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A fera e a bela do jazz

George Benson e Esperanza Spalding tocam neste domingo, 7, e segunda, 8, em São Paulo; em entrevista ao site da RS Brasil, revelam pontos em comum: Brasil e Beyoncé

Por Anna Virginia Balloussier Publicado em 08/06/2009, às 09h59

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George Benson: o tributo é a Nat King Cole, mas Beyoncé e Gilberto Gil também têm bênção do jazzista - Reprodução/ MySpace
George Benson: o tributo é a Nat King Cole, mas Beyoncé e Gilberto Gil também têm bênção do jazzista - Reprodução/ MySpace

Dentro de poucos minutos, recebam Herbie Hancock. Na mesa ao centro, Irvin Mayfield joga um charme para Beyoncé. Mais à frente, Usher explica ao romântico Luis Miguel a melhor tática para ganhar uma garota no século 21: sua faixa "Love in the Club" (do verso "let daddy show you what it feel like" - "deixe o papai te mostrar a sensação"), garante, dá mais certo que ostras no jantar. Gilberto Gil está logo ali, na bancada do bar, tirando um som...

Não, a cena descrita no parágrafo anterior nunca aconteceu. Mas George Benson, o jazzista que entende o pop como poucos (e vice-versa), bem que gostaria. Benson é este sujeito eclético que, caso fosse dono de casa de shows, teria no momento acima a mais perfeita das noites. Lenda viva do jazz, o hoje senhor de 66 anos vem a São Paulo para shows neste domingo, 7, e segunda, 8, na Via Funchal, com abertura de Esperanza Spalding.

O músico ainda lembra de mal ter altura para empunhar uma guitarra quando, aos 10 anos de idade, lançou seu primeiro compacto. Daí em diante, George se tornaria um dos grandes guitarristas do jazz, mas sem menosprezar diversos outros estilos musicais. Em entrevista por telefone ao site da Rolling Stone Brasil, o também cantor faz questão de reforçar que seu radar para novidades nunca foi desativado. Fã de música brasileira e dos medalhões do jazz, mantém "ouvidos bem abertos. Alguns artistas novos são incríveis. Usher, Beyoncé...".

Mas mestre, mesmo, só Nat King Cole. Tanto que Benson e sua orquestra dedicam a atual temporada de shows ao responsável por imortalizar standards como "Unforgettable" e "Mona Lisa". Ao contrário de muitos artistas, que se ofendem ao serem comparados com outros, o jazzista não vê o menor problema em ser visto como espelho de Cole. "Amo essa comparação! Meu objetivo sempre foi ser Nat." Aí vem a ponderação: "Mas não acho que jamais alcancei isso. Ele cantava de um jeito que ninguém mais cantava na época - eu queria soar assim. Exatamente assim."

Ainda que seja capaz de cantarolar "Single Ladies", hit de Beyoncé, com a animação de uma cheerleader, Benson, vencedor de 10 prêmios Grammy, não vê com bons olhos certos aspectos da cultura norte-americana. A desconfiança em relação "às estações de rádios, que só querem saber do que é comercial" surge quando o papo é, justamente, Brasil.

Apaixonado pela bossa nova ("a coisa mais linda"), nunca se permitiu perder a MPB de vista. Em um de seus álbuns mais consagrados, Give Me the Night, de 1980, gravou as músicas "Dinorah, Dinorah" e "Love Dance", de Ivan Lins - quatro anos depois, tocou guitarra no disco Juntos, do brasileiro.

O que as estações de rádio norte-americanas têm a ver com isso? Simples: Benson gravou, em sua última passagem pelo país, há quatro anos, com músicos brasileiros. Apesar de, naqueles "dois, três dias no Rio de Janeiro", ter feito algo "tão maravilhoso que todos choramos ao acabar, pois tínhamos consciência disso", duvida que o trabalho chegue a ter, nos EUA (e claro, também em terras tupiniquins), qualquer alcance fora de "poucos guetos musicais". "Não tem como fazermos uma coisa dessas ficar popular nos Estados Unidos." Por ora, diz só poder adiantar que algumas faixas entrarão em seu novo álbum.

Garota prodígio

Após desligar com Benson, a reportagem deste site falou com Esperanza Spalding. Sensação no jazz contemporâneo, a cantora e contrabaixista é professora mais jovem já admitida na Berklee College of Music, respeitada faculdade de música em Boston. De cara, deu para perceber que a musicista tem pelo menos dois pontos em comum com o veterano Benson: Brasil e Beyoncé.

Na noite anterior à entrevista, realizada na última semana de maio, Esperanza, para quem música brasileira no repertório é de praxe, tinha acabado de tocar em Londres. Ficou exausta. Mas a festa ainda estava para começar. "A banda de Beyoncé veio nos ver e, depois do show, fizemos uma grande jam - eles são músicos de jazz, sabe? Foi 'uau', sabe? Mágico!"

Já o Brasil não é caso de uma noite só. No repertório da moça - assumidamente influenciada pelo músico e DJ João Brasil, seu ex-namorado -, nunca falta música brasileira. Em seu segundo álbum Esperanza (2008), gravou "Ponta de Areia", de Milton Nascimento - e em bom português. Entende também de Vinicius de Moraes e João Bosco, e já dava sua interpretação de "O Mar", do mestre Dorival Caymmi, muito antes da versão indie folk do Vanguart. Ah, claro: "Acho que ouço Cartola todo dia!".

"Cár-tó-lá", diga-se - em pronúncia bem decente para alguém nascido do outro lado da linha do Equador. "Jura?", ela se anima, ao saber do sotaque relativamente bom - um banho na colega canadense Diana Krall, outra que adora cantar em português. "Cada idioma tem um formato na língua... Português é tão incrível. Até as palavras mais simples. Tipo 'oi'". E ela repete de novo, só para ver como a palavra se derrama por sua boca. "Oi! Oi!".

Do Brasil, além de boas lembranças, leva também um incômodo: saber que, para a apresentação no hoje extinto Tim Festival, em outubro de 2008 (relembre a apresentação em SP aqui), foi alocada no palco batizado "Sophisticated Ladies" ("damas sofisticadas"), ao lado de outras damas do jazz, Stacey Kent e Carla Bley. "Sofisticada? Elas [as pessoas] tentam me classificar em vários modelos que não me identifico. Elegante, elitista... Jazz costumava ser música de festa! Música popular!" Como exemplo, cita o saxofonista Charlie Parker, "que levava as pessoas à reflexão e à loucura". "Você pode ser inteligente e fazer música que todo mundo curta."

Para provar seu ponto, Spalding atualmente trabalha em um álbum duplo, "para duas personalidades diferentes", que no fundo se mixam na mesma pessoa. Uma metade virá com jazz mais avant-garde (estilo que tem como base o improviso); a outra, mais pop (lembrou de alguém? Beyoncé lançou recentemente o também bipolar I Am...Sacha Fierce). "Soará como algo novo, mas aquele novo que faz você se sentir como se já tivesse conhecido aquilo antes."

George Benson e Esperanza Spalding

São Paulo, 7 e 8 de junho

Via Funchal - Rua Funchal, n° 65

R$ 70 a R$ 350

Informações: 11 2198-7718