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Beatles, Neil Young e Marvin Gaye: 10 discos lendários que nunca foram lançados

Separamos uma lista com "álbuns perdidos" de artistas que revolucionaram a história da música

Rolling Stone EUA Publicado em 29/09/2019, às 14h00

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Montagem com (AP Photo/Martin Cleaver), Beatles (Foto: AP File) e Marvin Gaye (AP Photo/Nancy Kaye)
Montagem com (AP Photo/Martin Cleaver), Beatles (Foto: AP File) e Marvin Gaye (AP Photo/Nancy Kaye)

Os "Álbuns perdidos" podem esconder muitas memórias.

Uns manifestam-se pela liberdade criativa. Outros revelam conflitos internos entre parceiros de banda. Há, também, aqueles que são simplesmente deixados de lado ou esquecidos.

Algumas das obras a seguir mudariam o curso da história para sempre, enquanto outras podem simplesmente ter soado legal. Mas todas elas merecem ser ouvidas.

Abaixo, confira 10 álbuns lendários - de artistas lendários - que jamais foram lançados.

Os Beatles: Get Back (1969)

Get Back foi concebido como um álbum de rock que retomava os ideais clássicos: livre de produções muito elaboradas, sua gravação ocorreu num estúdio de cinema - muito semelhante a um hangar - com o objetivo inicial de compor um documentário sobre os icônicos Beatles.

A premissa do disco era interessante, mas as condições ambientes para fazer música não eram das melhores. Além disso, a câmera se mostrou um tanto impessoal e intrusiva. 

Foram longas e torturosas sessões, que terminaram com a famosa apresentação dos meninos de Liverpool no telhado da Apple Records. Posteriormente, ninguém conseguiu enfrentar as 85 horas de material que a banda acumulou.

O produtor Glyn John recebeu o trabalho invejável de resgatar uma lista de canções 'utilizáveis' dos destroços. "Eu originalmente montei um álbum de ensaios", disse ele à BBC. "Com bate-papos, piadas, conversas entre as faixas, colapsos e falsos começos."

Os quatro rapazes aparentemente "gostaram" da abordagem espontânea sugerida por John, mas o novo gerente dos BeatlesAllen Klein, se recusou a lançar um produto tão polido. Assim, em março de 1970, ele convenceu John Lennon a entregar as fitas ao produtor Phil Spector, que, faixa a faixa, introduziu diversos elementos de orquestra.

Nem todos os integrantes da banda foram favoráveis às alterações. "Ninguém me perguntou o que eu pensava", suspirou Paul McCartney para o biógrafo Barry Miles. O cantor ficou extremamente pálido ao ouvir a versão de Spector, especialmente na música "The Long and Winding Road", carregada de cordas, harpas e um coro melodramático.

Os pedidos para remover os instrumentos foram negados e o álbum foi lançado como Let It Be.

Bob Dylan e Johnny Cash: The Dylan/Cash Sessions (1969)

Bob Dylan e Johnny Cash rodearam-se, um ao outro, por quase uma década antes de finalmente unirem suas forças no estúdio.

Em 1962, o Homem de Preto, Cash, fez a primeira jogada e escreveu uma carta ao jovem Dylan, que ainda estava entrando em cena. Quando se conheceram pessoalmente durante o Newport Folk Festival, Cash entregou uma de suas guitarras a Dylan como sinal de respeito e admiração.

Posteriormente, em fevereiro de 1969, Dylan gravava seu nono álbum de estúdio, Nashville Skyline, na cidade natal de Cash, que, por acaso, estava trabalhando no estúdio ao lado. Assim, Dylan resolveu visitá-lo e, nos dias 17 e 18 de fevereiro, os dois cantaram uma dúzia de duetos juntos. No entanto, apenas um deles, "Girl From the North Country", foi inserido no produto final de Bob Dylan, o álbum The Freewheelin' Bob Dylan.

Na sessão, a música "One Too Many Mornings", de Dylan, também foi reproduzida, bem como os sucessos de Cash, "I Walk the Line", "Ring of Fire", "Big River", etc.

Jimi Hendrix: Black Gold (1970)

No início da década de 1970, Jimi Hendrix queria estender seu legado para além das músicas convencionais do Rock N' Roll. "Peças. Acho que é assim que se chamam", ele descreveu para a Rolling Stone EUA. "Como movimentos, eu tenho escrito algumas."

Um belo dia, Hendrix pegou seu violão Martin, registrou uma sessão com 16 faixas em algumas fitas, com o título de Black Gold, e foi correndo entregá-las ao baterista Mitch Mitchell, para que tomasse parte do projeto. 

Contudo, não demorou muito para que Hendrix partisse, deixando os registros da gravação sob a posse de Mitchell, que os arquivou por duas décadas. Durante esse período, as fitas foram, presumivelmente, roubadas e perdidas para sempre, levando a especulações intermináveis sobre o que elas continham - se é que existiam. Hendrix pouco falava sobre Black Gold na imprensa, deixando apenas rastros oblíquos sobre sua nova direção critativa.

O mistério do álbum foi parcialmente resolvido em 1992, quando Mitchell redescobriu as fitas perdidas em sua casa, na Inglaterra. Então, seis músicas foram concluídas e divulgadas, enquanto outros títulos deveriam ser exclusivos.

Após anos de disputas legais, o patrimônio de Hendrix prometeu entregar o ouro em algum momento desta década, mas, até agora, somente a primeira música, "Suddenly November Morning", foi lançada.

The Who: Rock Is Dead – Long Live Rock! (1972)

Lifehouse era a fábula distópica planejada pelo guitarrista do The WhoPete Townshend, como a continuação do álbum Tommy, lançado em 1969.

No entanto, após um ano de suor e colapsos, o projeto acabou sendo descartado e as músicas foram canalizadas para o disco Who's Next, de 1971. Townshend, então, escolheu um tema mais próximo de casa.

Rock Is Dead - Long Live Rock! seria um álbum autobiográfico da banda: numa época na qual o glam rock estava decolando no Reino Unido, The Who desligava seus sintetizadores e trabalhava no retrô.

As sessões ocorreram entre maio e junho de 1972, com Glyn Johns atuando como co-produtor. De acordo com Townshend, a gravação estava quase completa, e até surgiram rumores de um especial de televisão que acompanharia o lançamento do álbum.

No entanto, com o passar do verão, a banda começou a sentir que ele remetia muito ao Who's Next, diminuido o entusiasmo. "As pessoas não querem sentar e ouvir todo o nosso passado", resmungou o guitarrista.

Foi assim que Rock Is Dead se tornou a próxima ópera-rock de The WhoQuadrophenia.

Pink Floyd: Household Objects (1974)

Com o álbum Dark Side of the Moon, de 1973, o Pink Floyd alcançou o sucesso mundial praticamente da noite para o dia.

Em sequência, os integrantes da banda adotaram um conceito tão irreverente quanto vanguardista: eles gravariam um disco inteiro sem utilizar instrumentos musicais, o Household Objects. O projeto consistia em músicas tocadas com o barulho ambiente de lâmpadas, martelos, vassouras e eletrodomésticos.

"Passávamos dias combinando um lápis e um elástico até que aquilo soasse como um baixo", lembrou o tecladista Richard Wright à BBC, em 2007. "Lembro-me de sentar com Roger [Waters] e dizer: 'Roger, isso é loucura!'", concordou o guitarrista David Gilmour. "Para mim, pessoalmente, a experiência tornou-se bastante insatisfatória."

Em vez de tentar que um elástico soasse como um baixo, eles roselveram simplesmente usar um baixo. Os instrumentos foram restabelecidos e os objetos domésticos foram interrompidos, por fim.

Um mês de trabalho rendeu apenas duas faixas semi-completas: "The Hard Way" e "Wine Glasses". A primeira não veria a luz do dia até 2011, quando foi lançada como faixa bônus. Enquanto isso, "Wine Glasses" foi incorporada à música "Shine On You Crazy Diamond", peça central do próximo álbum do Pink Floyd, Wish You Were Here, de 1975.

David Bowie: The Gouster (1974)

No álbum Diamond Dogs, de 1974, David Bowie já dava indícios de sua crescente paixão pelo Rythm and Blues. Tanto que, durante uma viagem pelos Estados Unidos, ele ficou encantado com o Soul da Filadélfia, radiante pelas ondas de rádio.

O artista, então, decidiu ir direto à fonte, reservando um horário no famoso estúdio Sigma Sound, na Filadélfia, onde ele reuniu a equipe dos sonhos. Várias semanas de atividade renderam músicas suficientes para a elaboração de um disco completo. "Young Americans", a canção, é a mais conhecida entre elas, com seu aceno lírico para o então presidente dos Estados Unidos, Richard Nixon, que renunciaria em dois dias.

O produtor Tony Visconti montou as faixas, compilando-as sob o termo The Gouster, expressão que ele mesmo define como "Um cara moderno que anda pela rua estalando os dedos". Era uma etiqueta que combinava muito bem com o nosso astro. "Eu acho que é a coisa mais próxima de mim", disse Bowie.

The Gouster estava prestes a ser lançado quando um dos Beatles interveio. Era John Lennon. "Cerca de duas semanas depois de mixarmos o álbum, David telefonou para dizer que ele e John Lennon haviam gravado uma música chamada 'Fame'", lembrou Visconti. A dupla também lançou uma versão de "Across the Universe", de Lennon.

Para acomodar cortes e adições, a lista de faixas mudou diversas vezes até se tornar o álbum Young Americans, lançado em março de 1975.

Neil Young: Homegrown (1975)

Em 1974, a vida de Neil Young estava em declínio. Sua esposa, a atriz Carrie Snodgrass, foi embora, e as tentativas frustradas de reacender um relacionamento profissional com o Crosby, Stills, Nash & Young resultaram apenas no disco abortado Human Highway.

Foi durante esse período turbulento que ele escreveu e compôs músicas para um novo álbum solo, Homegrown. "Lá estava um cara passando pelo inferno, e foi quase como uma catarse para ele", disse o produtor Elliot Mazer.

Títulos tocantes como "Frozen Man", "Separate Ways" e "Love-Art Blues" pintam o retrato de um homem solitário e de coração partido, como estava Young. Quem ouviu o disco completo insistiu que ele era tão forte quanto Harvest, de 1972. 

Automaticamente, a arte da capa foi impressa e os executivos das gravadoras já se prepararam para mais de um milhão de vendedores. Mas o artista simplesmente mudou de ideia.

Pouco antes, ele havia reunido amigos, incluindo o multi -instrumentista Rick Danko, no Chateau Marmont, em Los Angeles, para obter mais e mais opiniões sobre seu trabalho recente. A surpresa é que, quando a fita de Homegrown chegou ao fim, uma mistura do sombrio, corajoso e inédito álbum Tonight's the Night, também de Young, começou a tocar por acaso.

Danko preferiu o poder bruto de Tonight's the Night ao relativamente delicado Homegrown e, desconsiderando o conselho dado pela gravadora, Young o lançou em junho. "[Homegrown] pode ser o que as pessoas queriam ouvir de mim, mas era um álbum muito baixo", disse ele à Rolling Stone EUA na época. "Foi um pouco pessoal demais... me assustou."

Marvin Gaye: Love Man (1979)

Os vícios de Marvin Gaye estavam causando sérios estragos em sua carreira, e o público começou a migrar para artistas mais jovens, como Rick James e Prince

"Todos esses garotos estão flertando com meus fãs", reclamou o astro da Motown antes de começar a compor as músicas que integrariam o disco Love Man, uma tentativa descarada de reconquistar sua esposa, Janis Hunter, e seus ouvintes.

"A Lover’s Plea" revelava a tristeza de Gaye: "Se Deus lá em cima é capaz de me perdoar, por que você não pode?"

O álbum acabou não fazendo tanto sucesso, e uma nota fiscal de US$ 4,5 milhões só piorou as coisas para o músico. Desesperado por dinheiro, ele pegou a estrada e fez várias apresentações mornas antes de pular para fora do barco.

Dívidas incapacitantes o forçaram a declarar falência e o levaram à tentativa de suícidio. Gaye cheirou uma onça de cocaína, mas sobreviveu e tentou colocar sua vida em ordem.

Para fugir desse período infeliz, ele começou a trabalhar num novo disco, In Our Lifetime. "Não importa quanto dinheiro Motown me desse para lançar Love Man, eu não conseguiria fazê-lo", disse ele à Ritz. Havia rumores de que ele queria revisitar o álbum, mas essas esperanças morreram com ele em 1984.

The Clash: Rat Patrol From Fort Bragg (1981)

The Clash estava começando a se fragmentar no outono de 1981, quando o vocalista Joe Strummer e o guitarrista Mick Jones passaram pela direção sonora da banda. Strummer preferia o rock and roll mais sujo, enquanto Jones queria continuar explorando as tendências da música mundial, presentes em seus trabalhos anteriores.

Assumindo o papel de produtor, Jones propôs um ambicioso disco duplo, com o título de The Rat Patrol From Fort Bragg. Gravado majoritariamente em Nova York, o mix final atingiu os 80 minutos de duração.

Ouvidas hoje, as fitas representam o amplo espectro de influências da banda. Traços de hip-hop, surf rock, calypso, funk, new wave e afrobeat brilham por toda parte, envoltos na névoa eletrônica da produção de JonesPode não ter sido o melhor álbum deles, mas certamente está entre as declarações artísticas mais interessantes.

Contudo, a reação do restante da banda foi negativa. "Por que tudo tem que soar como um maldito raga?", reclamou o gerente deles, furioso, ao ouvir as faixas. Rotulando o trabalho de auto-indulgente e divagante, Strummer contratou o superprodutor Glyn Johns para transformá-lo num disco único mais comercial.

Assim, Johns descartou cinco músicas por completo, diminuiu a duração de mais cinco e retirou grande parte da produção pesada. Com 46 minutos finais, The Clash lançou Rat Patrol em maio de 1982, sob o título de Combat Rock.

Bruce Springsteen: Electric Nebraska (1982)

Nebraska começou como um esboço acústico gravado na casa de Bruce Springsteen, em Nova Jersey, durante a primeira semana de janeiro de 1982. Ele registrou demos de guitarra e vocais para, posteriormente, desenvolver cerca de 15 faixas ao lado da E Street Band.

Essas músicas eram mais sombrias e macabras do que seus trabalhos anteriores, refletindo o mal-estar do músico, que passava por dificuldades familiares e isolamento da fama.

No mês seguinte, Springsteen e sua banda se reuniram num estúdio em Nova York para dar o tratamento completo às faixas pré-projetadas. Mas, ao passo que o trabalho avançava, o próprio compositor ficou insatisfeito com as tomadas fortemente orquestradas.

"A letra foi anulada", disse ele à Uncut. "Não funcionou. Esses dois formatos não encaixam. A banda faz barulho, e a letra queria silêncio."

Ele decidiu que as delicadas fitas demo eram mais adequadas do que aquela superprodução. E então as gravações em estúdio foram sucateadas para que Springsteen lançasse 10 faixas de suas sessões como Nebraska.

Por décadas, não ficou claro quantas músicas tinham sido concluídas no chamado Electric Nebraska, mas o baterista Max Weinberg confirmou recentemente que o álbum existe: "A E Street Bandgravou o Nebraska por completo, e estava de arrasar!", ele revelou à Rolling Stone. "Por mais incrível que fosse, não era o que Bruce queria lançar - todas essas músicas devem estar em alguma lata de lixo por aí."