream para um público sedento por material alternativo, a banda mais californiana da história parecia alheia ao espírito do festival. O repertório cheio de altos e baixos, recheado em excesso pelas músicas mais lentas do recente Stadium Arcadium (2006), simplesmente não engrenava. Anthony Kieds, de franja e bigode, há muito tempo prefere fazer um show "para si" do que para quem o assiste e passa a impressão de que nada daquilo faz muita diferença para ele. Uma versão pesada de "Higher Ground" deu a falsa ilusão de que teríamos um show do Chili Peppers à moda antiga, mas o que se viu foi aquele mesmo papo viajante e desligado dos últimos tempos. Quem disse que o público se importou? Azar de Damon Albarn e seu The Good, The Bad & The Queen, que 30 minutos atrasado e quorum reduzido (a maioria foi embora após o fim do Chili Peppers) não realizou o que a excelente estréia em disco prometia. Lento (para muitos modorrento), o show não empolgou, mas foi belo de se ver, dada a qualidade de seus integrantes. Assistir ao ex-Clash Paul Simonon tocar suaves linhas de baixo só usando o dedo polegar foi tão (ou mais) empolgante do que apreciar as micagens virtuosas de Flea alguns minutos antes.

Para sacramentar a tendência dançante, o palco principal foi encerrado pelo holandês Tiësto, responsável pelo único momento "rave a céu aberto". Quem resistiu ao cansaço ficou até alta madrugada.

Obviamente, não foi o nosso caso.

Se na sexta-feira era fácil encontrar cambistas vendendo entradas a US$ 80, no domingo, eram eles próprios quem procuravam ingressos para comprar. Mais ventilado, era também o dia mais lotado. O padrão básico da maioria do público revelava o motivo: homem, 20 e poucos anos, origem latina, camiseta do Rage Against the Machine. O gramado, verde no primeiro dia, apresentava a coloração amarelada e deprimida de um autêntico fim de festa.

Mika, a reencarnação moderna de Freddie Mercury, ganhou o primeiro horário do palco principal e o set mais curto de todos - 30 minutos -, e passou a impressão de que teria rendido ainda mais em um local menor. No meio da platéia, o Cansei de Ser Sexy completo prestigiava. "Ele é nosso amigo e fez questão que a gente o visse", contou Adriano Cintra, mentor musical do sexteto paulistano, algumas horas antes de fazer seu próprio show. "Tocar em festival é legal. Se a pessoa vem aqui nesta roubada, passar calor, pagar US$ 7 por uma cerveja, é porque quer ver banda e se divertir. Então qualquer coisa que se faz no palco, o público fica louco." Mais um membro do seleto grupo de brasileiros a tocar no Coachella (entre eles DJ Marky em 2005 e Seu Jorge no ano seguinte), o CSS ganhou horário nobre na tenda Mojave, tocando antes de Klaxons e Lily Allen. Luiza Lovefoxxx saúda a platéia esbaforida - "We are CSS!" - vestida com um colante azul, camiseta e um par de óculos rabiscados ao redor dos olhos, e abre com a inédita "Holiday" ("Gravar disco novo, só no ano que vem", me garante Adriano). O Cansei também está com a platéia ganha e toca o que quer, até mesmo um cover do L7 ("Pretend We're Dead") apresentado por Lovefoxxx como se fosse do Daft Punk. Em meio à multidão que se espreme na entrada da tenda, seguranças escoltavam Paris Hilton, sempre ela, homenageada pelo CSS na faixa "Meeting Paris Hilton". O antecipado encontro entre criadores e criatura enfim aconteceu, no backstage, mas a aguardada participação de Paris no palco acabou não se concretizando.

Exatamente na mesma hora, o quinteto inglês Kaiser Chiefs apresentava seu recente Your Truly, Angry Mob para uma platéia tímida, mas cativada. Abrindo com "Everyday I Love You Less and Less" (de Employment, de 2005) e emendando com a nova "The Heat Dies Down", o grupo fez um dos shows mais energéticos debaixo do sol forte das 6 da tarde. Incansável, o vocalista Ricky Wilson escalou a estrutura metálica do palco, se enrolou no microfone e se deixou levar pelos fãs das primeiras fileiras em um desajeitado stage dive. Apesar de o palco do Outside Theater ser pequeno para as proezas de Wilson, o restante da banda, intimidada, pouco se mexia - algo incomum para um grupo com larga experiência em festivais. "A maior diferença entre os festivais europeus e os norte-americanos são as mulheres. Aqui elas quase não usam roupa", disse o guitarrista Andrew White, observando algumas moças se refrescarem com jatos d'água durante entrevista na mesma manhã. "Da próxima vez, quero voltar e tocar ali no palco grande", confessou o baterista Nick Hodgson, que aproveitou para prometer: "É bem provável que tocaremos no Brasil em 2008".

Havia tempo suficiente para se pegar a new rave dos Klaxons desde o início, em um formato muito mais pesado do que o som apresentado em Myths of the Near Future (2007). "É a primeira vez que tocamos em um festival", avisou o vocalista/baixista Jamie Reynolds. Nem precisava. A apresentação energética empolgou os fãs em transe, que davam mosh e cantavam todas as músicas - proeza para uma banda cujo único disco foi lançado há menos de cinco meses. Ainda deu tempo de ouvir o também ressuscitado Crowded House e o finalzinho do hit "Don't Dream It's Over" (aquela do "hey now, hey now").

Horas antes, no palco Mojave, um empolgado Tapes 'n Tapes confirmava sua condição de queridinho indie, enquanto os texanos do Explosions in the Sky tocaram para uma platéia que não os conhecia, mas os acolheu com carinho. Apesar de peixes fora d'água no maior palco de todos, o quarteto do Texas fez um dos shows memoráveis do dia, combinando a intensidade de três guitarras simultâneas com delicadas melodias. Também intenso, graças ao capricho nos graves, o Grizzly Bear surpreendeu a tenda Gobi com seu experimentalismo ousado e belas harmonias vocais.

"Estava preocupada, achei que todo mundo iria embora após o show do Klaxons", confessou Lily Allen para uma platéia na maioria feminina, que suava e se empurrava na abarrotada tenda Mojave. No repertório, todas as faixas de Alright, Still (2006) e um cover de bom gosto, "Heart of Glass", do Blondie. Apesar de visivelmente prejudicada pelo calor (e talvez outras substâncias) e pigarreando muito entre cada intervalo, Lily provou que seu som funciona bem no palco - mais méritos da banda, eficiente e precisa, do que dela mesma.

Também se esperava mais da "volta oficial" dos ingleses do Happy Mondays, que não fez por merecer o horário nobre na tenda Sahara. A decepção ficou por conta do desempenho preguiçoso do vocalista Shaun Ryder, ou muito irritado com os problemas técnicos, ou entediado por cantar as mesmas músicas de sempre. Aparentemente, fez falta a presença do dançarino-percussionista Bez, símbolo da banda e famoso por suas performances de palco insanas. Com o visto negado, não pôde viajar. Coube ao jornalista Daniel Martin, do semanário inglês New Musical Express, a honra de simular as funções dançarinas de Bez durante "Step On". Os desavisados mal notaram a diferença.

Atradição de reunir bandas extintas no Coachella começou em 2001, quando os membros do Jane's Addiction esqueceram as diferenças para encerrar a segunda edição. Desde então, o festival já acolheu retornos históricos, como o de Iggy Pop com os Stooges (em 2003) e o primeiro show da volta do Pixies (2004).

E mesmo após 36 horas e mais de uma centena de shows sob altíssimas temperaturas, não foi preciso ir muito longe para encontrar forças para o grande final. E esperar ansiosamente pelo Rage Against the Machine era a ordem do dia. Havia inquietude no ar, reforçada por um show altamente politizado de Manu Chao minutos antes, sem grandes arroubos descontrolados. A massa enlouqueceu com a aparição quase fantasmagórica de Zack de la Rocha, o guitarrista Tom Morello, o baterista Brad Wilk e o baixista Tim Commerford, juntos novamente, quase sete anos depois.

Com "Testify", de Battle of Los Angeles (1999), o RATM relembrou sua pegada característica, convidando os milhares à liberação de seus instintos mais primais. Rodas de pogo se alastravam como fogo e a violência se confundia com o natural extravasamento de um show de rock. Reservada aos fotógrafos (e lotadas de VIPs com câmeras de celular), a área do gargarejo foi invadida pelos fãs descontrolados da primeira fileira. Fotógrafos se defendiam como era possível, usando seus equipamentos como armas para conter os invasores enfurecidos, que tentavam ultrapassar a grade aos gritos de "fuck VIPs!".

Agressiva, mal organizada em rodas, a dança do meio da pista não raramente resultava em distribuições de murros e cotoveladas sem discriminação de sexo ou faixa etária. Vi um fã cambalear sozinho por longos dois minutos após ser atingido por um soco no queixo, sorrindo de canto de lábio, sem esboçar reação nem revidar. Sem aviso, uma garrafa de água atingiu a cabeça da garota raivosa a 2 metros de distância. Arremessadas para o alto pelos próprios seguranças do festival - provavelmente visando refrescar o público - elas subiam às dezenas e caiam como um ataque aéreo descontrolado sobre a maioria inocente. A verdadeira guerra era aqui embaixo.

No palco, animosidade semelhante parecia tomar conta dos músicos. Houve pouca ou quase nenhuma conversa entre os Rages - Zack e Tom Morello, era visível, mal se olharam nos olhos durante todo o show. Arrependimento ou intensa concentração?

O pico do extravasamento foi a improvisação de uma fogueira - não por coincidência - durante a execução da incendiária "Sleep Now in the Fire". Alimentado com pedaços de papel e garrafas de plástico, o fogo produziu fumaça, que dispersou parte da multidão em direção ao palco. Na metade de "Wake Up", a última antes do bis, Zack despejou seu discurso furioso, hoje mais atual do que há 14 anos, condenando todos os presidentes norte-americanos por crimes cometidos ao longo dos séculos. "A administração atual não é exceção", rosnou. "Os desafios que enfrentamos hoje vão além da atual administração. Não é um sistema que muda a cada quatro anos. É um sistema que precisamos extirpar, geração após geração." No retorno, mais duas do primeiro disco homônimo (1993). Durante "Freedom", o incêndio era extinto pelos próprios pirotécnicos, sufocados pela névoa preta que contaminava o lado direito do campo de batalha. Rodas de mosh violento e bandeiras dos Estados Unidos foram abertas durante "Killing in the Name", o hino simbólico de um show histórico. Minutos após o final, o feedback ecoava nos amplificadores enquanto homens e mulheres olhavam incrédulos para o palco vazio e escurecido. A aglomeração de 60 mil pessoas formou fila tumultuada - porém pacífica - em direção às saídas, demonstrando mínimos lampejos da agressividade de antes. Atos de vandalismo eram esparsos. Alguns poucos tentavam invadir a área VIP por baixo da grade, mas nada mais acontecia por ali. Exaustão física e mental, sensação pura de vazio, um congestionamento de duas horas e meia na saída do estacionamento. E o Coachella 2007 chegava ao fim.

O apressado retorno ao Brasil se deu no primeiro avião do dia seguinte. Meros cinco dias após o interminável domingo, ainda sentindo a ressaca pós-festival, voltei a conversar com Paul Tollett, o principal cabeça por trás da organização do Coachella. Por telefone, perguntei sobre acertos e erros, números finais, lucros e os planos para a edição 2008. Sobre a última, ele desconversou: "Ainda nem pensamos como será o festival do ano que vem. Agora que acabou, nós vamos sentar e começar a fazer planos".

Ok, e se pudesse voltar uma semana no tempo e mudar alguma coisa, qualquer coisa, o que seria? A resposta é automática: "Se tivéssemos que melhorar, seria a qualidade do som, aqueles problemas da programação, essas coisas. Mas, se eu pudesse modificar algo pra valer, com certeza reduziria a temperatura daqueles três dias!"

Não sendo a temperatura da música, está perfeito.