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Pineapple no auge: independente e de alta qualidade, a gravadora de Paulo Alvarez deixa marca no rap nacional [ENTREVISTA]

Com projetos como Poesia Acústica e Poetas no Topo, a Pineapple é considerada a maior gravadora de rap nacional da atualidade

Camila Millan Publicado em 14/08/2021, às 16h00

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Ryan SP, Lourena, Xamã, Azzy, Mc Poze, Cynthia Luz, L7NNON e CHRIS no Poesia Acústica 11 (Foto: Felipe Alberto)
Ryan SP, Lourena, Xamã, Azzy, Mc Poze, Cynthia Luz, L7NNON e CHRIS no Poesia Acústica 11 (Foto: Felipe Alberto)

Em uma indústria musical repleta de empresas estabelecidas, algumas gravadoras independentes crescem de forma orgânica, alcançando popularidade e números impressionantes pela qualidade do som, artistas e iniciativas. Um grande exemplo é a Pineapple, responsável por importantes projetos como Poesia Acústica e Poetas no Topo.

Atualmente considerada a maior gravadora de rap do Brasil, a Pineapple StormTV é uma parceria da marca Pineapple, de Paulo Alvarez, e o Brainstorm Estúdio, de Lucas Malak. Inicialmente marca de roupa, a empresa se expandiu quando Alvarez resolveu trabalhar com um dos assuntos o qual mais o representa: a música.

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Paulo Alvarez (Foto: Divulgação)

Ao se envolver nos trabalhos do rapper Froid, percebeu a necessidade de trabalhar com o rap. A Pineapple, além de ser uma realização pessoal, tornou-se uma empresa importante para o cenário nacional do gênero musical. “Ela representa um marco na cena do rap como uma das primeiras produtoras a tomar uma proporção muito grande totalmente independente,” explicou Paulo Alvarez em entrevista à Rolling Stone Brasil.

Para o fundador da gravadora, a empresa representa uma “nova guinada do rap” de uma geração a partir de 2015, principalmente pela relevância histórica dos projetos. Poetas no Topo, por exemplo, ajudou na popularidade de rappers conhecidos atualmente, como Djonga, Delacruz e mais.

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Alvarez comentou sobre a relevância da gravadora: "Ela deixa um legado na carreira dos próprios artistas, da participação nos projetos da Pineapple, porque é um canal tão grande, com projetos que conseguem alcançar muitas pessoas. Para um artista novo é uma consolidação, um patamar que ele alcançou, como 'meu som chegou na Pineapple.'"

Projetos da Pineapple: de Favela Vive a Poesia Acústica

Tudo começou com o Favela Vive, em 2016, quando ainda era apenas a Pinneaple. Em 2018, o Poetas no Topo veio para concretizar a empresa de Alvarez, em parceria com o BrainstormTv, e lançar diversos artistas.

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A popularidade, contudo, veio principalmente com o Poesia Acústica. O projeto reúne diversos artistas, dos consolidados aos estreantes, para compor músicas no famoso formato do rap acústico. Apostando nas líricas marcantes, diversidade do público e parcerias entre músicos, a proposta foi um sucesso.

Atualmente, Poesia Acústica é o grande sucesso da Pineapple StormTv, com mais de três bilhões de visualizações no YouTube números impressionantes nos streamings. De fato, é um case de sucesso — e Alvarez nunca imaginou o contrário.

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“Tinha muita confiança em basicamente tudo que eu lançava no canal, mas até quando a gente lançou mesmo não foi um estouro,” revelou  Alvarez. Segundo o fundador, após a segunda música do Poesia Acústica ser vazada e o lançamento feito às pressas, a popularidade do projeto engatou:

“Passou um mês começou a bater cem mil [visualizações] por dia, duzentos, trezentos, quatrocentos, quinhentos até chegar no começo de 2018 mais de um milhão por dia. O Poesia 3 não deu outra, saiu estourando. No 4º lançamento ousamos mais com um reggae com MV Bill, Froid, Delacruz, Djonga… E a música era muito boa… Tínhamos certeza que o projeto tinha estourado,” relembrou o fundador da gravadora.

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O projeto dialoga sonoridades, estéticas e artistas — e realmente não poderia dar errado. Como a proposta identitária sugere, a mistura lírica e sonora possibilita uma música “para todos os gostos”: do funk e rap ao reggae e pop.

“É um projeto musical que se estabeleceu no subconsciente de milhões de pessoas, virou algo como especial do Roberto Carlos… Todo mundo sabe que vai ter. Não tem como pensar ‘ah, vai durar muito?’ Já passou, o Poesia acústica já ficou e acho que ainda tem muito para onde crescer porque é uma música que pode ser absorvida pela maior parte das pessoas pela sonoridade e lírica, são assuntos que todo mundo pode se identificar,” afirmou.

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Alvarez ainda destacou a naturalidade da popularidade do projeto, que faz sucesso de maneira “100% orgânica”: “Não tinha nenhuma forma de publicidade, marketing, ou impulsionamento de publicações.”

Encontro de artistas

A Pineapple StormTv não se resume ao lançamento do Poesia Acústica. Alvarez e Malak estabelecem amizades com os artistas, e possibilitam o diálogo entre músicos experientes e iniciantes em um mesmo canal.

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Conforme relatou Alvarez, a gravadora consegue dialogar entre gerações de ouvintes, artistas e canções, e leva a uma conexão de gêneros musicais: “Sempre é importante fazer esse link para a geração antiga, tanto para dar peso para os trabalhos, como para fazer eles chegarem num público mais jovem. Isso sempre foi a marca da Pineapple, desde os encontros dos MCs.”

O músico Xamã, por exemplo, tem diversas canções produzidas pela gravadora, assim como o já conhecido rapper Chris. Segundo Alvarez, são mais de 12 canções juntos. Mesmo assim, a aposta em novos rostos continua, como é o caso de Cesar.

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Capixaba, Cesar Mc prepara, pela Pineapple, o lançamento do disco de estreia Dai a Cesar O Que É de Cesar. Com carreira promissora, o artista foi citado por Emicida e lançou o single “Eu Precisava Voltar com a Folhinha” em julho.

Pineapple, pandemia e o futuro 

Antes apenas marca de roupa, atualmente a maior gravadora do cenário do rap nacional. Ao longo da trajetória, a Pineapple não deixou de lado os ideais — e um deles é o apoio à legalização da maconha. A planta, que está presente no logo da marca, faz parte da identidade da empresa, assim como do posicionamento de Alvarez.

“Nunca vou esconder esse posicionamento, e é natural porque as pessoas veem no nosso logo. A Pineapple sempre faz questão de se posicionar politicamente. Nas redes sociais, temos manifestações políticas e participamos de ações. Em uma semana vendemos mais de cinco mil kits de máscara que rendeu  R$ 30 mil em doação. Antes, também fizemos o Rap contra a Fome, um show para 3 mil pessoas no gueto de Madureira onde o ingresso era cinco reais e dois quilos de alimento,” explicou.

Segundo o fundador, é “muito importante se posicionar, principalmente no momento atual”. Em meio à pandemia de covid-19, a empresa também precisou lidar com o prejuízo decorrente do cancelamento de shows, medidas de restrição de circulação de pessoas e mais. Ser artista com fechamento de casas de show e restrição da circulação não é fácil — e a cena do rap sente a dificuldade.

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“O Chris, por exemplo, estava em uma crescente. Antes da pandemia ele tinha quase 30 shows marcados, mas quando a covid-19 chegou caiu tudo,” revelou Alvarez. Apesar dos problemas a gravadora conseguiu continuar a desenvolver alguns projetos, como o Poesia Acústica.

“Nosso grande desafio foi o Poesia Acústica, que tínhamos planejado para lançar em março, acabamos lançando só no dia nove de julho. O processo durante a pandemia acaba sendo muito mais demorado, não rolou nenhuma reunião no estúdio, foi tudo à distância. Os artistas só se encontraram no dia da filmagem, então sentimos uma grande diferença na realização acústica,” afirmou.

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Apesar das dificuldades, a gravadora conseguiu realizar diversos trabalhos neste período, como o disco do Cesar MC e o Poesia Acústica. O "maior projeto da história empresa", como caracteriza Alvarez, também foi gravado neste período: um disco de Froid, Djonga e BK gravado no Egito. Ele simboliza os cinco anos da empresa — e deve ser lançado em setembro.

Em meio a viagens, discos inesquecíveis, projetos consolidados e novos a caminho, a Pineapple mostra a relevância para o cenário do rap no Brasil. De forma independente, a gravadora eleva o patamar da música nacional com estreias de qualidade e artistas icônicos — e Paulo Alvarez é a força motriz.


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