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Tempos sublimes

Com apelo emocional e olho no futuro, Sublime With Rome evoca o cultuado legado de banda símbolo dos anos 90

Por Pablo Miyazawa, de Londres Publicado em 10/10/2010, às 13h09

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Sublime With Rome: jovem vocalista, à direita, vai cantar as músicas da banda para o público brasileiro - Reprodução/Site oficial
Sublime With Rome: jovem vocalista, à direita, vai cantar as músicas da banda para o público brasileiro - Reprodução/Site oficial

"Eu sei que estão todos me olhando com uma lupa." Esparramado em um sofá no canto do camarim, Rome Ramirez parece à vontade na condição de homem de frente da nova formação do Sublime para as novas gerações. É uma noite de sexta-feira, e o Sublime With Rome está a poucas horas de realizar seu primeiro show em Londres, no confortável auditório Shepherd's Bush Empire, na zona oeste da capital inglesa. Logo após o show, eles embarcariam para o Brasil, para uma apresentação única no festival SWU, neste domingo, 10.

O nome da banda é uma alusão ao fato de esta banda não ser "oficialmente" o Sublime, e sim um grupo formado por dois dos integrantes originais - o baixista Eric Wilson e o baterista Bud Gaugh -, além do vocalista/guitarrista Rome Ramirez. Não é coincidência também o fato de o repertório do trio (que no palco é acompanhado por mais um músico, Todd Forman, que se divide entre o saxofone e o teclado) ser completamente baseado nos três álbuns oficiais da banda, 40 Oz. To Freedom, Robbin' the Hood e Sublime, lançados entre 1992 e 1996.

O Sublime talvez tivesse caído no limbo como tantas bandas que misturavam ritmos surgidas na década de 90 - no caso do trio californiano, uma mistura descompromissada de reggae, surf music e punk, flertando com o dub, o ska, o hip hop e o hardcore e pitadas ousadas de experimentalismo. A morte precoce do vocalista e compositor Bradley Nowell, por overdose de heroína, em março de 1996, ocasionou o encerramento precoce da banda. Por outro lado, a tragédia se tornou também o motivo pelo qual o Sublime saiu do underground para se tornar, enfim, pop e acessível. O álbum póstumo, Sublime, lançado dois meses após a morte de Nowell, carregou hits suficientes para fazer a banda se tornar referência para bandas vindouras e multiplicar sua base de fãs em questão de anos - fato notável em se tratando de uma banda extinta e cultuada previamente por um nicho. Bandas-tributo começaram a surgir pelo mundo, causando o curioso fenômeno de fazerem mais sucesso do que a banda original, ao mesmo tempo em que levavam a música do Sublime a um público que a ignorava anteriormente.

Rome Ramirez tomou com afinco a tarefa de fazer justiça ao carisma de Nowell, frontman cheio de personalidade e compositor de quase a totalidade do material produzido pelo Sublime. No palco, a semelhança de sua performance com a do falecido músico é quase sobrenatural, seja na entonação da voz, seja na maneira com que desfere de modo quase vulgar os acordes de guitarra sincopados e os solos cheios de atitude. Fisicamente, Rome, 22 anos, não poderia ser mais diferente de Nowell: é moreno, gorducho e um tanto atarracado, com traços que denotam a origem latina. "Eu estava em um bar de hotel", ele diz, "e o cara da nossa equipe de som mencionou algo que eu nunca havia pensado: é uma loucura que somente um por cento dos fãs atuais do Sublime já os viram tocar ao vivo. Todo mundo só tem como nos comparar com o que ouviram nos CDs".

Empolgado, ele prossegue: "Então, se a gente não estivesse dando o nosso melhor e realmente tentando arrebentar, ninguém iria querer ver. Estou feliz. Não fazemos perfeito, mas é a integridade e a sensação que passamos no palco que contam. A gente sobe lá para dar o nosso melhor e tentarmos nos divertir ao máximo. E as pessoas têm sido bem receptivas."

Bud surge de um canto escuro do camarim e se junta à conversa. Com um chapéu amarelo na cabeça e esboçando um sorriso quase debochado, o baterista de 43 anos começa dizendo que a volta de sua antiga banda representa o fim de um estado quase letárgico em que se encontrava. "Cara, eu sinto como se tivesse saído da cadeia. É como se eu estivesse preso nos ultimos 15 anos. Não via meus amigos, minha familia, fiquei separado das coisas que eu mais adorava, a música, os fãs, tudo. Então, é como voltar pra casa".

Questiono se não é bizarro o fato de a música do Sublime tenha se tornado muito mais popular após o encerramento brusco das atividades da banda. " É trágico. Mas também é muito legal", começa Bud. "Após um show, um dia desses, conheci um fã de 55 anos, e também um de 20 anos, que trouxe o filho de 5. E todos adoram a música. Ter fãs de 5 a 55 anos é uma sensação maravilhosa. Agora eu sei o que os Beatles e os Rolling Stones sentiam, sabe?", ele gargalha.

Bud procura se mostrar genuinamente empolgado com a chance de retomar um projeto que lhe parecia destinado a permanecer no passado junto à memória do amigo morto. "Eu não me empolgava com música desde 1995. É como começar tudo de novo. Talvez o problema fosse eu não estar colocando as coisas sob a perspectiva apropriada. E leva um tempo pra curar, crescer e olhar as coisas sob uma nova luz." Ele completa, visivelmente emocionado: "Poder tocar com o Eric novamente é a maior benção que eu poderia receber. E conhecer Rome e poder tocar com ele é a segunda maior benção que eu poderia receber. E eu tenho um novo melhor amigo. Eu adoro esse cara".

Infelizmente, o baixista Eric reproduziu sua tímida postura de palco e não apareceu no camarim durante a meia hora em que permaneci por lá. Seria interessante ter a perspectiva do principal parceiro de composição de Nowell e cofundador do Sublime a respeito do retorno aos palcos e do legado da banda para a novas gerações. Aproveitando a deixa, Rome e Bud revelam detalhes sobre o primeiro disco de músicas inéditas produzido pela nova formação do "quase-Sublime" - algumas das faixas, aliás, já são apresentadas ao vivo, como a frenética "Panic". "É a mesma receita de antes", diz Bud, sobre o disco previsto para 2011. "Acredito que os fãs podem esperar por algo bom, assim como a gente também espera. Entramos no estúdio com uma música e meia prontas. Ficamos lá seis dias e saimos com quatro faixas, completas. Vamos voltar ao estúdio em fevereiro ou março e aí deveremos ter umas 200 músicas novas", diz, rindo.

"É uma alegria que esteja tudo dando tão certo", completa Rome. "Porque é esquisito, cara. É esquisito. Porque tudo se encaixa. E é maravilhoso pra caralho."