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Adriana Calcanhotto celebra a complexidade de Lupicínio Rodrigues e se prepara para compor inéditas

Cantora lançou em julho deste ano o DVD e CD Loucura, que contém releituras de clássicos do músico

Lucas Borges Publicado em 16/08/2015, às 10h10

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Adriana Calcanhotto na gravação do show <i>Loucura</i> - Reprodução
Adriana Calcanhotto na gravação do show <i>Loucura</i> - Reprodução

Ao longo da carreira, Adriana Calcanhotto atingiu a proeza de reunir sonoridades diferentes sob o mesmo telhado.

A cantora da voz e violão, de baladas populares, do samba e de criativa produção infantil, lançou-se também como intérprete de Lupicínio Rodrigues.

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Loucura foi o nome dado ao registro do show único realizado em dezembro de 2014, em Porto Alegre (gravado também em DVD), como comemoração do centenário do cantor gaúcho Lupicínio Rodrigues. O projeto celebra a união de Adriana ao conterrâneo poeta. “Eu enxergava outras influências nas coisas que eu fiz, mas não enxergava nele [Lupicínio] tanto assim. O momento em que vou investigar e pensar nisso é o O Micróbio do Samba [disco de 2011]”, conta a artista à Rolling Stone Brasil.

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“É o momento em que eu me deparo com a potência da influência do trabalho do Lupicínio no meu trabalho de composição. Com isso pensado, recebi esse convite para fazer algo só dele, para homenageá-lo. Eu chamei de Loucura, mas poderia ter chamado de O Micróbio do Lupi”, completa ela, que usou a definição dada pelo próprio Lupicínio – ele dizia ter nascido com o “micróbio do samba”.

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Loucura também é a chance que Adriana encontrou de mostrar ao público muito mais do que “a dor de cotovelo” pela qual ficou conhecido o autor de "Nervos de Aço", "Esses Moços", "Felicidade" e "Se Acaso Você Chegasse". “Cevando o Amargo”, lembra a intérprete, transparece a origem gaúcha do compositor. “Volta” foi gravada em blues, gênero do qual, indiretamente, o sambista acaba se aproximando – “É um homem negro falando de suas tristezas, nesse sentido, tem muito de blues”.

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“O Lupicínio é mais conhecido como o cara da 'dor de cotovelo' e ponto. Mas não é. Ele é muito mais abrangente e muito mais profundo. Essa coisa da qualidade artesanal da poesia dele, dele saber intuitivamente, porque ele não leu Homero, não leu poesia. Mas ele sabe exatamente que sílaba vai em que nota, se a nota é maior ou menor na melodia em relação àquele todo da canção. É muito impressionante”.

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A obra desse monumento da MPB, admite Adriana, deve aparecer mais a partir de agora nas apresentações dela, que desde sempre tocou “Nunca”, por exemplo. Loucura, no entanto, nunca mais deverá se repetir. O encontro do espetáculo do DVD já se deu em meio a inúmeros compromissos dos músicos envolvidos, com pouquíssimos ensaios, e uma segunda reunião parece impossível.

Da mesma forma que carrega Lupicínio para o restante da via, Adriana pretende nos próximos meses se purificar a fim de começar a compor coisas novas. “Nesse tempo todo eu venho compondo bastante por encomenda. As pessoas pedem canções para os discos, eu gosto de fazer e se a pessoa não usar, está ótimo, porque nasceu uma canção daquela provocação. Mas você está pensando naquela textura de voz, naquele ambiente artístico, é diferente de compor para um disco novo de inéditas”.

O que virá pela frente nem a cantora sabe dizer. Até o final do ano, ela ainda tem compromissos do disco de inéditas e de regravações Olhos de Onda e de Partimpim, na semana do Dia das Crianças, com a orquestra da OSESP.

“Para algumas músicas eu tenho uma ideia do que eu quero e tem outras que a ideia ainda é um pouco vaga. Esse processo todo tem muito a ver com a inércia de começar. Aí é que vão saindo, vou fazer coisas que nem estou imaginando. Não sei que cara vou ter. O que eu preciso agora, na verdade, é de um esvaziamento, tanto do Olhos de Onda como do Lupicínio, para zerar e poder compor”.