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Beirut embala paulistanos com show de ritmos universais

Banda norte-americana incluiu "Aquarela do Brasil" em apresentação marcada pela boa execução instrumental

Por Adriana Douglas Publicado em 12/09/2009, às 14h49

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Depois de passar por Salvador e Rio de Janeiro, a banda norte-americana Beirut desembarcou em São Paulo para dar continuidade ao festival Perc Pan. Com ingressos esgotados, a apresentação na Via Funchal nesta sexta-feira, 11, foi regida pela bela desenvoltura instrumental do grupo, conhecido pela sonoridade retirada da região dos Bálcãs, na Europa.

Se na capital baiana o show foi marcado por confusão - um microfone sumiu quando o público subiu ao palco e um possível exagero alcoólico dos integrantes comprometeu a qualidade da apresentação -, em São Paulo, a trupe se comportou. O frontman Zach Condon, de 23 anos, comandou uma festa musical concisa e bem executada - e não escorregou nos vocais. Logo na primeira canção, "Nantes", os seis integrantes tiraram todos os espectadores das cadeiras. O show do Beirut não combina com uma plateia sentada.

Nada de exageros visuais: a banda, unida no centro do tablado, só dividia as atenções com uma moldura de panos trabalhados ao redor do palco, lembrando o cenário de um teatro de fantoches. Entre uma música e outra, os rapazes faziam pequenas pausas: conversavam, testavam os instrumentos, como se estivessem em uma sala, apenas ensaiando. A descontração contagiou o público que, mesmo parecendo não conhecer tão intimamente o repertório, permanecia atento. E assim, veio o aguardado "presente": ainda nos primeiros 15 minutos, a banda apresentou o hit "Elephant Gun". Inserida na trilha sonora da minissérie televisiva Capitu, a faixa "apresentou" o Beirut ao público tupiniquim. Introduzida com uma palhinha de "Aquarela do Brasil", foi acompanhada em coro.

Em alguns momentos, Condon gesticulava como se regesse uma pequena "orquestra", com trompete, trombone, tuba, baixo, bateria, acordeão, vibrafone e ukelele. Boa parte do mérito da apresentação se deve ao fôlego dos metais, sempre em evidência no repertório dos indies. Houve até um dueto de trompetes, à frente do palco, ao estilo mariachi, em "My Wife".

O setlist dos 70 minutos de apresentação incluiu faixas dos dois álbuns de estúdio, Gulag Orkestar (2006) e The Flying Club Cup (2007), e do EP duplo March of the Zapotec/Holland, lançado no início deste ano. Não faltaram "The Shrew", "Cozak", "Postcards From Italy", "Scenic World" e "Cherbourg". Ainda sobrou espaço para a canção àrabe "Siki Siki Baba" e um cover de "La Javanaise", de Serge Gainsbourg.

Carismático, Condon se arriscou no idioma do país: se limitou a "não sei dizer português", antes de bradar "Toca Raul!". Bajulado por garotas nas mesas da frente, o vocalista chegou a se mostrar um tanto acanhado com o assédio, mas sem perder o bom humor.

A banda saiu rapidamente do palco depois de "Sunday Smile", voltando em seguida para o bis. Enrolado na flâmula verde e amarela do país, atirada por um fã, Condon declarou o lema "Ordem e Progresso" e iniciou, desta vez na íntegra, "Aquarela do Brasil", cantada em inglês e ovacionada pelo público. Na última música, os artistas convidaram a plateia a subir no palco, mas aqui, a brincadeira foi impedida pelos seguranças.

Ao final da ode ao país, Condon agradeceu e desejou boa noite, dando a entender que o show tinha mesmo chegado ao fim. As luzes já estavam acesas e o palco escuro, quando, ao som dos gritos pela volta da banda, os integrantes retornaram ao palco. Parecendo surpresos com a receptividade, tocaram "Gulag Orkestar". Todos os integrantes colocaram a voz no coro da música. Na hora de se retirar, Zach ainda bateu timidamente no peito como forma de mostrar a gratidão pelo espetáculo.

Manacá

Uma hora antes do Beirut dar as caras no recinto, a banda Manacá se encarregou de aquecer o público. Os lugares da plateia permaneciam, em boa parte, ainda vazios quando Letícia Persiles e seus companheiros subiram ao palco.

Além do microfone, a atriz e cantora - que interpretou a versão jovem da protagonista de Capitu - ainda cuidava do pandeiro e das castanholas, preenchendo a sonoridade que lembrava, em diversos momentos, o próprio Beirut. Também era possível ouvir ecos dos Los Hermanos quando bateria e guitarra se destacavam no som.

Letícia transformou a ocasião em um espetáculo com ares teatrais, rodopiando no centro do tablado com um xale nas mãos e reverenciando a plateia ao final das canções. Pena que boa parte do público não aproveitou a boa apresentação - e quem tentava assistir ao show sofreu com a massa de gente que zanzava pelo espaço à procura dos lugares. Mesmo assim, o Manacá empolgou os ouvidos atentos com a boa "Diabo" e um cover de "Canto de Ossanha", de Baden Powell e Vinícius de Moraes.