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Apesar de boas músicas pop, Justin Bieber apresenta um amontoado de discursos superficiais em um flerte distante com R&B em Justice [REVIEW]

Sexto álbum de estúdio de Justin Bieber foi lançado nesta sexta, 19 - e, em busca de uma identidade musical, o cantor revisita o pop

Isabela Guiduci | @isabelaguiduci Publicado em 20/03/2021, às 10h00

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Capa de Justice, sexto disco de estúdio de Justin Bieber (Foto: Reprodução/Divulgação)
Capa de Justice, sexto disco de estúdio de Justin Bieber (Foto: Reprodução/Divulgação)

Embora aparente uma certa preocupação pelas injustiças do mundo, Justin Bieber traz discursos superficiais e mal construídos em Justice, sexto disco de estúdio da carreira, lançado nesta sexta, 19. Em sonoridade, o músico apresenta uma volta ao gênero pop ao longo das 16 faixas, mesmo após prometer mais atenção ao R&B. 

Justicesegue Changes, álbum lançado no dia 14 de fevereiro de 2020, em queJustin Bieber trouxe - em uma tentativa bastante falha - uma forte sonoridade do R&B contemporâneo, e distanciou-se do gênero pop. Após mais de dez anos de carreira, os dois últimos discos refletem como o cantor ainda parece se esforçar em encontrar a identidade musical. 

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A partir das colaborações com grandes nomes como Chance the Rapper, Khalid, Dominic Fike, The Kid LAROI, Burna Boy, Daniel Caesar, Giveon e BEAM, Justice pretende passear pelo R&B contemporâneo. No entanto, mesmo nas faixas com participações, o disco traz um flerte distante com o gênero. 

O que mais chama atenção em Justice, porém, é a vontade de Justin Bieberde querer falar sobre justiça, mas não se aprofundar na temática - e deixar o tema perdido para, novamente, declarar o amor pela esposa, Hailey Baldwin Bieber. Sim, o disco mescla um discurso urgente - do ponto de vista de um jovem branco e rico - com romances da vida, costumeiros na discografia do cantor.

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Logo de cara, na primeira fala da faixa “2 Much”, que abre o disco, há um trecho de um discurso do pastor e ativista dos direitos civis dos afro-americanos, Martin Luther King: “A injustiça em qualquer lugar é uma ameaça à justiça em todos os lugares”.

Com uma abertura tão intensa e significativa, você espera uma canção repleta de política. No entanto, a música não discorre sobre justiça ou não tem sequer conexão com o discurso, é uma faixa sobre encontrar o amor.  

Enquanto reflete sobre a paixão pela esposa Hailey, “2 Much” é apoiada por uma melodia de piano. Em sequência, “Deserve You” segue com uma batida mais contagiante acompanhada de uma lírica romântica que mostra a angústia de Justin em não querer voltar a ser quem era antes. 

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Com um som envolvente como em “Deserve You”, “As I Am” é um pop animado - uma parceria curiosa com Khalid sobre inseguranças, angústias e necessidade de ser amado: “Às vezes, não sei por que você me ama [...] Me aceite como eu sou, eu juro que farei o melhor que posso.”

Mais temática romântica, mas dessa vez guitarras finas, típicas do R&B contemporâneo, acompanham a quarta faixa, “Off My Face”, e são combinadas aos falsetes do cantor. O resultado é uma música quase acústica. 

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Forte melodia de piano, coral, referências da música gospel estadunidense e parceria de Chance The Rapper - é assim que “Holy” se estabelece e, pela sonoridade, destoa das faixas anteriores. Exatamente por conta disso, é uma das canções mais interessantes do disco.

Unstable”, com The Kid LAROI, tem falsetes de Justin Bieber e elementos do R&B contemporâneo, além da melodia do piano. Com uma lírica novamente sobre o amor, a sexta faixa do disco antecede o “MLK Interlude”, discurso deMartin Luther King.

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Nos últimos anos, o músico se aproximou do cristianismo, e referências deste universo estão muito presentes em Justice como o coral na música "Holy", ou a citação sobre orações a Deus em "2 Much", ou a própria escolha do discurso de Martin Luther King - estes exemplos refletem a fase religiosa. 

No interlúdio, sétima faixa do álbum, Bieber apresenta um trecho de um sermão dos anos 1960 de Luther King o qual o ministro batista descreveu a história bíblica de Sadraque, Mesaque e Abednego: “Você morreu quando se recusou a defender o que é certo. Você morreu quando se recusou a defender a verdade. Você morreu quando se recusou a defender a justiça”. 

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Apesar da potência e intensidade do discurso de Martin Luther King, “MLK Interlude” é uma faixa totalmente desconectada das músicas apresentadas até então. Para as canções seguintes do disco, você espera mais política e falas urgentes, mas encontra mais amor, romance e declarações. 

Inclusive, o artista está sendo criticado por diversas pessoas, como pelo roteirista de 13 Reasons Why, Kirk A. Moore, e pela mídia especializada por trazer áudios intensos e de uma figura tão importante para a história como Martin Luther King e simplesmente não aprofundar a temática. Pelo contrário, o cantor coloca trechos potentes e relevantes, mas fica preso à lírica de amor.

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Na sequência, há um momento musical surpreendente. Justin Bieber revisita o pop oitentista e o new wave pop dos anos 1980 em "Die For You". A sonoridade da música faz com que ela soe como uma faixa perdida de After Hours, do The Weeknd, de 2020.  

O resultado de “Die For You” é curioso e divertido - um ótimo plot-twist de Justice, que abre uma sequência de músicas dançantes após o interlúdio. Bieber segue com as referências oitentistas em “Hold On” e “Somebody” e faz, possivelmente, a melhor de ordem faixas do disco até aqui. 

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Em uma combinação de batida dançante e sonoridade acústica de violão, “Ghost” é uma canção com lírica triste sobre adeus e passado: “Se eu não posso estar perto de você. Vou me conformar com o seu fantasma.”

A união do pop e R&B em "Peaches", parceria com Daniel Caesar e Giveon, é certeira e tabém traz mais elementos sonoros oitentistas bem como o Silk Sonic, projeto de Bruno Mars e Anderson .Paak.

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Um flerte com eletrônica, “Love You Different”, parceria com BEAM, lembra a época auge de Justin Bieber com o Purpouse (2015), e revisita uma fórmula sonora semelhante ao hit “What Do You Mean?”. Em sequência, “Loved By You” é uma variedade de sons contagiantes e dançantes - e apresenta até elementos do afrobeat a partir da colaboração com o cantor, compositor, rapper e dançarino nigeriano, Burna Boy.

Para encerrar o disco, o músico escolheu duas baladas. A apaixonada “Anyone” é uma música melódica e dependente dos vocais de Bieber - e, nela, o cantor confessa publicamente, mais uma vez, o amor pela companheira Hailey.

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Por fim, “Lonely”, em parceria com benny blanco, é um desabafo sobre a solidão enquanto celebridade e as consequências do dinheiro e do grandioso sucesso. É uma confissão sincera sobre as vulnerabilidades e sentimentos profundos, assustadores e complexos.

Em geral, é um disco com ótimas canções pop, bem criadas e produzidas, com destaque para o desempenho vocal do músico. Com o álbum, é visível que Justin Bieber certamente amadureceu como cantor e pôde experimentar gêneros e sonoridades. Justice, no entanto, mostra como o artista segue em busca de uma identidade musical enquanto passeia pelos estilos que o interessam.

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Apesar de ser um trabalho bem melhor se comparado ao álbum anterior, Changes (2020), não há nada impressionante ou surpreendente em Justice. É, provavelmente, um projeto que será esquecido em breve e, no futuro, só os fãs do cantor vão lembrar.

De fato, o disco deixa muito a desejar quando se trata de R&B, gênero que Bieber decidiu explorar em algumas faixas desde Changes, e ao apresentar um discurso tão potente de Martin Luther King e não desenvolvê-lo. Justice já está disponível em todas as plataformas digitais. 

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Assista ao clipe de "Peaches", com Daniel Caesar e Giveon:


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