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The Moon 1111

Deck Disc

PEDRO HENRIQUE ARAÚJO Publicado em 14/11/2012, às 19h39 - Atualizado às 19h58

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Otto - Divulgação
Otto - Divulgação

Caótico caldeirão do pernambucano junta cinema, brega e números cabalistas

Pornográfico, denso, intenso, desordenado, despretensioso. Otto é um pouco de tudo isso e ainda outros tantos sentimentos e alusões que às vezes nem cabem dentro dele. Aos 44, sem pudor, canta os desamores, as noites de sexo, os orixás e as delícias da vida com energia e devoção. Depois do surpreendente Certa Manhã Acordei de Sonhos Intranquilos, um álbum sem auxílio de gravadoras e entregue discretamente depois de cinco anos de hiato, ele cumpre as expectativas com The Moon 1111, um caldeirão fervilhante das mais variadas referências. O cantor até tatuou na mão direita o nome do álbum muito antes de lançar a obra. The Moon vem de uma cena de Fahrenheit 451, de François Truff aut, e o 1111 pode ser explicado, de forma simples e pouco aprofundada, como uma teoria contemporânea relacionada à sincronicidade ou até à ligação com nossa essência divina. Se você estiver lendo agora e constatar no relógio que são 11:11, é melhor ficar atento. Otto é hoje o exemplo vivo do verso cantado por Tom Zé em 1976, no disco Estudando o Samba”. “Tô te explicando pra te confundir. Tô te confundindo pra te esclarecer.” Ele não explica, não traduz. Ele é assim, o caos.

O abre-alas de seu quinto álbum de inéditas remete à fase mais inquieta de Odair José, no disco O Filho de José e Maria, de 1977. Os gritos e declamações de “Dia Claro” são tão histéricos e intensos quanto o discurso acalorado em direção ao sacristão da paróquia na música “O Casamento”, que, segundo boatos da época, quase rendeu a excomunhão da Igreja Católica a Odair. Não por acaso, a terceira faixa é uma versão fidelíssima de “Noite mais Linda do Mundo”, gravada originalmente por Odair em 1974, no disco Lembranças.

Produzido por Pupillo, baterista da Nação Zumbi que toca o instrumento em praticamente todas as faixas, o disco conta com uma banda formada por um time de primeira linha. Kassin, Fernando Catatau, Regis Damasceno, Dengue e o feiticeiro dos estúdios Lincoln Olivetti, que traz um brilho especial à direta e sexual “DP” e também à bonitinha “Ela Falava”, que tem a surpreendente participação da atriz Tainá Müller. Além dela, participam também o cantor Fábio Trummer, da banda Eddie, Luê Soares, o grupo Balé Afro Magê Molê e Lirinha, ex-vocalista do extinto Cordel do Fogo Encantado. Juntos compartilham “O Que Dirá o Mundo”, que tem um belo arranjo de cordas misturado a batidas eletrônicas.

Dá para perceber um pouco de Fela Kuti nos encartes e nas percussões de terreiro comandadas por Toca Ogan. As guitarras à la Pink Floyd são de Fernando Catatau. O teclado, meio Jovem Guarda, e deliciosamente brega, fica a cargo de Lincoln Olivetti. Todos esses ingredientes foram cruciais para que The Moon 1111 não passe despercebido até pelos ouvidos menos atentos. Mas também não são suficientes para sanar a confusão estética que reina no disco. É marginal, pop, popularesco, indecente, simples e rebuscado. É confuso, assim como o pernambucano Otto Maximiliano Pereira de Cordeiro Ferreira. Caótico, eventualmente apelativo e por vezes genial.

Fonte: Deck Disc