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No Buraco

Redação Publicado em 15/10/2010, às 12h34 - Atualizado às 12h49

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Divulgação
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Tony Bellotto

Companhia das Letras

Crônicas da Decadência

Guitarrista do grupo Titãs narra história de um roqueiro em maré baixa

Esqueça as complexas tramas policiais e o suspense iminente que fizeram a fama do Tony Bellotto escritor com a trilogia Bellini (1995, 1997, 2005). Mas, se você gosta do protagonista desses livros, aquele tipo canastrão que enxerga um viés sexual em tudo e não tem medo de assumir os próprios defeitos, vai se deliciar com No Buraco, primeiro romance adulto do guitarrista dos Titãs a se passar longe dos distritos policiais. Desta vez, o protagonista é Teo Zanquis, ex-guitarrista de uma banda de um hit só dos anos 80, que, nos tempos atuais, amarga uma longa e contínua derrocada, sozinho ou na companhia de Lien, sua namoradinha de 19 anos. De suas memórias oitentistas saem as cenas mais engraçadas, já que o protagonista olha para aquele “período trágico” sem o menor saudosismo. E dá-lhe referências pop. Seu sarcasmo é ainda mais afiado do que o de Bellini, e o autor se permite ser mais descritivo quanto aos detalhes sexuais. Mas No Buraco não se resume a um livro de humor, e o drama do derrotado convence. O vocabulário do autor é totalmente coloquial e admiravelmente preciso, o que o bom ritmo da história e a fluidez da leitura.

Entrevista Tony Bellotto

O livro trata de um guitarrista de rock decadente. Tirando a parte do sucesso, o quanto de Teo Zanquis é autobiográfico?

O Teo Zanquis tem muita coisa minha. E não é só uma projeção tipo “Tony versão fracassada”. Por mais sucesso que você faça, o fracasso é sempre uma sombra constante, ameaçadora e instrutiva. Ninguém está satisfeito com o que tem. Para mim, a questão principal desse personagem não é nem o fato de ele ser um guitarrista, fracassado ou não. É o fato de ser um homem que completa 50 anos e se depara pela primeira vez com a finitude da vida. E nisso eu e o Teo somos a mesmíssima pessoa.

No livro, você se refere aos anos 80 como um período trágico para a nossa cultura. Algum arrependimento, do ponto de vista artístico?

Olha, essa é uma visão do Teo Zanquis, que, como você já percebeu, é um sujeito extremamente recalcado e ressentido. Há algo de desdém nessa visão. Apesar de concordar com o Teo que alguns figurinos e cortes de cabelo dos anos 80 eram pavorosos, vejo muita qualidade em vários trabalhos da época, como o de bandas como a minha, Titãs, Paralamas, Legião, Blitz, artistas como Lulu Santos etc. Por outro lado, devo concordar com Teo Zanquis quando ele diz que as bandas brasileiras da época copiavam deslavadamente as estrangeiras...

O quanto das memórias de Teo são baseadas nas suas experiências?

Quase tudo que está no livro. Não quer dizer que eu tenha vivido tudo aquilo ipsis litteris. O grande fascínio da ficção é justamente poder alterar e distorcer a realidade à vontade. Descrevo situações que vivi, muitas que presenciei, algumas de que ouvi falar e outras coisas eu simplesmente inventei, claro.

Carlos Messias