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Em 1994, Renato Russo alertava para o risco de ditadura voltar no Brasil

Vocalista da Legião Urbana sempre foi crítico ao período em que o país foi comandado por um regime militar, entre 1964 e 1985

Igor Miranda (@igormirandasite) Publicado em 30/03/2023, às 17h27

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Renato Russo (Reprodução)
Renato Russo (Reprodução)

Entre 1964 e 1985, o Brasil vivenciou a ditadura militar, período em que o Congresso Nacional foi dissolvido e liberdades civis, suprimidas. Embora sua banda - a Legião Urbana - tenha estourado no ano em que o regime foi encerrado, Renato Russo vivenciou boa parte de um dos momentos mais antidemocráticos do país desde a Proclamação da República.

O vocalista, falecido em 1996, manifestou-se de forma contrária à ditadura em vários momentos de sua carreira. Uma delas ocorreu em 1994, dois anos antes de sua morte, durante entrevista à MTV Brasil (transcrição via Whiplash). À época, o cantor promovia o álbum solo The Stonewall Celebration Concert - que, segundo ele, trazia uma mensagem antiautoritarismo.

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“Esse meu disco solo tem uma motivação diferente. É para falar contra o fascismo mesmo. A grande imprensa está vacilando e pisando na bola. Vejo jornais grandes aqui do Rio de Janeiro dando página inteira para fascistas carecas. Os caras dizendo que gostam de dar porrada e ninguém faz nada. Tem nazista em tudo quanto é canto. Em São Paulo, tem esses babaquinhas carecas, que são bichas enrustidas.”

Renato, que era bissexual declarado, definiu os fascistas em questão como “idiotas com ideologia”. Por isso, sentiu-se inspirado a dar uma resposta em seu disco. E, durante a entrevista, reforçou que não gostaria de ver o retorno da ditadura militar - algo que era pedido na época e continua sendo solicitado até hoje, ainda que por uma parcela diminuta da população.

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“Eles são idiotas com ideologia e achei que, para manter minha consciência tranquila, seria legal dar uma resposta a isso. Esse problema ainda existe. Aqui no Brasil, tem gente com esse papo de que os militares precisam voltar. Imagina! Isso aconteceu há menos de 10 anos. Esse povo esqueceu já? Nós esquecemos como é ruim não ter liberdade?”

Renato Russo em outra fala contra a ditadura

Também em 1994, mas ao lado da Legião Urbana, Renato Russo abordou o mesmo tema em participação no Programa Livre, apresentado por Serginho Groisman no SBT. Um vídeo disponível no YouTube (transcrição via Whiplash) apresenta o momento em que o cantor discursa sobre a música “1965 (Duas Tribos)”, que faz referência ao início da ditadura militar.

“Essa música ‘1965 (Duas Tribos)’ é do disco As Quatro Estações (1989). Nunca vi ninguém falando sobre essa música, mas basicamente ela fala sobre um momento no nosso país que de repente fechou tudo. Acho sempre importante lembrar que hoje a situação pode estar difícil para caramba, mas temos uma coisa muito preciosa, que é a liberdade. Eu posso vir aqui cantar. Vocês podem vir aqui e fazer as perguntas que vocês quiserem.”

De acordo com Renato, até pouco tempo atrás, “dependendo das ideias que seu pai ou irmão tivessem, poderia bater gente na sua casa”. O artista faz menção à medida autorizando policiais a prender pessoas que considerassem suspeitas e impedir revisão na Justiça.

“Eles iam pegar essa pessoa e você nunca mais ia saber o que tinha acontecido. Não se fala nisso. É algo perigoso falar ‘éramos felizes naquela época’. Não me lembro de ser feliz naquela época. Fazer redação dizendo que o presidente é maravilhoso, quando de repente muito tempo depois descobrimos que pessoas estavam sendo mortas em nome de uma grande coisa que não se sabe o que é. Acho isso péssimo. A música fala especificamente de tortura e dessa ideia do Brasil ser o país do futuro.”