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AC/DC faz show grandioso em SP

Cerca de 65 mil pessoas assistiram a um espetáculo de explosões e rock 'n' roll na noite de sexta, 27, no estádio do Morumbi

Por Bruna Veloso Publicado em 28/11/2009, às 19h37

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Angus Young comanda o espetáculo de riffs no AC/DC - MRossi/Divulgação
Angus Young comanda o espetáculo de riffs no AC/DC - MRossi/Divulgação

Michael Jackson diz, no filme This Is It, que é "tudo por amor" - e por mais contraditório que pareça, assistir ao AC/DC no palco, diante de milhares de pessoas com tiaras de chifres luminosos na cabeça, é assistir a uma celebração de amor - pela música, pelo rock 'n' roll. Na noite desta sexta, 27, o estádio do Morumbi, em São Paulo, recebeu uma grande homenagem ao rock.

O AC/DC atinge a todos: há os velhos roqueiros que não se deixam seduzir por novas bandas, há garotas de salto agulha, crianças que nasceram muitos anos após a banda ter sido criada, no início da década de 70. A energia com a qual aqueles "senhores", todos com mais de 50 anos de idade (Brian Johnson tem 62) se portam no palco, a forma enlouquecida como Angus Young empunha sua indefectível guitarra Gibson SG: tudo conspira para que o público, vendo as imagens dos telões, faça uma imersão coletiva em um gênero musical que, passe o tempo que for, continua a mover multidões. Ver Johnson, Phil Rudd, Cliff Williams e os irmãos Malcolm e Angus Young em ação é atestar que, se a música é a língua universal, o rock é o mais universal dos gêneros musicais.

Pontualmente às 21h30, as luzes do estádio se apagaram. No telão ao fundo do palco, imagens de um trem em animação em alta velocidade, conduzido pela personificação de um Angus em forma de demônio. Depois de uma explosão, o telão se divide em dois, deslizando para as laterais, dando lugar ao gigantesco trem que adorna os shows da turnê do disco Black Ice, um dos mais vendidos de 2008. É a deixa para "Rock 'n' Roll Train", uma das quatro faixas do álbum apresentadas aqui. Logo depois, Johnson aproveitou para, caminhando pela passarela que sai do palco em direção ao público, resumir o que seriam as duas horas seguintes: "Nós não falamos bem 'brasileiro' (sic), mas falamos bem o rock 'n' roll".

Depois de "Hell Ain't a Bad Place to Be", "Back in Black" fez com que as 65 mil vozes presentes no Morumbi ecoassem (novamente, a contradição) como em uma celebração religiosa. A faixa-título do álbum de 1980 marca o início da fase com Brian Johnson, que assumiu o posto de vocalista da banda poucos meses após a morte de Bon Scott. Essa é outra característica peculiar do AC/DC: o quinteto, que tem como figura icônica o esguio Angus, há mais de 30 anos vestido como um estudante colegial, continuou a crescer em popularidade mesmo depois de trocar de frontman.

Entre uma faixa e outra, Johnson dispara alguns "Yeah, all right!", num tom rouco, mas muito grave, bem diferente do timbre rasgado que emite ao cantar. Assim como Angus, Johnson mantém o figurino intacto há décadas: calça jeans, camisa sem mangas e boina. A dupla segue na linha de frente durante toda a apresentação - ambos encharcados de suor, Angus exibindo o cocuruto já sem os cabelos de antigamente.

O repertório da terceira passagem do AC/DC pelo Brasil (a banda veio para o Rock in Rio de 1985 e voltou em 1996) manteve-se o mesmo que vem sendo apresentado na turnê, à exceção de "Anything Goes", que ficou de fora em São Paulo. Seguiram-se "Big Jack", "Dirty Deeds Done Dirt Cheap", "Shot Down in Flames", "Thunderstruck" e "Black Ice", antes do blues "The Jack". Durante a música, que narra uma partida de pôquer na qual uma mulher tem a melhor jogada, os telões exibem apenas as garotas da plateia - e em um show com alta carga de testosterona, elas estão por todo lado: espremidas na grade, nos ombros do namorado, nas arquibancadas. Todas bradando, em uníssono, o refrão "She's got the jack". Angus, que até então não havia parado de correr pelo palco no "duck walk" (o passo imortalizado por Chuck Berry), aproveita para fazer um strip-tease, que culmina com ele abaixando a bermuda e mostrando a cueca com o nome AC/DC.

A apresentação da banda australiana tem todos os elementos de um grande espetáculo. Além da música no volume máximo ("You Shook Me All Night Long" ecoa no cérebro horas depois do show) e do público ensandecido, há a megaestrutura de palco. O grande sino tocado por Johnson durante "Hells Bells", o trem que solta labaredas em "T.N.T", a icônica boneca inflável Rosie, que surge em "Whole Lotta Rosie", montada no trem e balançando o corpo conforme a música - tudo gigantesco e, ao mesmo tempo, com algo de crueza, sem uma cara "high-tech".

Depois do ritmo rápido de "Let There Be Rock" e da chuva de papéis despejada na plateia, é a vez de Angus tomar o palco para si. Fecham-se novamente os telões, escondendo o trem, para que o guitarrista de 54 anos, um dos mais emblemáticos do rock, passe mais de dez minutos entre solos e riffs precisos. Sem uma palavra, apenas levando a mão ao ouvido para pedir mais gritos, ele comanda um coro ensurdecedor. Pouco depois, o palco fica vazio, para que a banda volte com "Highway to Hell", certamente uma das mais esperadas da noite.

Terminando de forma grandiosa um show para o qual o adjetivo "grandioso" é a melhor definição, "For Those About to Rock (We Salute You)", com canhões soltando fogo. Eram 23h30 quando o AC/DC deixou o palco - uma bateria de fogos encerrou a apresentação (candidata ao posto de melhor show do ano no Brasil), deixando a certeza de que muitos, sejam eles jovens garotos, "patricinhas" ou homens de meia-idade, ainda irão tirar inspiração daquilo que se tornou mais do que apenas um ritmo, mas um motor que segue impulsionando gerações: o rock 'n' roll.