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Alegria cigana

Gogol Bordello comanda festa dançante com seu gipsy punk no Tim Festival

Por Bruna Veloso Publicado em 25/10/2008, às 20h29

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Ele não é cigano, mas toma as influências festivas desse povo para comandar uma grande celebração musical à frente de sua banda. Eugene Hütz liderou o Gogol Bordello com um show animado e vibrante diante da platéia da Arena do Tim Festival na noite desta sexta, 24, em São Paulo.

Hütz chegou brindando ao público com uma garrafa de vinho. Na frente do palco, muitos se espremiam para ver de perto a banda de gipsy punk - em português, punk cigano. Acordeon e violino se encarregavam de criar a atmosfera do povo nômade, enquanto Hütz pulava de um lado ao outro do palco em uma apresentação festiva e cheia de simpatia.

Quando o Gogol apareceu, por volta das 21h15, gritos e palmas acompanharam "Ultimate", faixa de abertura do quarto álbum, Super Taranta!. Enquanto Hütz surgia no palco acenando como se tivesse encontrado velhos amigos, o baixista Thomas "Tommy T" Gobena, de lenço vermelho na cabeça, saudava o público com as mãos pra cima.

A banda trouxe ao Parque do Ibirapuera muitos jovens inspirados na cultura cigana - principalmente rapazes, de coletes coloridos, faixas na cabeça (Hütz também usava uma) e longos cavanhaques.

Para quem não conhecia as letras das músicas, as palavras pronunciadas pelo vocalista eram dificilmente distinguidas, talvez pelo peso de sua banda, talvez pela altura do som nas caixas. Mesmo assim, o público acompanhava até onde podia, fazendo coro nos "hey, hey" ou levantando os braços, estralando os dedos e pulando, como se estivessem em uma típica festa cigana.

Ao final de "Sally", de Gipsy Punks Underdog World Strike, de 2005, Hütz jogou o microfone no tablado do palco, pela primeira vez de algumas, em uma explosão de animação. O espaço montado no Parque do Ibirapuera não estava cheio, mas quem compareceu não deve ter se arrependido. Mesmo quem não conhecia o Gogol (à esquerda do palco, longe dos fãs caracterizados, um homem me pergunta, aos pulos, o nome da banda) dançou ao som diferente e original. Em diversos momentos, era possível sentir tremer o chão de madeira do lugar.

O espaço não podia ser mais apropriado: montado em uma área repleta de árvores, o galpão manteve alguns espécimes em seu interior, ajudando a realçar a atmosfera de distância da urbanidade. Os banheiros - químicos -, patrocinados por uma marca de cosméticos, mantiveram-se limpos até o final do show (a noite ainda teve Junior Boys e Dan Deacon, antes da apresentação, e Switch e DJ Yoda, depois), com direito a espelhos e torneiras externas, raridade em banheiros móveis.

De tanto se movimentar, Hütz (cuja mais recente participação como ator foi em Sujos e Sábios , estréia de Madonna na direção), tira a camisa. Iniciada no violão comandado pelo vocalista, "Wonderlust King" bota todos para dançar. O violino se impõe, ditando o ritmo cigano, enquanto as dançarinas Elizabeth Sun e Pam Racine (de shorts brancos curtíssimos e camisetas do Santos) fazem uma coreografia que faz imaginar um grande navio pirata do século XVII (mesclando versos que citam "os sete mares", viagens pelo mundo e aeroportos, lembrando os dias atuais).

Em pequenas rodas, mais longe do palco, grupos misturam flamenco e danças ciganas. "Start Wearing Purple" (o roxo - purple, em inglês - é uma cor muito popular entre o povo cigano) é iniciada com versos de "Tropicana", de Alceu Valença. Para terminar, a banda - talvez uma das mais originais do line-up do Tim Festival 2008 - canta "Think Locally, Fuck Globally". O show durou apenas 50 minutos, sem direito a bis - para a tristeza dos que bateram palmas esperando o retorno da banda. Hütz voltou a aparecer, mas apenas aplaudiu o público, em retribuição.