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Chris Martin elétrico

Vocalista do Coldplay não parou um minuto em apresentação realizada nesta terça-feira, 2, em São Paulo

Por Fernanda Catania Publicado em 16/05/2011, às 12h40

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Danças toscas, giros desajeitados e até cambalhotas fizeram parte da performance de Chris Martin - Bruna Sanches
Danças toscas, giros desajeitados e até cambalhotas fizeram parte da performance de Chris Martin - Bruna Sanches

O Chris Martin dos palcos não é o Chris Martin que estamos habituados a ver por aí. O líder do Coldplay, que costuma manter a pose calada e arredia diante da imprensa, estava especialmente inspirado durante a apresentação do grupo nesta terça-feira, 2, no estádio do Morumbi, em São Paulo. Não só pelo constante sorriso durante as quase duas horas de show, mas por sua euforia em cima do palco. Em meio a músicas melancólicas, uma constante no repertório da banda, os inúmeros pulos e giros desajeitados do vocalista ajudaram a animar o público paulistano.

Além da empolgação de Chris Martin, outro destaque são os aparatos técnicos desta turnê. A noite contou com um intenso jogo de luzes, em perfeita sintonia com as batidas da bateria ou os acordes da guitarra. Os feixes de luz mudavam constantemente de cor, conforme a intensidade das músicas e o ápice dos refrãos, e refletiam nas cinco bolas gigantes penduradas no teto do palco.

Mas nem a alegria do líder, nem a beleza do palco foram capazes de disfarçar o baixo som das caixas, problema que reinou durante boa parte da apresentação. A porção das 65 mil pessoas (apesar do número informado pela assessoria de imprensa do evento, a impressão, meia hora antes do início do show, é de que havia bem menos gente) que estava nas arquibancadas chegou a vaiar e gritar para que os técnicos aumentassem o volume.

O espetáculo

Contradizendo a origem britânica, o grupo atrasou 17 minutos para começar a apresentação, marcada para 21h30, depois dos shows de abertura do Vanguart e da inglesa Bat For Lashes. Ao som da valsa "O Danúbio Azul", de Johann Strauss, Chris Martin, Jonny Buckland (guitarra), Guy Berryman (baixo) e Will Champion (bateria) apareceram no meio do escuro, iluminados apenas pelos bastões de fogos que seguravam. Logo depois, emendaram a instrumental "Life in Technicolor", do álbum Viva La Vida or Death and All his Friends (2008). Buckland sofreu com um problema na guitarra, que foi consertado logo no primeiro minuto de apresentação. A falha, no entanto, mal foi percebida pelo público, eufórico para ouvir os hits da banda inglesa.

O grupo seguiu com as esperadas "Violet Hill", "Clocks" e "In My Place". Em seguida, os fãs que seguravam bexigas desde o início da noite estouraram os balões e tentaram puxar um fracassado "Parabéns a você" para Chris Martin, que completou 33 anos nesta terça.

Durante "Yellow", o painel localizado no fundo do palco, estampando uma imagem da arte de Viva la Vida, deu vez a um telão. A plateia, que cantava em uníssono o refrão de uma das músicas mais famosas do Coldplay, se apertava para tentar tocar em bolas que foram jogadas na pista. "Isso foi fantástico", disse Martin em referência à potência vocal das milhares de pessoas à sua frente, numa das várias vezes que interagiu com os brasileiros.

Na leva de canções melancólicas, "Fix You" foi uma das mais emocionantes. Martin, sentado ao piano, pediu para o público acompanhá-lo - no coro de "lights will guide you home", as luzes do estádio acenderam, antecedendo uma explosão de fogos de artifício vermelhos, atrás do palco, ao final da faixa.

Em "God Put a Smile Upon Your Face", a banda se deslocou para a ponta da passarela esquerda (são duas, que avançam do palco principal em direção ao público da apertada pista vip). Champion, que nesse momento tocava uma bateria eletrônica, jogou as baquetas para o público. Os três integrantes saíram, enquanto Martin continou ao piano. "Não tinha jeito melhor de comemorar o aniversário do que ouvir 60 mil brasileiros", afirmou o vocalista emendando "The Hardest Part".

Introduzida durante todo o show pelo público, que repetia incansavelmente o indefectível "oooh ooh", "Viva La Vida" quebrou completamente o clima sereno das últimas músicas. Martin se jogou no chão, aparentemente emocionado ao ouvir o estádio inteiro cantando uma de suas composições. Depois de alguns minutos deitado, ele deu risada e levantou, dando cambalhotas para trás, mostrando que não, a pilha ainda não tinha acabado.

Na metade do show, ao som da clássica "Singin' in the Rain", o quarteto foi para um pequeno palco, mais intimista, localizado entre a área vip e a pista comum. Gaita e meia-lua deram um toque acústico à apresentação. Lá, eles tocaram "Shiver", "Death Will Never Conquer" - na voz de Champion, enquanto Martin mostrava sua habilidade com a gaita - e "Don Quixote". Nesse momento, o baterista, aqui ao violão, finalmente puxou o tão esperado "Parabéns a você" - em português - e, em seguida, deu um abraço no vocalista.

O ponto alto da apresentação aconteceu em "Lovers in Japan", quando uma chuva de borboletas coloridas de papel foi arremessada por canhões espalhados em alguns pontos do estádio. No palco, era possível enxergar Martin dançando com um guarda-chuva nipônico em meio à multidão de borboletas, confeccionadas em crepom, flúor e uma espécie de papel laminado.

Presente para os fãs

Depois de "Death and All his Friends", a banda encenou ir embora, mas voltou para o bis. Antes de tocar "The Scientist", num dos mais belos momentos da noite, Martin revelou que o quarteto tinha um presente para quem assistiu ao show: um álbum especial com nove músicas ao vivo, todas do repertório da turnê de Viva La Vida. Os discos, que estampam uma borboleta colorida na capa, foram distribuídos ao final da apresentação. Quem não viu os funcionários entregando os CDs, em meio ao corre-corre da multidão, ficou sem o presente.

O grupo se despediu da capital paulista com "Life in Technolocor II". Martin agradeceu a recepção brasileira e finalizou: "todos amam o Brasil e agora sabemos o porquê". Enquanto o quarteto se retirava do palco, fogos de artifício marcaram o fim dessa estadia do Coldplay no Brasil.

Os 100 minutos de espetáculo mostraram uma banda mais potente que o tímido quarteto que se apresentou para um público inferior a 10 mil pessoas em 2007, na Via Funchal, em São Paulo. Quem achou que iria encontrar uma banda inglesa fria, se surpreendeu com a performance comandada por um vocalista que se revelou extremamente carismático e íntimo dos palcos e do público - características dignas de quem sabe fazer música pop de verdade.