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14 nomes para 2014

Quem são os personagens dos bastidores que farão toda a diferença nas eleições presidenciais deste ano

ANTONIO BURANI Publicado em 21/02/2014, às 19h39 - Atualizado às 19h56

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14 Nomes para 2014 - Lézio Júnior
14 Nomes para 2014 - Lézio Júnior

O primeiro turno das eleições de 2014 vai acontecer no distante dia 5 de outubro, um domingo. Mas desde já os três principais e prováveis candidatos ao Palácio do Planalto – Dilma Rousseff (PT), Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB) – começam a aparecer cada vez mais na vida dos brasileiros. Depois de um ano trabalhando nos bastidores, finalmente chegou a hora de os partidos colocarem seus blocos na rua.

Para serem competitivos em uma disputa que é travada em dimensões continentais, os presidenciáveis precisam constituir verdadeiros exércitos: marqueteiros, advogados, tesoureiros, assessores, correligionários e cabos eleitorais dividem espaços e agendas com as eminências pardas que operam nas sombras dos holofotes. Para os dois protagonistas da oposição, Neves e Campos, o principal objetivo até julho, quando a campanha começar oficialmente, será tornar-se conhecido nacionalmente.

A tarefa é mais simples para o tucano. Detentor de um mandato de senador que vai até 2018, ele também é presidente nacional do PSDB. Com essas duas credenciais, Aécio Neves tem o “álibi” perfeito para rodar o país em um jatinho fretado pela legenda sem ser acusado de campanha antecipada. Já Eduardo Campos é governador de Pernambuco, por isso os movimentos dele ficarão mais limitados pelo menos até abril, quando deverá se descompatibilizar do cargo. E, certamente, o caso de Dilma Rousseff é o mais confortável. Ela pode rodar o Brasil “institucionalmente” e, dessa forma, garantir presença diária nos jornais televisivos e nas mídias locais. Para além das figuras centrais, quem serão os personagens centrais dessa longa e complexa partida de xadrez que começa agora a ser jogada de fato? Para chegar ao cabalístico número de 14 nomes que mais influenciarão na campanha de 2014, a Rolling Stone Brasil foi a campo e escutou especialistas e políticos dos três lados da disputa. E os eleitos são estes:

LULA

O Bombeiro de Dilma Rousseff

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou em alto e bom som e com todas as letras que não será em hipótese alguma o candidato do PT à Presidência na próxima eleição. Mas mesmo no banco de reservas ele terá mais uma vez um papel decisivo na campanha. Além de ser o principal puxador de votos do petismo, Lula comandará com mão de ferro a campanha à reeleição de sua pupila. “Ele será o personagem mais influente da campanha. Neste momento, está costurando acordos. Ao longo do ano, será o principal articulador político do PT. O poder está todo centralizado nele”, avalia o sociólogo Rudá Ricci, autor do livro Lulismo. Já o cientista político Cláudio Couto, da Fundação Getúlio Vargas, prevê que o ex-presidente terá um duplo papel no pleito. “Ele vai ser um articulador dos bastidores, mas também será o grande publicitário da campanha”, diz. Vale lembrar que nas campanhas estaduais a presença de Lula será disputada nos locais onde houver mais de um candidato da base aliada de Dilma

FHC

O Guia dos Tucanos

Além de ser o principal conselheiro de Aécio Neves e de ter patrocinado o projeto de poder dele, Fernando Henrique Cardoso deverá ser tratado como uma vitrine da campanha em 2014. “Não será uma campanha exclusivamente baseada nele, mas vamos recuperar o legado do ex-presidente. Ele já tem sido muito ouvido e informado de todos os detalhes”, afirma o deputado federal Antônio Carlos Mendes Thame, secretário-geral do PSDB e provável homem forte da campanha de Aécio. Nas três campanhas presidenciais anteriores, FHC foi ignorado ou eclipsado por José Serra e Geraldo Alckmin. A ideia dessa vez é comparar os oitos anos de governo tucano com os 12 da era petista para mostrar que boa parte dos projetos do PSDB foram “plagiados” por Lula e Dilma. Aécio e FHC se aproximaram muito depois da eleição municipal de 2012, quando Serra foi derrotado na capital paulista. Em um jantar no apartamento do ex-presidente, um seleto grupo de tucanos sacramentou a candidatura presidencial de Aécio e deu carta branca para ele rodar o país se apresentando como candidato. Quando Serra se rebelou contra a decisão, FHC foi escalado como “mediador” para evitar uma guerra interna no tucanato.

ALEXANDRE PADILHA

O Xodó da Presidência

Além da eleição presidencial, a principal prioridade de Dilma, Lula e do PT em 2014 será a campanha pelo governo de São Paulo. Em nenhum outro Estado a disputa receberá tanta atenção, uma vez que todos os acordos com os partidos aliados passaram pelo apoio no estado ao candidato escolhido – no caso, Alexandre Padilha, atual ministro da Saúde. Governado pelo PSDB há 20 anos, São Paulo é considerado pelo PT como o último bastião dos tucanos a ser derrubado.

MARINA SILVA

A sombra de Eduardo Campos

A surpreendente ida da ex-senadora e ex-presidenciável Marina Silva para o PSB, partido do pré-candidato Eduardo Campos, obrigou os analistas políticos a reverem suas previsões para 2014. Mais bem posicionada que o governador pernambucano nas pesquisas sobre a disputa presidencial, ela já deixou claro que não tem pretensão de disputar o cargo, mas que não descarta ser candidata a vice. Apesar do desprendimento, acredita-se, entre “marineiros” e “socialistas” do PSB, que ela pode encabeçar a chapa se a campanha de Campos não decolar. Especulações à parte, o fato é que Marina produziu musculatura para a candidatura do PSB, que pode acabar engolindo o projeto de Aécio Neves. “Ela será a inspiradora da chapa e pode ser vice do Campos. E será a responsável pela agenda da radicalização da democracia da sustentabilidade”, afirma o deputado Walter Feldman (PSB-SP). Mas nem tudo é céu de brigadeiro. Como o grupo de Marina irá atuar como uma legenda independente dentro do PSB, os dois grupos podem acabar entrando em guerra, o que seria fatal para a oposição. O grande objetivo de Marina, porém, é usar o PSB como “ônibus” até a criação oficial de sua Rede Sustentabilidade. Quando a sigla for reconhecida pelo TSE, a ideia será agradecer a “força” e levar todos os deputados eleitos pelo partido de Campos.

JOAQUIM BARBOSA

O Inimigo do PT

Presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro Joaquim Barbosa – que foi indicado por Lula – tem sido incluído na maioria das pesquisas de opinião como um possível candidato à Presidência. Apesar de pouco provável, essa hipótese causa calafrios nos petistas. A presença de Barbosa em uma eleição significaria manter vivo o fantasma do mensalão, o que poderia causar prejuízos significativos para candidatos do PT de todo o país. Mesmo se não entrar na disputa, o ministro será o protagonista da última etapa do julgamento do mensalão. “Como ele define a pauta do julgamento, pode optar por uma agenda que influencie a eleição”, diz o advogado Eduardo Nobre, sócio-fundador do Instituto de Direito Político Eleitoral. Barbosa também será decisivo na hora de definir o rumo e a velocidade do julgamento de outro mensalão, o mineiro, que pode causar prejuízos para a campanha de Aécio Neves. Dentro do PT, a cúpula espera que o mensalão deixe de ser notícia durante a eleição, e isso passa pelas decisões relacionadas aos ilustres “detentos”. Barbosa, por sua vez, deve fazer de tudo para limitar ao máximo as atividades e os movimentos de José Dirceu, Delúbio Soares e José Genoino.

JOSÉ ANTONIO TOFFOLI

O Juiz da Vez

Mais jovem ministro do STF, ele assumirá o comando do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em maio, quando substituirá Marco Aurélio Mello, que terá finalizado seus quatro anos na corte. Ex-advogado do PT e ex-militante da legenda no movimento estudantil, Toffoli tem tudo para ser o personagem mais determinante do pleito. No período da pré-campanha, que termina em julho, ele receberá as representações contra casos de propaganda antecipada, que são recorrentes. Se resolver ser rigoroso, poderá até causar problemas para a candidata Dilma, que vestirá o figurino de presidente para fazer inaugurações de obras em cerimônias com aliados em diversos estados. “O Toffoli terá um papel extremamente relevante, já que terá o poder de definir as minúcias eleitorais”, explica o advogado Eduardo Nobre. Os opositores de Dilma, por outro lado, deverão usar a relação histórica do ministro para rebater todas as decisões favoráveis aos petistas e tentar constrangê-lo.

EDSON BARBOSA

O Marqueteiro de Campos

Dono da agência Link, o responsável pelo marketing político do PSB de Eduardo Campos e do governo de Pernambuco é um nome novo no reduzido panteão da publicidade política. Ao lado do sociólogo Antonio Lavareda, que cuidará das pesquisas, Barbosa tem a missão de tornar Campos conhecido além das fronteiras nordestinas. Para Walter Feldman, do PSB, porém, o papel da publicidade será importante, mas não decisivo. “Não podemos mistificar o papel do marqueteiro. A Dilma depende mais deles que o Campos e a Marina, porque não tem carisma e tem dificuldade de se posicionar.” Claudio Couto, da FGV, discorda: “Quem está na Presidência já tem o marketing do próprio governo”.

JOSÉ DIRCEU

O Detento Barulhento

Condenado a dez anos e dez meses no julgamento do mensalão, o ex-ministro deve passar o ano de 2014 dividindo os dias entre a penitenciária da Papuda (Brasília) e um emprego que ele ainda não definiu qual será até o fechamento desta edição. Quando não estiver recolhido no presídio, Dirceu poderá escrever em seu blog, receber políticos e terminar o documentário sobre sua vida, produzido pela cineasta Tatá Amaral. “Mesmo preso, ele será um político em 2014. Será um grande conselheiro”, diz Marco Aurélio Carvalho, coordenador jurídico do PT e amigo de Dirceu. Carvalho reconhece, porém, que Dirceu será usado pelos adversários na campanha. Entre os tucanos, a torcida é para que o ex-ministro tente se defender e fique em evidência. “Seria ótimo para nós que ele aparecesse bastante, mas a Dilma não vai querer isso porque sabe do desgaste. Se ela quisesse, teria dado o indulto a ele”, afirma o deputado Mendes Thame. Se o ex-ministro optar por fazer barulho, encontrará uma legião de petistas dispostos a iniciar uma grande campanha de “denúncia” dos erros do mensalão. Caso isso ocorra, é possível que a agenda da eleição seja contaminada e afete a campanha de Dilma.

RUI FALCÃO

O Operador do Governo

Reeleito presidente nacional do PT com mais de 70% dos votos, o deputado estadual Rui Falcão será o homem forte de Dilma na articulação dos palanques, na formação das alianças e nos acordos durante a campanha. “A eleição dele para comandar o PT até 2018 deu ao Lula ainda mais peso no comando da máquina partidária”, ressalta o sociólogo Rudá Ricci. Caberá também ao dirigente petista o espinhoso papel de “legislar” sobre as marcas “Lula” e “Dilma”: em todo o Brasil, o nome e a imagem do ex-presidente e da atual são considerados “commodities”, e Falcão será o franqueador da utilização dessas marcas. Um caso emblemático é o do Rio de Janeiro, onde pelo menos cinco candidatos a governador da base de Dilma estarão na disputa: Lindbergh Farias (PT), Luiz Pezão (PMDB), Anthony Garotinho (PR), Marcelo Crivella (PRB) e Jandira Feghali (PCdoB). Todos reivindicam usar Lula e Dilma em seus materiais e na propaganda na TV, mas o PT local exige exclusividade.

JOSÉ SERRA

A Sombra de Aécio

O ex-governador de São Paulo insiste em ser o plano B do PSDB na disputa presidencial, e deve fazer de tudo para boicotar o adversário Aécio Neves, mesmo depois que ele for oficializado candidato. A rivalidade entre os dois vem de outros carnavais. Serristas dizem reservadamente que Serra não perdoou o senador mineiro por tê-lo “boicotado” na campanha de 2010, quando Dilma venceu em Minas Gerais. Isolado no PSDB desde que foi derrotado na eleição municipal paulistana de 2012, Serra cogitou mudar de partido para concorrer ao Planalto, mas desistiu da ideia. Os “aecistas” temem, ainda, que Serra dificulte a entrada da campanha nacional tucana em São Paulo. Será a primeira campanha presidencial desde 2002 em que o PSDB não terá um candidato paulista. Uma vez fora do tabuleiro nacional, ele teria duas opções: disputar o Senado ou uma humilde vaga na Câmara dos Deputados. Para os operadores da campanha de Aécio, a previsível má vontade de Serra com a campanha nacional já é um desafio. O mineiro gastou boa parte de 2013 viajando a São Paulo e criando pontes com lideranças locais do interior. Teme-se também que o governador Geraldo Alckmin, favorito a reeleição em São Paulo, não se empenhe na campanha presidencial. Motivo: o provável vice dele será do PSB, partido de Eduardo Campos.

MICHEL TEMER

O Aliado Exigente

O vice-presidente da república será responsável por manter o PMDB, maior e mais forte aliado da presidente, fiel ao projeto do PT. Não será uma tarefa simples, já que o partido de Temer é na prática um consórcio de caciques locais com interesses nem sempre convergentes. Na Bahia, por exemplo, o líder do partido, Geddel Vieira Lima, promete ser adversário de Dilma porque ela apoiou o rival dele, o governador Jaques Wagner, em 2010. A aliança é importante também porque passa pelo apoio a Dilma no Congresso Nacional e representa um maior tempo de TV na propaganda partidária obrigatória.

PIMENTA DA VEIGA

O Zelador do Aécio

Depois de 11 anos dando as cartas na política mineira, o senador presidenciável Aécio Neves será obrigado pela primeira vez a ficar longe de seu próprio quintal durante a campanha. Eleito para governador do estado em 2002 e reeleito em 2006, ele fez um sucessor com tranquilidade – Antonio Anastasia –, enquanto se elegeu senador. Em 2014, quando estará 100% envolvido na disputa nacional, Aécio precisará de uma retaguarda forte para seu grupo político não ser derrotado pelo PT, que lançará o nome de Fernando Pimentel, atual ministro do Desenvolvimento, à disputa do governo de Minas. O escolhido para a tarefa de defender a trincheira deve ser um veterano: Pimenta da Veiga, ex-prefeito de Belo Horizonte, ex-ministro das Comunicações de FHC e expresidente nacional do PSDB. O primeiro passo foi entregar ao exministro a presidência do Instituto Teotônio Vilela em Minas Gerais (ITV-MG). Dessa forma, Pimenta será encarregado também de coordenar a campanha de Aécio no estado

JOÃO SANTANA

O Marqueteiro de Dilma

O responsável pelo marketing da atual presidente na eleição de 2014 tem no currículo as vitórias de seis presidentes da República: Lula (reeleição em 2006), Mauricio Funes (El Salvador, 2009), Dilma Rousseff (2010), Danilo Medina (República Dominicana, 2012), José Eduardo dos Santos (Angola, 2012) e Hugo Chávez/Nicolás Maduro (Venezuela, 2012). O contrato ainda não foi assinado, mas Santana já integra o chamado “núcleo duro” de Dilma ao lado de Rui Falcão, Aloizio Mercadante e Franklin Martins. Apesar de considerar Lula um grande puxador de votos, o consultor de marketing político Chico Santa Rita adverte: “Todos os candidatos precisam da assistência do marketing político para se eleger”.

EDUARDO AZEREDO

O Réu Tucano

O político mineiro estará no centro dos holofotes em 2014 se o STF decidir julgar o caso do mensalão mineiro com a mesma disposição que julgou o caso petista. Segundo investigação da Polícia Federal, dirigentes do PSDB-MG teriam desviado R$ 5,17 milhões de empresas estatais mineiras para um esquema de arrecadação paralela de recursos para a campanha de Azeredo, que disputou o governo de Minas Gerais em 1998. Para os petistas, esse caso serviria como um contraponto ao julgamento do mensalão. “A questão da corrupção, com suas variáveis em cada partido, será um tema central da campanha eleitoral”, afirma Mendes Thame, do PSDB. “O Dirceu e o Azeredo certamente serão explorados e aparecerão muito no horário eleitoral da TV. Eles serão constantemente lembrados”, concorda Marco Aurélio Carvalho, do PT.