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Em Crux, Apeles se apresenta como o arquiteto de um labirinto emocional escuro e essencial à alma

Lançado pelo selo Balaclava Records, o disco é o segundo trabalho do projeto solo do músico, e chega como sucessor de Rio do Tempo

Igor Brunaldi Publicado em 20/08/2019, às 15h57

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Eduardo Praça (Foto: José Menezes)
Eduardo Praça (Foto: José Menezes)

No dia 9 de agosto, Eduardo Praça lançou seu segundo disco sob o pseudônimo de Apeles. Batizado de Crux e lançado pelo selo Balaclava, o trabalho chega como sucessor de Rio do Tempo (2017), e logo de cara já se enraíza como o mais obscuro dessa aventura solo do ex-integrante do Ludovic e fundador do Quarto Negro.

Desvendar Crux é como desvendar um sonho febril que toma conta do subconsciente depois que você deita na cama com a mente inquieta, com o corpo cansado e com a chuva forte batendo no vidro da janela. 

Ao longo de oito faixas e pouco mais de 30 minutos de duração, Praça cria em detalhes minuciosos e palpáveis um cenário sombrio. Se observado de cima, com cada uma das peças encaixadas em seu devido lugar, o álbum forma um labirinto de medos, inseguranças e ansiedades que refletem em sua construção tudo que apavora seu arquiteto.

Os fantasmas do passado que assombravam o compositor não foram completamente afogados e purificados pelo rio do tempo. 

E ao invés de se entregar à lástima, em um ato combativo, Apeles convida os ouvintes a mergulharem nesse emaranhado de corredores mal iluminados por lustres decadentes e entrarem em cada um dos oito cômodos trancados que compõem esse mundo. 

Ouvir Crux significa aceitar esse convite e, de mãos dadas com Praça, abrir cada um desses oito cadeados emocionais que, por sua vez, revelam oito espelhos velhos e seus respectivos reflexos assustadoramente claros de angústias, desesperos e demônios pessoais há tempos enjaulados, mas nunca totalmente esquecidos. 

E do meio de todo esse turbilhão imagético e sensorial, as canções do disco ecoam como cânticos obrigatórios a esse processo de recuperação e enfrentamento de si mesmo. 

São essas as regras de um mundo no qual "Deságua" te dá boas-vindas, "Pele" te desnorteia e "Torre dos Preteridos" se despede.

Tecnicamente falando, é muito clara a preocupação de Eduardo Praça em relação ao seu legado musical. A produção calibrada e atenciosa é um dos principais fatores responsáveis por possibilitar analogias absurdas a sonhos e labirintos empoeirados.

A ambientação imersiva dos sons que paira de ponta a ponta não é fruto de um acaso criativo, mas de um estudo atmosférico delicado, conduzido por uma mente que encontra conforto quanto enquanto cria.

Além disso, o próprio vocal em si é, sem dúvida alguma, um dos principais destaques do álbum, e sempre foi assim, desde as primeiras composições do Quarto Negro. As vozes sofridas que suplicam por clemência em busca da calmaria mental muitas vezes chegam até a se camuflar com o instrumental, como uma forma de declarar que as palavras não são mais importantes que cada um dos acordes.

E assim é Crux. Fruto de um trabalho sem pressa, produzido ao longo de três anos e resultado da mudança do músico de São Paulo para Berlim, em uma busca urgente pela libertação da claustrofobia paulistana. E, curiosamente, a agitada cidade alemã conseguiu prover a o descanso cotidiano necessário para o florescer de um disco extremamente pessoal, sincero, delicado e esmagador. 

Crux já está disponível em todas as plataformas digitais e no canal do YouTube da Balaclava

No dia 4 de setembro, uma quarta, Apeles lança o disco no CCSP, às 21h.


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