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Libido

Autoramas

José Flávio Júnior Publicado em 08/07/2018, às 12h41 - Atualizado às 12h42

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Autoramas - Libido
Autoramas - Libido

Tirando Rogério Skylab, que tem o costume de alfinetar o Autoramas sempre que a banda anuncia uma turnê, todo mundo que acompanha a cena alternativa tem respeito pela trupe. O cantor e guitarrista Gabriel Thomaz, que surgiu com o Little Quail & The Mad Birds na década de 1990, lidera o grupo há exatos 20 anos, e tinha em mente um ano comemorativo mais confortável, talvez com projeto novo incentivado por alguma empresa. Mas com ou sem mecenas, com ou sem coleguinhas polemizando no esgoto da internet, já aprendemos que nada pode parar o Autoramas.

Os artistas que encontramos em Libido, sétimo álbum de estúdio, são diferentes daqueles que defenderam O Futuro dos Autoramas (2016). Permaneceram no quarteto Gabriel e sua esposa, Érika Martins. A mudança, no entanto, não interfere na sonoridade típica da banda. Se os integrantes foram trocados de tempos em tempos, o rock garageiro e dançante, com baixo distorcido e contraposição de vocais masculinos e femininos, nunca deixou de imperar. O que marca Libido é o alto número de canções em inglês, algo que pode gerar impacto positivo nos mercados gringos que a banda conquistou (um selo alemão é parceiro no lançamento).

A investida no idioma, no entanto, não obscurece as composições em português, a começar por “Homem Clichê”, na qual Gabriel exercita sua verve de crítico mordaz da sociedade e seus moldes. Ironizar “vencedores”, caçoar de idiotas e insinuar revides está entre as coisas que ele faz de melhor nas letras, mesmo quando isso não aparece na primeira leitura. “Coisa pra Caramba pra Fazer”, o destaque da nova safra, encaixa-se bem no caso. É uma exaltação a quem está sempre produzindo, com a agenda cheia, mas igualmente funciona como uma cotovelada na cara de quem não tem o mesmo pique ou vocação para ralar.

“Para o Alto e Avante” é o Autoramas mais dócil, amigo das companhias aéreas que tanto transportam o grupo pra lá e pra cá. Ainda que mais envenenada, “Eu Sei mas Eu Não Sei” também representa essa faceta naïve. Editada originalmente há 40 anos como “I Know but I Don’t Know”, no encerramento do lado A do terceiro álbum do Blondie (Parellel Lines, 1978), a faixa ganhou versão brasileira no LP de estreia da Gang 90 e as Absurdettes, em 1983. E é exatamente essa adaptação feita por Julio Barroso que a banda recuperou, explicitando que seu arco roqueiro de influências vai de ícones dos anos 1960 e 1970 até a new wave oitentista.

Em algumas das pedradas em inglês, Gabriel divide a autoria com o paulistano Julio Mairena (Apolonio/BBGG), como é o caso de “Stressed Out”, escolhida para ganhar videoclipe e ilustrar esse momento anglófilo do Autoramas. Mesmo se gravasse em aramaico, porém, o grupo não perderia sua essência. Passam febres, passam polêmicas, mas certas coisas seguem sólidas como uma rocha.

Fonte: Hearts Bleed Blue/ Soundflat Records