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Alice Cooper diz que tentar manter seu personagem o tempo todo quase o levou à morte

Em entrevista, roqueiro também fala sobre os ídolos dele na guitarra e sobre os conselhos que daria a Marilyn Manson

STEVE BALTIN Publicado em 03/06/2013, às 13h27 - Atualizado às 13h45

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Alice Cooper - AP
Alice Cooper - AP

Em seus mais de 40 anos de carreira, Alice Cooper conquistou quase tudo, de hits no topo das paradas e turnês com ingressos esgotados a seu nome no Hall da Fama do Rock and Roll. Mas tem uma coisa da qual ele se arrepende: ter desistido da guitarra.

Agora ele está tentando ajudar outros a não cometer o mesmo erro atuando como terapeuta no Quitter’s Anonymous, um novo programa criado pela fabricante de guitarras Fretlight. Na sátira (assista ao primeiro episódio abaixo), Cooper comenta sobre seus guitarristas favoritos, incluindo Jeff Beck e George Harrison.

Aproveitando o lançamento, Alice Cooper falou à Rolling Stone sobre a admiração por Ray Manzarek (tecladista do The Doors, morto recentemente), sobre separar o personagem da vida real, a influência dele em artistas como Rob Zombie e da turnê que fará com Marilyn Manson.

Você contou recentemente que está trabalhando em um disco de covers. Como está esse projeto?

Estamos mais ou menos na metade do disco. A turnê está a caminho, mas tudo bem, porque não precisamos lançar o disco antes do ano que vem. Eu sempre faço turnês entre junho e dezembro, e esse é um desses discos que estamos fazendo apenas pela diversão, então se sair no ano que vem, não tem problema. Mas a turnê é interessante. Eu fiz turnê com Rob Zombie no ano passado e com o Iron Maiden, e agora é com o Marilyn Manson. É meio Dracula encontra Lobisomem encontra Frankenstein.

Ray Manzarek se foi recentemente. Sei que você é fã do Doors, e você disse que talvez gravasse “Break on Through” para o disco.

Eu acho que Ray era 75% do som do Doors; ele era um tecladista único. E eu nunca fui um grande fã de teclados, mas [quando o ouvi] de repente foi: “Essa cara é realmente diferente. Ninguém toca desse jeito”. Quando ouvi os teclados pela primeira vez em “Light My Fire”, a versão longa, “Riders on the Storm”, coisas assim, pensei: “Hum, é jazz, mas eu gosto”.

Você teve a chance de passar algum tempo com Marilyn Manson, agora que vocês vão sair em turnê?

Eu o encontrei no Revolver Golden Gods Awards e depois ele foi ao meu programa de rádio. Temos muitas coisas em comum, coisas que outras pessoas não teriam em comum, levando em consideração o fato que nós dois interpretamos personagens. Falamos no programa sobre como você lida com esse personagem e com a vida real. E às vezes o personagem é tão poderoso – será que ele toma conta em algum momento? Eu tive muito tempo para trabalhar com o Alice Cooper, então eu sei quando ser Alice e quando não ser. Eu disse a ele que é muito difícil manter um personagem 24 horas por dia, e que pode haver um momento em que você precisa se divorciar do personagem, apenas para poder voltar a gostar dele.

Você deu conselhos a Manson?

Ele é muito esperto, ele tem um discernimento muito bom. Estávamos conversando sobre por que criamos os personagens, qual era a ideia por trás. Minha ideia era de que o rock precisava de um vilão, e eu estaria mais do que feliz em criá-lo. Eu pensei que precisava ser o personagem o tempo todo, e isso quase me matou. Eu estava tentando beber com Jim Morrison, Jimi Hendrix, esses caras. Eles eram profissionais e eu tinha 18 anos, então isso quase me matou. Foi quando eu percebi que tinha que me permitir ser eu mesmo, e aí sim eu comecei a apreciar o fato de poder interpretar. Eu não sei por quanto tempo você pode interpretar um personagem 24 horas por dia sem ter algum tipo de colapso.

Acho que você começaria a perder a própria identidade.

Sim, mas de novo, é apenas algo que você precisa aprender. Eu não conheci minhas limitações antes de ter uma experiência de quase-morte. É uma das poucas coisas sobre as quais posso aconselhar Manson, porque nós dois e o Rob Zombie criamos personagens com os quais temos que lidar. E o fato de eu ter esse personagem há 40 anos me dá um pouco mais de discernimento. Pode ser que eu lide de um jeito diferente do deles, mas eu posso ao menos mostrar e eles onde está o perigo.

Você sabe que influenciou esses artistas. É intressante: se ouvir e se ver na interpretação de outras pessoas.

Acho que a diferença é que o meu background vem do Yardbirds, do The Who, Rolling Stones, Amor, Sublime Amor e O Monstro da Lagoa Negra. Eu venho do blues rock e então coloquei minha própria visão nele, enquanto Zombie e Manson vêm de uma música mais industrial, têm um background mais tecnológico. Esses caras foram mais influenciados pela atitude e pela persona do Alice do que pela música. A música do Trent Reznor provavelmente os influenciou mais, e eu entendo totalmente. Quando você vê os shows dos três, está na sua cara: é um ataque ao público. Não é simplesmente ir lá e ser o personagem, é atacar o público com o personagem, e eu vejo isso nesses caras.

Já que estamos falando sobre conselhos, o que o Doutor Alice Cooper, do Quitter’s Anonymous, diria?

Eu comecei a tocar guitarra quando tinha 20, 21 anos, e estava em uma banda que tinha outros dois guitarristas que eram ótimos e aquilo não importava para mim, eu realmente era uma força inxistente no mundo das guitarras. Eu sempre fui cercado de grandes guitarristas, não tinha razão para eu tocar. Eu queria ter continuado a tocar, mas passei mais tempo nas letras e no personagem. Então, eu meio que desisti. E nesse programa os personagens são pessoas que começaram a tocar e pararam por uma razão ou outra.