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Chorão: Marginal Alado expõe dualidade intensa do frontman do Charlie Brown Jr. [REVIEW]

Filme que estreia nesta quinta, 8, mostra a jornada do vocalista; do início ao estrelato até a sua morte em março de 2013

Itaici Brunetti Publicado em 08/04/2021, às 10h42 - Atualizado às 10h54

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Chorão (Foto: Divulgação)
Chorão (Foto: Divulgação)

Letrista, compositor, cantor, frontman, roqueiro, rapper, punk, hardcore, skatista, marido, pai, amigo, businessman, "gangster" e "marginal". Alexandre Magno Abrão, o Chorão, vocalista do Charlie Brown Jr., era tudo isso e lidava com uma dualidade intensa que se dividia entre a pessoa amorosa, de bom coração, e a de temperatura explosiva com atitudes polêmicas. 

Dirigido por Felipe Novaes e com produção de Hugo Prata e Fábio Zavala, o filme Chorão: Marginal Alado, que estreia nesta quinta, 8, nos cinemas e plataformas digitais, retrata essas duas facetas do Chorão, uma pessoa tão endeusada e tão demonizada. A vida do cantor é relatada através de muitas imagens inéditas [foram cerca de 800 horas de material do arquivo pessoal de um cinegrafista que acompanhava o cantor] e depoimentos de pessoas importantes do convívio do astro. 

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Das entrevistas realizadas, destaca-se a do baixista do Charlie Brown Jr., Champignon [que falou com a produção sete dias antes de cometer suicídio em 2013], dos guitarristas Marcão e Thiago Castanho, do filho do Chorão, Alexander Magno Abrão, e da viúva Graziela Gonçalves. Amigos e funcionários que trabalhavam para o músico, como o seu segurança pessoal, advogado e motorista da banda, complementam o trabalho. 

Também participam o produtor Rick Bonadio, o apresentador Serginho Groisman, o ator Paulinho Vilhena, os músicos Zeca Baleiro, João Gordo [Ratos de Porão], Digão [Raimundos], Marcelo Nova [Camisa de Vênus] e muitos outros. 

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Chorão: Marginal Aladoexpõe o lado humano, carinhoso e caridoso do astro que, provavelmente, muitos fãs não conheciam; a afetividade com a mãe e com o irmão, a parceria com o filho, o amor infinito pela esposa, a preocupação em ajudar o melhor amigo ex-detento dando a ele uma nova oportunidade de vida, e, obviamente, a preocupação com os fãs. 

Em uma das cenas mais emocionantes, Chorão ouve paciente uma fã dizer após um show que ama o Charlie Brown Jr., mas não tem dinheiro para comprar os CDs da banda. Então, o vocalista aconselha: "Baixa o som. Não gasta dinheiro com essa p*rra. Baixa o som, tá ligado? O som é para vocês, não precisa comprar. Ame as pessoas e use as coisas o máximo que tu puder." 

Em outro momento, o guitarrista Thiago Castanho exalta a humildade do companheiro de banda dizendo que ele não gostava de fazer marketing de si mesmo pelos pequenos grandes feitos. "Você não via o Chorão se gabando por aí por ter pago 20 mil dólares [R$ 112 mil na cotação atual] em uma perna de titânio para um moleque conseguir andar de skate.", relata. 

No entanto, do lado oposto do "médico" havia o "monstro". O lado angustiado, conflituoso, explosivo e agressivo que, somados ao vício em drogas que foi ficando sem controle no decorrer de sua vida, levou Chorão à solidão e à morte em 6 de março de 2013. Tudo isso é mostrado no filme. 

A polêmica briga que o Chorão teve com o Marcelo Camelo [Los Hermanos], e também com João Gordo, são relatadas no longa, assim como os desentendimentos com Champignon durante a última formação do Charlie Brown Jr., que vieram a público e foram muito reproduzidos no Youtube e pela mídia. 

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A impressão que fica é que não era fácil ser o Chorão. Um artista que carregava uma carga imensa de talento, energia e responsabilidade que se juntava a uma fragilidade emocional gigantesca. Tudo era à flor da pele. Ele nadava em um mar de emoções de ondas conflituosas que, se não soubesse surfar nelas, poderia ser engolido a qualquer momento. E o mar o engoliu.

Por ser tão intenso, determinado e honesto consigo mesmo e com os demais é que Chorão se tornou símbolo de uma geração da música brasileira, dos mais respeitados e que será eternamente lembrado. Parafraseando o próprio, "quem é de verdade sabe quem é de mentira", e Chorão: Marginal Alado mostra de forma emocionante que ele era de verdade. 

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Chorão: Marginal Alado recebeu o prêmio da Mostra Internacional de Cinema de SP em 2019. A partir desta quinta, 8, o filme pode ser assistido nos cinemas e nas plataformas NOW, Google Play, Apple TV e Vivo Play.


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Lançamento do primeiro disco 

Transpiração Contínua Prolongada (1997), foi o primeiro álbum de estúdio da banda. Recheado de sucessos como “Proibida Pra Mim”, “O Coro Vai Comê” e “Tudo Que Ela Gosta De Escutar” e produzido por Rick Bonadio pela Virgin Record, foi muito bem recebido pela mídia e público.

Com um som punk-rock-skate dos anos 1990 misturado ao rap e reggae, a estreia da banda não poderia ter sido melhor. Com os versos “Os caras do Charlie Brown invadiram a cidade” e outros ainda mais icônicos, a banda alcançou Disco de Platina. 

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Prêmio VMB 1998

Um ano após o lançamento do disco de estréia, a banda ganhou o  prêmio do MTV Video Music Brasil, premiação dos melhores clipes de música nacionais. O grupo ganhou na categoria Banda Revelação com o vídeo de “Proibida Pra Mim”, hit na época.

“Aquele prêmio era a confirmação da importância e da credibilidade alcançada pela banda no cenário musical brasileiro. Era um grande passo,” afirmou Graziela Gonçalves, ex-esposa de Chorão, no livro “Se Não Eu Quem Vai Fazer Você Feliz - Minha História de Amor com Chorão”.  Confira o show da banda na premiação:

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Primeiro show 

Em 1995, dois anos antes do primeiro disco, Charlie Brown Jr consolidava o estilo e as músicas da banda. Na mesma época, o grupo carioca Planet Hemp, formado por Marcelo D2e BNegão, lançava o álbum de estréia Usuário, grande inspiração para a sonoridade do Charlie Brown Jr.

De olho na agenda de shows, Graziela soube de uma apresentação da banda no Guarujá, cidade vizinha a Santos, litoral de São Paulo, e sugeriu aoCharlie Brown Jr abrir o show do Planet

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Após muitos telefonemas e persistência, Grazi e Chorão foram até o hotel no qualPlanet Hemp estava hospedado para conversar com os integrantes e sugerir o show. Após falar com D2 - conhecido deChorão das pistas de skate de São Paulo - a banda topou e deixou CBJr abrir. Foi a primeira conquista da banda. Na época, cantavam apenas em inglês e estavam no processo de formação da identidade musical, então, foi um grande primeiro passo.


Abertura da Malhação 

No auge do sucesso do Charlie Brown Jr, entre 1999 e começo dos anos 2000, a banda era requisitada para todo tipo de show e participação. Assim, a famosa novela teen da TV Globo, Malhação, não perdeu tempo e escalou a banda para ceder hits para música de abertura.

A parceria deu muito certo e o estilo da novela combinou com as letras da banda; “Te Levar Daqui” e “Lutar Pelo O Que É Meu” foram tema de abertura entre 1999 e 2007. Essa parceria foi responsável por tornar a banda ainda mais conhecida e querida para o público - principalmente entre os jovens. Confira o vídeo da abertura da novela em 2004 ao som de “Te Levar Daqui”:

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Acústico MTV

Diferente das outras edições do Acústico MTV, no qual os artistas convidados passaram pelo auge da fama e fazem o acústico para “reviver” algumas músicas icônicas, Charlie Brown Jr participou no ápice da carreira e levou todo estilo de rua despojado para o Teatro Mars em São Paulo.

A participação no programa mostrou mais do potencial da banda. Com os convidados  Marcelo D2,Negra Lie RZO, o disco da gravação acústica ganhou selo de Platina; o DVD da apresentação foi o terceiro  mais vendido de 2003.

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Confira abaixo um trecho do Acústico MTV com a música "Vícios e Virtudes":


Brigas e diferentes formações 

Entre muitas brigas e acertos, o guitarristaThiago Castanho deixara a banda após a turnê do terceiro disco, “Nadando com os Tubarões” (2000), por problemas pessoais e falta de tempo, e retornou ao Charlie Brown Jr em 2005. No mesmo ano, Marcão(guitarrista), Champignon (baixista) e Renato Pelado  (baterista) saíram da banda, retornando em 2011, e ficaram até o fim do grupo em 2013. 

Com o retorno de Castanho e a saída dos três integrantes, o grupo foi atrás de novos músicos para comandar o baixo e a bateria. Assim, escalaram Heitor Gomes e Pinguim (André Ruas), respectivamente. Com a nova formação, a banda fez um show de estreia do novo CBJr em 2005, promovido pela Rádio Jovem Pan, em São Paulo. 

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Chorão Skate Park 

Desde muito novo, Chorãotinha ligação com o skate. Nascido na Zona Norte de São Paulo, sempre esteve em contato com esse estilo de vida, frequentando diversas pistas na cidade. Quando se mudou para Santos, não deixou de lado essa paixão e virou ícone do skate na cidade. Em meados de 2003, começou o projeto de construir uma pista de skate aberta ao público para andar com amigos e fãs.

Em 2005, a pista ficou pronta. Com o nome de Chorão Skate Park, reuniu shows da banda, matérias da MTV e outros grandes eventos - como etapas do Circuito Brasileiro de Freestyle. Após a morte do vocalista, não era possível manter a pista, e depois de frustradas tentativas de mantê-la, foi demolida em janeiro de 2014.

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Confira matéria doJornal MTVem 2006:


Planeta Atlântida 2013

Considerado o último grande show do Charlie Brown Jr com Chorão e Champignon - integrante da formação original falecido seis meses após Chorão - a banda fez história no Planeta Atlântida (Rio Grande do Sul). De acordo com os integrantes, adoravam tocar no festival, e a apresentação de 2013 foi inesquecível. Músicas como “Te Levar”, “Tudo Que Ela Gosta de Escutar” e outros hits alucinaram o público. 

Nessa época, a banda estava cheia de conflitos internos e brigas, estressando cada vez mais Chorão. O músico passava por sérios problemas com drogas, deixando o clima entre eles muito pesado. No mesmo mês do festival, em janeiro, a banda se apresentou em uma casa noturna em Camboriú (RS), último show oficial da banda, reunindo 3 mil pessoas.

Veja como foi a apresentação no festival:


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