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Fresno

Redação Publicado em 07/07/2010, às 08h35 - Atualizado em 10/03/2014, às 14h25

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Camila Gray
Camila Gray

Fresno

Revanche

Arsenal

Com disco de rock eficiente, banda alcança objetivo de cantar para todo mundo ouvir

Antes de lançar Redenção, em 2008, Lucas Silveira declarou que gostaria de “superar a fronteira entre o alternativo e o popular”. “Se alguém tem de fazer pop-rock e ser renomado, que sejamos nós!”, ele declarou à Rolling Stone. De fato, não há no cenário nacional banda semelhante ao Fresno – que poderia alcançar destaque pop e ainda manter cativa a velha base de fãs. Com Redenção, diga-se a verdade, pouco aconteceu nesse sentido: o grupo reforçou o pé como um dos mais idolatrados entre a molecada e se tornou o papão dos prêmios das emissoras de TV. Porém, por fatores alheios às próprias intenções (ou nem tanto), foram mantidos no topo do balaio “emo”, e a ascensão das bandas “coloridas” não colaborou para limpar a barra do quarteto gaúcho. Perdida entre bandas esteticamente parecidas, o Fresno iniciou uma ansiosa luta por diferenciação. Revanche soa como essa real transição ao outro patamar. E aquele que poderia ser mais um disco jovem assinado por Rick Bonadio soa como um muito bem arquitetado grito por atenção.

Na abertura, a faixa-título assusta e leva a crer que demos play no CD errado: um riff mal-humorado, teclados que lembram Muse, final apocalíptico. A doçura tradicional persiste nos vocais apurados de Lucas, mas ele mesmo soa diferente, intimidado. “Não estou morto, apenas fui ferido”, reclama, se dirigindo a quem insiste em julgar a qualidade da banda pelos penteados e figurinos (será que há como evitar?). Para o ouvinte de primeira viagem, é impossível disfarçar a surpresa.

Mas calma, meninas: o Fresno de sempre reaparece em “Deixa o Tempo”. Melhor faixa de Revanche, ela resume em quatro minutos a essência do Fresno versão 2010: se é tudo uma questão de criar climas e emocionar, que seja feito com capricho e seriedade. A faixa transborda de elementos indeléveis da banda (romantismo, tensão crescente, duelos vocais de Lucas e o baixista Rodrigo Tavares), mas é o mais perto que se tem de um hit no disco, porque é equilibrada na medida: ao mesmo tempo em que entrega o que esperam os fãs, acerta em cheio na veia pop. Se o review fosse baseado só nessa música, dava para dizer que o Fresno atingiu o objetivo.

Em “Esteja Aqui”, ressurge o Fresno que os fãs adoram, em meio a guitarras espertas e teclados bem colocados. Um fator que conta pontos para o grupo é a honestidade: não há dúvidas de que eles creem nas músicas e nas mensagens que transmitem. A missão é cumprida também pelo fato de a maioria das letras ser escrita em primeira pessoa – Lucas proclama os versos como se já tivesse sofrido na pele os percalços que relata. É claro, para quem possui uma imagem predefinida sobre a banda, tudo soa como choramingo “emo”, seja lá o que isso signifique. Mas há menos lamentos, como se não houvesse mais do que se queixar (ou como se estivessem mais hábeis para lidar com questões da maturidade). E há espaço para mais sensações em meio ao açúcar.

Em “Die Lüge” (em alemão, “a mentira”), Lucas rosna “Seu mundo é uma mentira, que você mesmo inventou”, pondo o dedo na cara de alguém que, imagina-se, o magoou pra valer. “Relato de um Homem de Bom Coração” tem jeito de banda vivida: a dança de sintetizadores se mostra agora obrigatória na busca pela sonoridade mais moderna. “Nesse Lugar” e “Eu Sei” são típicas do cancioneiro Fresno, mas são acessíveis – a gritaria do emocore, felizmente, ficou para trás. A experiência como publicitário tornou Lucas apto a compor em qualquer nível de sofisticação, tal qual em “Quando Crescer”, movida a piano e cordas gravadas em Nashville. A variação entre calmaria e peso que permeia o álbum foi provavelmente pensada com o intuito de exibir virtuosismo, como se eles ainda precisassem provar que são músicos de verdade e não estão nessa só para pegar as mocinhas. O resultado dessa mistura é um disco diversificado, que proporciona tantas chances para se bater cabeça quanto para se emocionar. E, acima de tudo, pode atrair um ouvinte que jamais admitiria levar o Fresno a sério.

Revanche mostra uma banda madura,mais à vontade com seus instrumentos e com objetivos muito bem definidos. O Brasil não tem bandas de rock que agradam homens e mulheres na mesma proporção, e o Fresno bem poderia preencher essa lacuna. Dificilmente os detratores darão chances ao desconhecido, mas o grupo realizou sua parte – fez questão de evoluir e fazer diferente. Não são muitos os artistas que conseguem tal proeza.

PABLO MIYAZAWA