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Lorde contempla o verão (e a vida) em Solar Power [REVIEW]

Com acordes radiantes e melodias nostálgicas, Lorde reflete sobre envelhecimento do corpo e do planeta em Solar Power, terceiro disco da carreira

Julia Harumi Morita Publicado em 20/08/2021, às 08h33 - Atualizado às 09h20

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Lorde na capa de Solar Power (Foto: Reprodução /Twitter)
Lorde na capa de Solar Power (Foto: Reprodução /Twitter)

Solar Powernão era o disco que muitos - incluindo a autora deste texto - esperavam de Lorde. Talvez, nem a própria cantora conseguisse prever a feitura deste terceiro álbum há oito anos, quando estreou com Pure Heroine (2013). Mas os tempos não são os mesmos, assim como a artista neozelandesa, que nos convida a contemplar o verão (e a vida) ao lado dela.

Quando lançou o primeiro disco de estúdio, Lorde preferia "morrer" a colocar violões e relembrar a sonoridade dos meados dos anos 2000 nas composições. De forma quase irônica, o primeiro single, "Solar Power," nos embala em acordes radiantes e melodias nostálgicas - as quais renderam comparações com "Freedom 90," de George Michael, e "Loaded," do Primal Scream.

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"Esqueça todas as lágrimas você chorou /Acabou (acabou, acabou, acabou) /É um novo estado de espírito /Você vem, baby?," canta Lorde de forma leve e descontraída, tom usado em todas as 12 faixas do novo projeto, produzido pela artista junto com o parceiro de longa data Jack Antonoff e Malay.

"Solar Power" inspirou teorias sobre o grande conceito do disco. Após Lorde revelar que foi influenciada pela viagem dela para Antártida, uma fã viralizou no TikTok ao teorizar sobre a faixa-título, a qual poderia ser uma espécie de distração para um disco cheio de críticas sobre as mudanças climáticas - até mesmo a participação de Clairo e Phoebe Bridgers seria apenas um entretenimento.

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Além de Lorde, a prodígio que derrubou o pop extravagante com um hit minimalista sobre jovens distantes da realeza e deu voz aos melodramas joviais com uma precisão dolorosamente satisfatória, quem poderia trazer tal complexidade para o pop?

Bem, a própria ascensão de Lorde abriu as portas para outras artistas jovens, como Billie Eilish e Olivia Rodrigo, as quais também quebraram expectativas da indústria da música e conquistaram o mundo pop quase da noite para o dia.

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"Se você está procurando por um salvador, bem, não sou eu /Você precisa de alguém para sentir sua dor por você?," desabafa Lorde na primeira faixa de Solar Power, "The Path." Desta vez, a cantora não busca hits comerciais capazes de definir uma geração.

Aos 24 anos, Lorde aproveita a vida longe das redes sociais, movida pela "Arte De Não Fazer Nada," de Jenny Odell, e o aforismo de Annie Dillard: "Como passamos o dia é como passamos nossas vidas."

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De fato, a artista se inspirou na natureza para criar Solar Power, mas não da forma que esperávamos. A vida crua da Antártida a levou a canalizar a energia do meio ambiente em "histórias de amor" sobre o clima, como apontou ao The Guardian. Na mesma entrevista, a cantora enfatiza que não é uma ativista ambiental, mas uma estrela pop.

O verão da Nova Zelândia é homenageado com instrumentais serenos, dedilhados abstraídos, sons das ondas do mar e das cigarras. As mudanças climáticas aparecem em questionamentos e comentários ácidos.

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“Como posso amar o que sei que vou perder?,” contesta Lorde. Algumas faixas depois, a artista usa "protetor solar fator 3000 para os raios ultravioleta” enquanto espera o líder do novo regime.

As histórias se tornam mais particulares: visões sobre o Met Gala 2016 ("The Path"), sensações antes de subir no palco de mais um festival ("The Man With The Axe"), a despedida de uma vida boêmia (“California”) e o carinho pelo cachorro Pearl, que morreu em 2019 ("Big Star").

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Nem as frases mais vulneráveis soam tristes. Longe do melodrama, Lorde reflete sobre o envelhecimento, algo temido em Pure Heroine (2015). Seu batom escuro acumula poeira na gaveta ("Oceanic Feeling"), as canções que ouvia aos 16 anos estão distantes ("Stoned At The Nail Salon") e a genialidade dela se tornou questionável ("The Man With The Axe").

"Mal podia esperar para fazer quinze anos /Então, você pisca e já se passaram dez anos /Crescendo um pouco de cada vez, então, tudo de uma vez /Todo mundo quer o melhor para você /Mas você tem que querer para si mesmo," canta Lorde antes do charmoso e repetitivo refrão pop de "​​Secrets from a Girl (Who’s Seen it All)."

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As composições exalam tranquilidade e otimismo, os quais nos fazem questionar se a cantora está sendo irônica, autocrítica, reflexiva, esperançosa ou apenas chapada em um salão de beleza.

"E vamos caminhar juntos (vamos caminhar) /Guirlandas psicodélicas em nossos cabelos /Pelos corredores de esplendor nos quais todas as macieiras cresciam /Você vai nos deixar dançando nas frutas caídas," dizem os versos de "Fallen Fruit."

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A quinta faixa do disco se destaca pelas melodias mais melancólicas e sóbrias, além de ser a única música com grande virada instrumental. Como um eclipse solar, o folk de finais de tarde e fogueiras escure por alguns momentos com beats densos, os quais, agora, pertencem ao passado da cantora.

Solar Powernão é o disco que idealizamos, mas ainda nos atrai com versos sinestésicos e as harmonias vocais etéreas. Após o meteórico Pure Heroine e o taciturno Melodrama, a artista reconstrói a sonoridade, a estética e a filosofia dela. Se a nova era é transitória ou permanente, não sabemos. Enquanto a elucidação não chega, é melhor separarmos os óculos de sol e o protetor solar para contemplar os dias, o verão e a vida ao lado de Lorde.

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