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Do quintal ao Brasil: a celebração do cenário brasileiro independente em um EP exuberante; conheça o Lagunitas De Quintal [ENTREVISTA]

Beeshop (projeto de Lucas Silveira), Ana Cañas, Raquel, Jadsa, Dead Fish e Sugar Kane protagonizam as seis faixas que compõem o EP De Quintal

Isabela Guiduci Publicado em 25/10/2021, às 11h00

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Chuck, Capilé e Jadsa (Foto: Murilo Amancio) | Ana Cañas (Foto: Vitor Peracetta) | Lucas Silveira (Foto: Vitor Peracetta)
Chuck, Capilé e Jadsa (Foto: Murilo Amancio) | Ana Cañas (Foto: Vitor Peracetta) | Lucas Silveira (Foto: Vitor Peracetta)

Celebrar o cenário independente da música brasileira - do rock ao pop - de um modo intimista e original é a proposta do Lagunitas De Quintal. O projeto musical da cervejaria busca movimentar os holofotes da cena nacional em um EP que promete emocionar e arrepiar com a potência das produções e composições. 

Como sugere o nome, o De Quintal foi criado e gravado em um espaço que remete ao quintal, reforçando a ideia intimista e caseira do projeto. O EP soa como um frescor exuberante à cena nacional em um mundo que, gradualmente, busca encontrar a nova realidade pós-pandêmica; e o disco chega para lembrar os múltiplos significados da música nacional.

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Seis nomes foram escolhidos para protagonizar as faixas que compõem o EP - sendo duas releituras e quatro canções inéditas. Os artistas responsáveis por representar o cenário independente nesse projeto são Ana Cañas, Beeshop (Lucas Silveira), Sugar Kane, Dead Fish, Raquel (Ex-As Baías) e Jadsa

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Raquel (Foto: Vitor Peracetta)

Para a criação, o processo não poderia ser diferente; tudo aconteceu em uma réplica de um quintal, preparado pela Lagunitas. Localizado no Estúdio Forno, em São Paulo, o espaço recebeu os músicos ao longo de dez dias de gravação; seguindo, claro, todas as recomendações previstas pela Organização Mundial da Saúde (OMS). 

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A Rolling Stone Brasil foi convidada para acompanhar o processo de gravação de Lucas Silveira (aqui como Beeshop), conduzida também pelos produtores Chuck Hipolitho e Alexandre Capilé, sócios do Estúdio Costella. A partir disso, a RS Brasil pôde compreender a proposta do Lagunitas de Quintal - e a deliciosa ideia da cervejaria em lançar um projeto ousado e expressivo como esse. 

Por que o Quintal?

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Sugar Kane (Foto: Vitor Peracetta)

O quintal de casa, seja o próprio, de algum familiar ou conhecido, pode ser um espaço surpreendente de criação e ideias fabulosas. Bandas de garagem, artistas de porão, escritores de quarto; os espaços caseiros têm potencial para abrigar o início de uma história memorável. Com a Lagunitas foi assim - e o fundador Tony Magee não pensou pequeno desde o início em 1993, como contou Lucas Pires Barbosa, gerente de marketing da marca no Brasil.

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Apaixonado por cachorros, cerveja e música, Magee apostou na criação do produto artesanal no quintal de casa na Califórnia, Estados Unidos. O criador quis encontrar uma maneira de unir todas as paixões em uma cervejaria. Por essa razão, a marca nasce com o objetivo de também se conectar com artistas independentes.

O Lagunitas de Quintal, feito e pensado pela Lagunitas Brasil, simboliza essa potente relação entre a cervejaria e a cena independente. "Meio que a missão de Lagunitas com a música independente é dar palco para essas bandas que talvez não teriam esses lugares. Esse é um trabalho que vem sendo feito desde o começo da marca e [...] aqui no Brasil estamos tentando continuar da melhor maneira possível," explicou Barbosa

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Os artistas foram escolhidos significativamente para relembrar a força desse cenário em solo nacional. Afinal, estamos falando de nomes consagrados como Ana Cañas, Beeshop (Lucas Silveira), Sugar Kane e Dead Fish; além de icônicos expoentes da cena atual com as representantes Raquel (Ex-As Baías) e Jadsa.

"Conseguimos reunir bandas [e artistas] que são de extrema referências nas próprias cenas. [...] Reunimos vários núcleos das cenas independentes em um disco só. Existem muito mais núcleos, mas nesse, temos seis e isso é fantástico para gente," afirmou ainda Pires Barbosa.

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O projeto 

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Chuck Hipolitho, Lucas Silveira e Alexandre Capilé (Foto: Vitor Peracetta)

Em meio aos sons da rua e canto dos pássaros, o quintal da Lagunitas ressoa com as músicas apresentadas e ideias discutidas ali. O espaço transborda um aspecto caseiro com um chão quadriculado e um sofá laranja recheado de almofadas. Da estética à criação: cada faixa ganhou uma essência natural.

O vocalista da Fresno e autor do projeto Beeshop, Lucas Silveira, e os produtores Chuck Hipolitho e Alexandre Capilé (Capilé também é integrante do Sugar Kane) refletiram em roda de conversa no quintal da Lagunitas sobre cenário independente, streaming e a proposta autêntica do EP De Quintal.

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"O projeto, antes de tudo, é uma vontade de ajudar uma cena e alguns artistas; é mostrar que podemos voltar a fazer e falar sobre um tipo de coisa depois de um tempo que ficamos isolados e sozinhos. Nosso mercado foi demolido por causa da pandemia. Mas, ao mesmo tempo, instigou a criatividade como ser quem você é nas redes sociais," afirmou Chuck.

Ele acrescentou: "Eu estava [hoje] botando o microfone na bateria aqui e falando: 'Nossa não acredito que estou escolhendo onde é que vai ficar o microfone para tirar um som.' Isso é um negócio que não fazemos há muito tempo, que eu estava há muito tempo sem fazer. É uma oportunidade de juntar essa galera, ouvir essas composições que entram no disco e ainda poder explorar um quintal para gravar."

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Segundo Lucas Silveira contou, ele teve a oportunidade de conhecer a sede da fábrica da cervejaria nos Estados Unidos e entender a conexão da marca com o cenário independente: "Historicamente, a Lagunitas pela região que é, pelos artistas com quem se envolve. Fui para lá e os caras me contaram toda a história - eles têm um órgão na fábrica. […] É uma ligação com música que não é patrocinar," disse. 

Chuck pontuou sobre a relação da marca, fundada em casa, com as bandas e artistas que vêm de espaços caseiros: "Para a gente, é como você vir da garagem. Você produzir cerveja no quintal é como você ser uma banda que veio da garagem." Lucas Silveira completou: "[A Lagunitas] É independente de uma certa maneira, apesar de ser enorme no Brasil hoje."

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"Se você veio da garagem, se você veio do quintal e você chegou em algum lugar, você tem autenticidade. Isso é uma coisa que você não consegue comprar, e acho que a Lagunitas se identifica com isso," acrescentou Chuck.

Ainda, Capilé falou sobre a oportunidade de colaboração entre os artistas a partir do projeto De Quintal: "Proporciona encontros que talvez se não tivesse a marca proporcionando, talvez não rolaria […] Querendo ou não, isso também cria para você uma autoestima de: 'Que legal, tudo que eu fiz valeu a pena'."

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A importância do cenário independente e a crescente do streaming

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Dead Fish (Foto: Vitor Peracetta)

É inegável como o streaming mudou o consumo da música a partir da facilidade de conectar artistas, reproduzir canções, encontrar novas bandas, entre muitas outras oportunidades e desdobramentos. Consequentemente, o cenário independente também passou por transformações. 

Para Capilé, "o mercado acabou mudando para um formato que era no começo. Singles voltaram a ter valor como era nos anos 1960. Você só vai lançar um disco se você bombar o single. Era um negócio assim."

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Enquanto isso, Lucas Silveira ponderou: "Possibilitou que eu ouvisse coisas que eu jamais conseguiria entrar em contato. Claro que estou dependendo de uma inteligência artificial - e ela sabe que ouvi duas músicas do The Strokes inteiras, então [o streaming] vai me mandar dez bandas tipo essa. Isso é fod* se você parar para pensar. Mas, é muito mais difícil hoje para um artista construir uma relação profunda com o fã."

Chuck também lembrou sobre a facilidade de distribuir a canção ao redor do mundo no próprio dia do lançamento: "Ao mesmo tempo que você pensa que é um mundo louco de possibilidade, é como você soltar um girino em um oceano."

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"Se você está gravando, é música cara. […] Hoje em dia, está mais na mão da galera. [Mas] O artista continua tendo que encontrar um jeito de se conectar com o público e de colocar alguma coisa que é nova, original e diferente. Isso continua igual, eu acho," completou. 


Os bastidores do processo criativo

A Lagunitas Brasil apostou em um processo criativo orgânico, original e intimista, que contou com supervisão de Chuck Hipolitho e Alexandre Capilé, ao replicar o quintal no Estúdio Forno. Os bastidores das gravações do EP podem ser acompanhados no Instagram dos artistas e no da cervejaria.

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Quando sai o De Quintal?

De Quintal chega oficialmente para o público em novembro com releituras de Beeshop e Ana Canãs, e inéditas de Sugar Kane, Dead Fish, Raquel (Ex-As Baías) e Jadsa; o projeto fica disponível em todas as plataformas digitais. A idealização e execução conta também com assinatura da Agência Lema.