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Songs of Innocence

U2

David Fricke Publicado em 16/10/2014, às 16h04 - Atualizado em 17/10/2014, às 11h49

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Songs of Innocence
Songs of Innocence

Ninguém sabe renascer como o U2. E nenhuma banda com tanto tempo de estrada e com conquistas tão fenomenais acredita tão intensamente nisso quanto os irlandeses. Mesmo quando comparado a monumentos como The Joshua Tree (1987) e Achtung Baby (1991), Songs of Innocence, o primeiro trabalho de inéditas do quarteto em cinco anos, é arriscado e dinâmico: são 11 faixas sobre a música como um meio de salvação, apoiando-se na extensa gama sonora que o U2 forjou nestes 30 anos, em meio a investigações sobre o pós-punk pontuadas por timbres eletrônicos e música dançante. “Eu e você somos rock and roll”, grita Bono em “Volcano”, uma canção sobre erupção iminente, que passa o recado através de um baixo distorcido e estridente. A música é reforçada por efeitos que soam como vindos de outro planeta e pelos disparos vintage das guitarras de The Edge. Para o U2, o rock é o trabalho de uma vida – e este trabalho nunca acaba.

Songs of Innocence ganhou o mesmo título da coleção de poemas escritos por William Blake em 1789 sobre o grande período de descobertas do ser humano: a infância. Depois de décadas procurando inspiração em fontes diversas – a espiritualidade das raízes da canção norte-americana, a ironia da cena dançante europeia e o legado de figuras históricas de resistência, como Martin Luther King Jr. e Nelson Mandela –, Bono, The Edge, o baixista Adam Clayton e o baterista Larry Mullen Jr. novamente se metamorfoseiam: agora, com um salto em direção ao passado,ao tempo em que ainda eram garotos rumo a uma maturidade incerta.

As letras de Bono acertam o alvo quando tratam de coisas específicas. Em “Cedarwood Road”, que tem o mesmo nome de uma rua onde ele morou, ele se lembra dos temores e angústias que o levaram até o caminho da música. “Raised by Wolves” fala de carnificina real – é um retrato dos atentados em Dublin na década de 1970. Em “Iris (Hold Me Close)”, cuja mensagem é uma mistura de carinho e ansiedade desesperada, Bono canta para a mãe, que morreu quando ele tinha 14 anos.

Para o U2 – e para Bono, em particular –, o primeiro passo para deixarDublin para trás era o som de uma voz. Em “The Miracle (of Joey Ramone)”, a faixa que abre o disco, ele faz um tributo à cena punk de Nova York e particularmente a Joey Ramone, o vocalista dos Ramones. Essa homenagem ao herói improvável é exemplar: uma batida com sabor do T. Rex conduz uma melodia tão açucarada quanto uma gravação do trio feminino The Ronettes. O U2 também lança um pensamento ao The Clash em “This Is Where You Can Reach Me Now”, dedicada a Joe Strummer. Há ainda uma ode explícita aos Beach Boys em “California (There Is No End to Love)”, uma utopia longe da chuva e da desolação de Dublin.

Songs of Innocence abriga os pontos que mais costumam se destacar dentro do rock and roll: inquietação adolescente, perdas traumáticas e revelações escondidas entre acordes e refrãos. Mas o álbum marca a primeira vez em que o U2 conta suas próprias histórias de uma forma tão direta, colocando nessas canções todo o poder que os músicos acumularam como compositores e mestres do estúdio. “Cada onda que quebra na praia diz à seguinte que outras ainda virão”, Bono canta em “Every Breaking Wave”. E “The Miracle (of Joey Ramone)” vem com um apelo para os sonhadores solitários que ouviram Rocket to Russia (Ramones), Give ’Em Enough Rope (The Clash) ou alguns dos álbuns clássicos do U2 e, nesse processo, tiveram a vida transformada. “Nós escutamos vocês”, Bono jura. “Suas vozes serão ouvidas.”

Fonte: Universal