Rolling Stone
Busca
Facebook Rolling StoneTwitter Rolling StoneInstagram Rolling StoneSpotify Rolling StoneYoutube Rolling StoneTiktok Rolling Stone

Acabou Chorare, dos Novos Baianos: o maior disco brasileiro de todos os tempos, segundo a Rolling Stone Brasil

Eleição realizada em 2007 contou com 60 especialistas, entre estudiosos, produtores e jornalistas

Redação Publicado em 13/04/2020, às 12h32 - Atualizado em 27/10/2022, às 09h02

WhatsAppFacebookTwitterFlipboardGmail
Capa de Acabou Chorare, dos Novos Baianos
Capa de Acabou Chorare, dos Novos Baianos

A Rolling Stone Brasil publicou, em 2007, uma edição especial com os 100 maiores discos da música brasileira. No primeiro lugar figurou Acabou Chorare, disco lançado pelos Novos Baianos, em 1972. 

+++ Moraes Moreira, fundador dos Novos Baianos, morre aos 72 anos

Foi uma votação sem precedentes na imprensa nacional, com estudiosos, produtores e jornalistas para encontrar o maior álbum da história da música brasileira. 

A cada um dos 60 eleitores, foi solicitado que escolhesse 20 discos, sem ordem de preferência.

+++ LEIA MAIS: Os 100 maiores discos da música brasileira

Os critérios analisados incluíram valor artístico intrínseco e importância histórica. Todos os votos foram somados e resultaram em uma lista de 100 discos essenciais. 

Relembre, nos 50 anos de Acabou Chorare, o texto publicado na edição impressa da Rolling Stone Brasil de outubro de 2017, assinado pelo jornalista Marcus Preto:  


Não é de se espantar que sejam os Novos Baianos os grandes vencedores de uma lista feita em 2007 sobre os maiores álbuns da história da música brasileira. Longe de serem definitivas, eleições como esta são muito mais eficientes como espelho do tempo em que foram feitas do que como avaliação imutável da importância artística das obras em questão. E, é fato, não há nada mais sintonizado com o modus operandi da geração anos 2000 (ou, ao menos, com o método de criação da fatia mais interessante dela) do que a filosofia coletiva, hippie e sem hierarquias proposta desde sempre pelos Novos Baianos. É assim que trabalham hoje, por exemplo, a Orquestra Imperial, o +2, o Instituto, os Tribalistas.

+++LEIA MAIS: Novos Baianos compôs todas as músicas "na base do LSD", diz Moraes Moreira

Também tem relação direta com o grupo de Moraes, Baby, Pepeu, Boca, Galvão, Dadi, Jorginho, Baixinho e Bolacha o retorno triunfal do samba ao centro do interesse estético de quase todas as cantoras surgidas na última década: Vanessa da Mata, Céu, Roberta Sá, Mariana Aydar, muitas. Todas elas chegaram à cena musical com o terreno - que outrora era fértil apenas para o rock - já preparado para o samba. E muito disso se deve, sem sombra de dúvida, à releitura que vem sendo feita por Marisa Monte, cantora de entrada irrestrita na juventude de classe média, desde pelo menos 1996 ("A Menina Dança", faixa de Acabou Chorare, foi regravada pela cantora carioca no disco Barulhinho Bom, daquele ano).

Obra-prima dos Novos Baianos, Acabou Chorare nasceu do choque entre o grupo e João Gilberto (engana-se quem imagina que a influência musical foi unilateral. Vale ouvir João Gilberto, o 47º colocado desta mesma lista, e perceber imediatamente que se trata do outro lado de uma mesma moeda.) Depois de um primeiro disco semitropicalista, um tanto psicodélico e essencialmente roqueiro gravado em São Paulo (É Ferro na Boneca, de 1970), a trupe se mudou de mala e cuia para o Rio de Janeiro e por lá se instalou. Luiz Galvão, letrista dos Novos Baianos, conhecia o pai da bossa nova desde a adolescência em Juazeiro e retomou o contato assim que pisou na Cidade Maravilhosa. Por algum motivo inexplicável, João se identificou com a turma de hippies e logo começou a freqüentar o, digamos, "alojamento" onde eles moravam. De cara, apresentou ao grupo um samba que, mal sabiam eles, se tornaria a peça-chave da transformação sonora que viria em 1972.

"Brasil Pandeiro" foi composto nos anos 40 por Assis Valente especialmente para Carmen Miranda cantar, e fez quase tanto sucesso na época quanto faria trinta e poucos anos depois. A indicação do samba antigo vinha com um recado mais profundo: "Voltem-se para dentro de vocês mesmos", disse João Gilberto ao grupo. Sob essa brutal influência, Acabou Chorare foi composto e gravado. A faixa-título do disco, aliás, teve como fonte inspiradora uma história que João contara a Galvão pelo telefone e que depois ficaria famosa. Quando ainda era bem pequena, sua filha, Bebel, costumava falar um idioma híbrido, misturando o português de sua terra natal com o espanhol que aprendera durante o período em que morou no México com os pais. Única filha, ela estava sempre coberta de todos os cuidados possíveis. Num escorregão que levou certa vez, quando viu que toda a família vinha para cima dela ver se ela havia se machucado, a menina disparou: "Acabou chorare!". A canção ficou entre as mais tocadas nas rádios de todo o Brasil por mais de 30 semanas consecutivas. Mas o maior sucesso do disco foi mesmo "Preta Pretinha", música de Moraes Moreira feita sobre os versos que Galvão havia escrito para uma menina de Niterói que o havia deixado na mão.

De resto, qualquer mérito que não tenha sido dado à excelência de Acabou Chorare quando o disco foi lançado acabaria sendo devidamente reconsiderado com o correr do tempo. Aos 35 anos, faixas como "Mistério do Planeta", "A Menina Dança", "Tinindo Trincando" e "Besta É Tu" estão em seu melhor momento. E o fato de elas terem ajudado Acabou Chorare a conquistar pela primeira vez o topo de uma lista dos melhores discos brasileiros de todos os tempos só serve para confirmar isso.