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Carbono

Lenine

Bruna Veloso Publicado em 13/05/2015, às 17h19 - Atualizado em 31/05/2015, às 18h32

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lenine
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O termo “álbum conceitual” pode causar arrepios a quem não é dado ao rock progressivo, provavelmente o gênero musical que mais rende obras desse tipo. Se você é um dos ouvintes avessos a essa expressão, talvez mude de opinião ao perceber que Carbono, tal qual Chão (2011), é, sim, um disco conceitual. Não no sentido de contar uma história centrada nos mesmos personagens, mas em uma lógica amplificada. Por exemplo: a capa do trabalho foi desenhada a lápis (cuja matéria-prima é o carbono). A busca por uma obra orgânica é sentida desde as parcerias, feitas olho no olho, à instrumentação do disco. Vale recordar as aulas de química: o carbono é parte de todos os compostos orgânicos.

“Castanho”, a primeira faixa, chega validando a volta do baterista Pantico Rocha e do baixista Guila, que haviam ficado de fora do disco anterior. A letra, feita com Carlos Posada, reafirma a não obviedade com a qual Lenine escreve sobre amor, a exemplo de versos como “O que eu sou, eu sou um par/ Não cheguei sozinho”.

Em Carbono, JR Tostoi (que produz o álbum ao lado de Lenine e de um dos filhos do cantor, Bruno Giorgi) chega ao auge de sua longa parceria com o pernambucano. As guitarras passeiam fluidas pela ecológica “Quede Água” e distorcidas na medida certa em “A Causa e o Pó”, caminhando entre o peso colocado em Labiata (2008) e a sutileza ouvida em parte de Chão. “A Causa e o Pó”, aliás, é a primeira composição de Lenine junto ao filho João Cavalcanti (Casuarina) a ser lançada em um álbum do cantor. Em meio a guitarras, violino, alguns elementos eletrônicos e a flauta de Carlos Malta – que, embora seja delicada, é vital –, os dois trazem novamente à tona o elemento primário do álbum: “Do ser ao pó, é só carbono”.

Diversos camaradas deixam sua marca no disco. Letieres Leite & Orkestra Rumpilezz trazem o maracatu e os terreiros de umbanda a “À Meia Noite dos Tambores Silenciosos”; Vinicius Calderoni e Tó Brandileone, do 5 a Seco, estão na composição e coprodução, respectivamente, de "O Impossível Vem pra Ficar”; Marcos Suzano, com quem Lenine gravou Olho de Peixe (1993), deita e rola com diversos instrumentos de percussão em “Quede Água”. Duda Falcão ajudou a escrever “Simples Assim”, que, se colocada lado a lado de outras duas canções dele com Lenine – “Paciência” (1999) e “É o que Me Interessa” (2008) – parece formar uma espécie de trilogia.

Mas nenhuma parceria poderia ter sido tão aguardada quanto “Cupim de Ferro”, feita com os conterrâneos do Nação Zumbi. Ainda que pudesse figurar facilmente em um disco da banda de Jorge Du Peixe, basta ouvir com atenção para perceber o dedo de Lenine na escolha das palavras. Afinal, trata-se de um disco dele. E assim é Carbono: cheio de nuances e de mãos, mas repleto de pistas singulares da mente que concebeu sua espinha dorsal.

Fonte: Universal/ Casa 9