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Análise: na excelente House of Cards, a sede por poder político de Kevin Spacey leva o mal para outro nível

A segunda temporada do seriado chegou à Netflix nesta sexta-feira, 14, ainda mais pretensiosa e espalhafatosa

Rob Sheffield Publicado em 14/02/2014, às 17h22 - Atualizado às 18h26

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House of Cards - segunda temporada - Divulgação
House of Cards - segunda temporada - Divulgação

“Existem dois tipos de vice-presidentes”, anuncia Kevin Spacey. “Capachos e os matadores. Qual dos dois você acha que eu quero ser?” Aquele tipo que fica animado ao sentir o cheiro de sangue, é claro. Ao longo da soberba nova temporada de House of Cards, ele lambe os beiços todas as vezes que pode mostrar o quão maligno pode ser, o que significa várias vezes por minuto. Como o senador Frank Underwood, Spacey está finalmente muito próximo do escritório da vice-presidência, que ele passou a primeira temporada inteira tentando roubar para si.

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A nova temporada de House of Cards é ainda mais pretensiosa e espalhafatosa , como se todos os envolvidos nela se sentissem validados pela força viciante do primeiro ano da série. No ano passado, a Netflix disponibilizou toda a primeira leva de episódios de uma só vez, em um grande pacote para assistir em maratona. Funcionou tão bem que a empresa decidiu repetir a fórmula, colocando os fãs em estado de hibernação até, enfim, revelar os nefastos planos de Spacey nesta sexta-feira, 14, inclusive no Brasil. Ninguém sequer pode chamá-lo de maquiavélico, porque Maquiavel estabelecia regras para príncipes, enquanto Spacey corta gargantas só porque pode. Ele é um matador que ama o trabalho que faz.

House of Cards, série política feita para a Netflix, estreia seus 13 episódios de uma só vez.

Não há nada sutil em Cards ou nos golpes de Spacey. Ele emula muito de um jeitão old school de J.R. Ewing, personagem da série Dallas, cujos olhos brilham enquanto ele continua se vangloriando de quão maldito e desprezível ele é capaz de ser. O democrata da Carolina do Sul ama D.C. porque é lá que ele sempre encontra novos pobres gatinhos para vitimar. Ele também não fica sentimental por causa delas. Ele zomba olhando para a câmera: “Todo gatinho se torna um gato um dia.”

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House of Cards define um momento esquisito para Washington D.C., cidade que ganhou nova vida ao se tornar a preferida da televisão norte-americana. Em Scandal, é em D.C. que funcionários dolorosamente glamourizados da Casa Branca têm casos extraconjugais agoniantes e matam uns aos outros em hospitais. Já em The Americans, a Guerra Fria transforma o cotidiano em família em uma série de acontecimentos que envolvem sexo e assassinatos. Por fim, em Veep, a cidade é um esgoto moral onde personagens emocionalmente disfuncionais atiram ofensas uns aos outros.

E, como Dr. Hunter S. Thompson já disse, há também um lado negativo. House of Cars é este caso negativo, graças a Spacey. Underwood não possui qualidades redentoras. Não há nenhuma novidade em mostrar D.C. como uma cidadela de hipocrisia e corrupção, mas tudo em Cards soa recém-criado graças ao talento de Spacey. Nesta nova temporada, ele se diverte citando Winston Churchill, primeiro-ministro inglês durante a Segunda Guerra Mundial. “Para melhorar, mude, para alcançar a perfeição, mude sempre.” Para Underwood, contudo, o provérbio funciona apenas como mais uma justificativa para ele cortar algumas cabeças – e com mais rapidez.

Cúmplice dele em toda esta malícia é Robin Wright, no papel da esposa igualmente corrupta de Underwood, que fez de masturbar um homem prestes a morrer no hospital parecer um ato de caridade e um gesto de desprezo, ao mesmo tempo.

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De certa forma, Cards e as novas ficções de Washington são o outro lado dos primeiros anos de Bill Clinton, quando tivemos uma enxurrada presidentes "cara comum", como de Kevin Kline, em Dave - Presidente Por um Dia, ou Michael Douglas, em Meu Querido Presidente, e que atingiu o ápice com a série The West Wing. É engraçado como precisou chegar ao segundo mandado de Barack Obama para chegar a este ponto – talvez, no início, Obama parecesse muito reservado para ser absorvido no melodrama de Hollywood, até ele ser transformado e deixado de ser uma figura mítica e passou a ser visto como um político. Quanto mais Obama parece um capacho, mais nós queremos matadores ficcionais. E Spacey é este matador que nunca fica sem munição – ou sem sangue para derramar.