Rolling Stone
Busca
Facebook Rolling StoneTwitter Rolling StoneInstagram Rolling StoneSpotify Rolling StoneYoutube Rolling StoneTiktok Rolling Stone

Axl Rose bota a voz para funcionar em show do Guns N' Roses em São Paulo

Diferente da apresentação no Rock in Rio, vocalista exibiu potência e comandou um set list de mais de três horas sem deixar as cordas vocais arrefecerem

Paulo Cavalcanti Publicado em 27/09/2017, às 10h47 - Atualizado às 15h29

WhatsAppFacebookTwitterFlipboardGmail
Guns N´ Roses no SP Trip - Ricardo Matsukawa / Mercury Concerts
Guns N´ Roses no SP Trip - Ricardo Matsukawa / Mercury Concerts

Depois de receber The Who, Bon Jovi e Aerosmith, entre outros, o festival SP Trip chegou ao seu dia final na terça-feira, 26, tendo o Guns N’ Roses como headliner. O evento ainda teve shows de abertura de Tyler Bryant & the Shakedown, banda de Nashville que faz um rock de garagem com doses de folk e blues, e do veterano Alice Cooper, o pai do rock horror moderno. Cooper entrou às 18h30, realizando um show compacto, deixando de lado as baladas e centrando fogo no lado mais rock and roll de sua longa carreira.

O começo do set foi arrasador, trazendo os hits da fase áurea do artista na década de 1970: “No More Mr. Nice Guy”, “Under My Wheels”, “Billion Dollar Babies” e a experimental “Halo of Flies”. Da metade para o final, ele encenou o esperado show teatral: briga com uma boneca de pano em "Cold Ethyl"; vira um cientista louco que cria um monstrengo em "Feed My Frankenstein"; mata um mulher em "Only Women Bleed"; e finalmente paga por seus crimes e é guilhotinado em "Killer" e "I Love the Dead". O fim teve a participação do brasileiro Andreas Kisser, guitarrista do Sepultura, em furiosas versões para “I’m Eighteen” e “School’s Out”, está última citando “Another Brick on The Wall”, do Pink Floyd.

Rock em tempos de MTV: dez vídeos essenciais do Guns N’ Roses

Guns RJ x Guns SP

A apresentação do Guns N’ Roses no Rock in Rio no sábado, 23, inflamou as redes sociais. A voz de Axl Rose foi comparada à de Mickey Mouse e Pato Donald. Independente de qualquer outra analogia com personagens da Disney, é compreensível que, aos 55 anos, Axl esteja com a voz desgastada. Porém, em São Paulo, o vocalista surpreendeu: os vocais estavam muito melhores que no Rio, e ele segurou os agudos e trechos rasgados de maneira surpreendente. Nem parecia o mesmo vocalista que se apresentou na capital fluminense, para sorte e alegria do público paulistano (também é preciso frisar: é uma enorme proeza ele segurar a bronca de um show que dura mais de três horas, em ambas capitais).

A apresentação começou por volta das 20h45. Como de hábito, o baixista, Duff McKagan, dividiu o vocal com Axl Rose em “It’s So Easy”, do clássico álbum Appetite for Destruction, que há alguns meses completou 30 anos. Axl, então, assumiu o comando na próxima, mais uma de Appetite: a dançante ode à heroína “Mr. Brownstone”. “Chinese Democracy”, canção que dá título a um dos álbuns mais polêmicos da história do rock, foi a próxima. Quando chegou a vez de “Welcome to The Jungle”, a quarta canção, também de Appetite, de fato o público do SP Trip se entregou, como é de costume em um show do Guns.

A partir daí, a rota estava acertada para o resto a noite. E que ninguém reclame: a banda fez valer o dinheiro pago pelos fãs, com todos os integrantes ativos e dispostos. Axl comandou o show com o gogó potente (bem diferente do Rio) e um set list longo e diversificado no qual não faltou nenhum grande hit. No percurso, o Guns tocou mais duas de Chinese Democracy (o rock industrial “Better” e a balada “This I Love”, um autêntico pastiche do Queen) e uma de “The Spaghetti Incident?" (“Attitude”, cover do grupo punk Misfits, com McKagan no vocal). Não esqueceram também do disco “tapa buraco” G N' R Lies (1988), marcando presença com o hit acústico “Patience” (tocada no bis) e a politicamente incorreta “Used to Love Her”, que não vinha sendo executada ultimamente.

Além da atuação do trio de frente (McKagan, Slash e Axl mostraram vigor a todo o tempo, correndo pra lá e pra cá no palco), também foram destaque as faixas de Appetite e dos dois volumes de Use Your Illusion (1991). Do primeiro e mais impactante álbum do Guns, o setlist teve ainda “Rocket Queen”, “My Michelle” e “Nightrain”, que encerrou a parte principal da apresentação. Naturalmente, a banda executou o mega-hit "Sweet Child O' Mine", joia da coroa de Appetite. De Use Your Illusion, veio o sucesso “You Could Be Mine” (tema do filme O Exterminador do Futuro 2: O Julgamento Final), a longa e estranha “Coma”; a eficiente e atual “Civil War”; as baladas “Estranged”, “Yesterdays” e “Don’t Cry” e o rock “Double Talkin' Jive”. E ainda teve o grande momento romântico “November Rain”, com Axl ao piano, um momento que nunca falha em despertar emoções entre os fãs.

Ao longo da apresentação, várias outras covers foram executadas pelo Guns. Algumas delas eram esperadas, já que se tornaram hits para a banda. Já outras adentraram o campo dos tributos e homenagens. Não houve surpresa em relação a “Knockin’ on Heaven’s Door” (Bob Dylan) e “Live and Let Die” (Paul McCartney com o Wings), mas ainda foram incluídas “The Seeker” (do The Who, que abriu para o Guns no Rio) e “Black Hole Sun” (do Soundgarden, uma homenagem a Chris Cornell). Em “Wish You Were Here”, do Pink Floyd, Slash e o segundo guitarrista, Richard Fortus, protagonizaram um belo dueto. As maiores surpresas foram “Wichita Lineman”, do recém-falecido astro country Glen Campbell, e "I Got You (I Feel Good)", de James Brown.

A apresentação seguiu a dinâmica que vem marcando este retorno do Guns: Axl e Slash respeitam os respectivos territórios, sem que permaneça a impressão que um esteja roubando a cena do outro. Claro, como vocalista, Axl se destaca sob os holofotes, e ele segue nesta nova fase com um perfil profissional, sem espaço para improvisos, falando pouco e, o mais importante, não demonstrando possibilidade de ataques de nervos como os do passado. Em compensação, Slash, muito mais ovacionado pelo público, ainda é uma força da natureza - um dos maiores prazeres para quem gosta de rock é ver as mãos do mestre criando mágica. Em sua parte solo, Slash tocou "Johnnie B. Goode", de Chuck Berry, e o inevitável tema de O Poderoso Chefão, de Nino Rota. O baixista Duff McKagan e o tecladista Dizzy Reed cumpriram suas partes de sempre; a presença deles também serviu para lembrar como era o Guns de cerca de 25 anos atrás. Já os acompanhantes Frank Ferrer (bateria), Melissa Ferrer (teclados, vocais) e Richard Fortus deram o o resguardo sonoro necessário.

Quando o enorme público ainda presente no Allianz começou a ouvir, por volta da meia-noite, os primeiros acordes de “Paradise City”, outro grande hino de Appetite for Destruction, chegava a hora de se preparar para a despedida. A marcante frase da canção, clamando “oh, Senhor, você não vai me levar para casa?”, nunca sou tão urgente. Sim, a apresentação de mais de três horas do Guns N’ Roses em São Paulo serviu para lavar a alma de quem estava apreensivo com a performance do Rock in Rio - e para provar que a banda ainda tem muita lenha para queimar.