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High Hopes

Bruce Springsteen

DAVID FRICKE Publicado em 14/02/2014, às 22h03 - Atualizado às 22h15

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Bruce Springsteen
Bruce Springsteen

High Hopes, o 18º álbum da carreira de Bruce Springsteen, é o retrato de um artista no topo de sua capacidade em pleno século 21: a voz triunfante dele passa por temas urgentes e familiares, como a crise norte-americana, a luta pessoal e a batalha diária em busca de algum tipo de união. High Hopes é um olhar profundo sobre a década passada de Springsteen, só que com um afiado viés para a frente. O trabalho é um apanhado de coisas antigas e emprestadas de outras fontes, mas tudo parece renovado. É algo retrospectivo, mas com pegada.

O disco parece com os épicos set lists dos shows de Bruce Springsteen: as canções podem surpreender, mas têm uma razão de estar lá. High Hopes é constituído de covers, ideias que não foram aproveitadas nos recentes álbuns e também traz a revisão de algumas faixas. Parte do álbum é formada de material rejeitado da época de The Rising (2002). É difícil imaginar como canções tão boas como a festiva “Frankie Fell in Love” e a suplicante “Down in the Hole” tenham ficado de fora dos discos oficiais do músico. Mas talvez isso tenha sido até melhor: Springsteen recondiciona essas canções com o poderio folk/soul/gospel da atual formação da E Street Band.

Em “Harry’s Place”, o recente recruta Tom Morello cobre o saxofone do falecido Clarence Clemons, tocando como se sua guitarra fosse uma serra elétrica. Springsteen revisita duas canções antigas com resultados dramáticos: a acústica canção-título de The Ghost of Tom Joad (1995) e “American Skin (41 Shots)”, a resposta dele ao assassinato de Amadou Diallo pela polícia de Nova York, em 1999. Morello já tinha colocado eletricidade em um cover de “Tom Joad” com o Rage Against the Machine no álbum Renegades; na nova versão, ele é o responsável por trazer à faixa uma produção trovejante no estilo de Phil Spector. Springsteen dá a Morello um verso para ele cantar, acrescentando uma tensão estridente e jovial à sua própria fúria. O solo de guitarra é penetrante, mas em tom de elegia, colocando um novo ponto de exclamação a esse justo pedido de vingança. Morello também é destaque em “American Skin”, mas a versão em High Hopes é um triunfo de Springsteen como bandleader – esculpindo a força do som que apresenta ao vivo nas texturas presentes em estúdio e também usando manchetes de jornal para construir a letra. Para isso, ele se inspira no assassinato do jovem Trayvon Martin, na espionagem do governo norte-americano feita em cima das pessoas comuns e no efeito chocante dos assassinatos ocorridos nas escolas nos Estados Unidos. Danny Federici, morto em 2008, toca órgão em “The Wall”, um réquiem para um dono de bar de Nova Jersey, um dos antigos mentores de Springsteen. Isso reforça a crença do cantor nas correntes inquebrantáveis de sua banda.

High Hopes começa e termina com covers, a primeira vez em que isso acontece na discografia de Bruce. A canção-título, originalmente um folk do grupo Havalinas, e “Dream Baby Dream”, da banda protopunk Suicides, são mantras para lutadores e se ajustam ao cantor como combalidas luvas de boxe, veteranas de inúmeras batalhas. Em “Dream Baby Dream”, que soa como um dolorido uivo, ele diz: “Me ajude/ me dê força/ Dê a uma alma uma noite de sono sem medo”. São as palavras de um sujeito que vem fazendo isso há muito tempo e já está cansado de pedir as coisas na boa.

Fonte: Sony