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Marina Lima

Redação Publicado em 03/06/2011, às 16h56 - Atualizado às 16h56

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Divulgação
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Marina Lima

Clímax

Libertá Records

Às voltas com o jogo violento do amor, cantora expõe dores e urgências em disco de tom pessoal

À meia-voz, Marina Lima chega ao Clímax sem perder a pose e a atitude. Primeiro álbum “paulista” da cantora e compositora carioca, Clímax aponta dores, urgências e inquietações de artista de 55 anos que se preserva jovial e antenada. “Essa cidade faz meu som vibrar / E querer viver para concluir / ... / Essa cidade me faz ver o mar / Nas ondas que essa gente toda traz”, poetiza em versos de “#SPFeelings”, tema que celebra São Paulo sob paradoxal clima bossa-novista. Urdido sob as luzes eletrônicas de Sampa, Clímax situa a artista em sua praia habitual. Programações assinadas por Marina e Edu Martins (coprodutor do CD) envolvem inéditas como “Lex (My Weird Fish)”, faixa cantada em português que culmina com citação do “Canto de Ossanha”, afro-samba de Baden Powell e Vinicius de Moraes. Marina Lima se sente viva, como ressalta em verso inicial de “Keep Walking”, tema em inglês que expressa a urgência sentida nas letras. “Me deixe quieta / Com a minha solidão / ... / Se você já encontrou a sua parte / Me deixe em paz / Atrás da parte que me cabe”, suplica em “A Parte Que Me Cabe”, pseudossamba formatado como melodiosa canção. Vanessa da Mata faz a segunda voz da faixa em belo e inusitado dueto que junta compositoras de visões e estilos personalíssimos. “Sombras me perseguem e eu lhe pego em todas”, admite Marina, às voltas com seus fantasmas, em verso de “De Todas Que Vivi”, balada bilíngue gravada com o violão da autora e o piano de Edu Martins. É o momento mais acústico de um disco que, como todos de Marina, soa contemporâneo e em sintonia com sua época. Até mesmo quando ela revira a memória afetiva da pré-adolescência para reviver “Call Me”, música de Tony Hatch que virou sucesso mundial em 1965 na voz do cantor norte-americano Chris Montez. No registro de Marina, “Call Me” endurece, perde a ternura e vira urgente recado de amor. Sim, Marina Lima também ama, por mais que afirme desprezar o sentimento já no título de sua primeira parceria com Adriana Calcanhotto, “Não Me Venha mais com o Amor”, ode febril ao sexo que “incendeia lençóis” e faz “subir por paredes altas”, como relatam as imagens quentes da letra. É que Marina certamente sabe que o amor também pira e gosta de provocar, causando brigas em jogo violento, armado na letra de “Doce de Nós”, faixa que expõe no arranjo o tom sintético de Clímax. Como as regras do jogo são inflexíveis, o cansaço do amor às vezes asfixia. Bela parceria inaugural de Marina com Karina Buhr, o guitarrista Edgard Scandurra e o baterista Alex Fonseca, “Desencantados” clama por liberdade e ar puro. Os três parceiros participam da faixa. Scandurra toca guitarra e Burh faz harmonioso jogo vocal com Marina.

Seja como for, Clímax culmina com a redenção de Marina ao amor, sinalizada em “As Ordens do Amor” (faixa de tom inicialmente minimalista) e concluída em “Pra Sempre”, canção composta e cantada com Samuel Rosa. “Tive histórias tristes que só eu bem sei / E que o tempo fez transformar / Em vitórias que me levam a crer neste forte ímpeto de amar você / Pra sempre”, confessa Marina em balada pop que poderia figurar em disco do Skank. Íntimo e pessoal, a ponto de sete de suas dez faixas autorais serem assinadas somente por Marina, Clímax é um álbum cosmopolita, impregnado das angústias e dores de uma metrópole fria como São Paulo. Mesmo à meia-voz, Marina Lima continua inteira no jogo do amor.

MAURO FERREIRA