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Com Racionais, Caetano Veloso e Djonga, festival Planeta Brasil une pluralidade musical e conscientização um ano após a tragédia de Brumadinho

O evento, que aconteceu ao longo do último sábado, 25, levou rap, MPB, funk, trap e eletrônico ao Estádio do Mineirão

Igor Brunaldi, de Belo Horizonte Publicado em 26/01/2020, às 21h06

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Mano Brown, Caetano Veloso e Djonga (Fotos: Igor Brunaldi e Frank Bitencourt)
Mano Brown, Caetano Veloso e Djonga (Fotos: Igor Brunaldi e Frank Bitencourt)

Enquanto a cidade de São Paulo comemorava 466 anos, o estado de Minas Gerais processava o peso de saber que há exatamente um ano acontecia o rompimento da barragem da mineradora Vale, responsável por matar 259 pessoas e deixar 11 desaparecidas em Brumadinho. 

Com isso em mente, é importante notar que todo luto é obviamente triste, mas nem toda reflexão que provém de um luto precisa ser. E no último sábado, 25, aconteceu em Belo Horizonte o festival Planeta Brasil, que pediu ajuda à MPB, ao funk, rap, trap e à música eletrônica para conscientizar milhares de pessoas sobre a importância vital que devemos dar não apenas ao cuidado com o planeta, mas também ao cuidado e solidariedade que devemos ter com todo e qualquer ser humano.

Com quatro palcos espalhados pela Esplanada do Mineirão, e um localizado dentro do próprio estádio, o evento levou a BH artistas nacionais como Caetano Veloso, Racionais MC's, Djonga, Marcelo Falcão, Natiruts, Duda Beat, Anavitoria, Sidoka, Kevin O Chris, Vintage Culture e Nervo, além de internacionais como o rapper Tyga, o multi-instrumentista  Nick Murphy (conhecido anteriormente como Chet Faker) e a banda australiana Sticky Fingers.

Com tantas atrações de peso em tão pouco tempo de festival, selecionamos os melhores momentos da 11ª edição do Planeta Brasil.

A impecabilidade lendária dos Racionais MC's 

Os Racionais MC's foram a última atração nacional a se apresentar antes do rapper Tyga. Em outras palavras, ocuparam a devida posição de headliner entre os artistas brasileiros e fizeram um show que, apesar da duração de uma hora (pouco comparado às apresentações que fazem fora de festivais), levou a Belo Horizonte toda a intensidade que o grupo carrega por onde passa há 30 anos.

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Acompanhados por uma banda completíssima com instrumentos de sopro, cordas, teclas, percussão e responsável por uma sonoridade orgânica e extremamente concisa, Mano Brown, KL Jay, Edi Rock e Ice Blue rimaram com a impecabilidade esperada (porém não menos surpreendente) os versos idolatrados e cantados como hino por milhões de brasileiros. 

Todos os show dos Racionais servem para mostrar, cada vez mais, que não é à toa que os quatro MC's são lendas do rap nacional e cada um deles tem o nome cravado permanentemente na história de toda a música brasileira e até mundial.

(Foto: Frank Bitencourt)


A simplicidade genial e cativante de Caetano Veloso

Assim como os Racionais, Caetano Veloso é veterano, é mestre e é incomparável no palco. Ele começou a tocar no momento em que o calor começava a dar uma trégua e o vento começava a trazer o medo da chegada da chuva.

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Mas isso não foi nem de perto o suficiente para intimidar o gigante da MPB que, aos 77 anos e com as mãos trêmulas, comandou uma multidão acompanhado apenas pelos dedilhados em um violão de cordas de nylon, uma taça de água e pelas plantas posicionadas ao fundo do palco que chacoalhavam de um lado para o outro com a ventania.

Além, claro, da emoção de ouvir aquela voz suave cantar clássicos como "Baby", "Leãozinho", "Sampa", "Reconvexo" e "A Luz de Tieta", um dos maiores encantos de presenciar uma performance dessas de Caetano Veloso, é vê-lo dar preciosos sorrisinhos contidos mas que claramente irradiam internamente uma imensa alegria, toda vez que a multidão gritava o nome dele ou explodia em adoração e palmas.

(Foto: Nathalia Pacheco)


Um minuto de silêncio em homenagem a Brumadinho e pedido de casamento

Não é novidade que os shows do Djonga são grandes manifestações explosivas tanto sociopolíticas quanto artísticas (se é que dá para sequer separar um do outro).

Some isso ao fato de ele estar, como disse durante a apresentação, "jogando em casa", o rapper mineiro deixou claro que veio para ficar, e que enquanto tiver voz, vai fazer questão de incomodar.

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"Nunca vamos deixar de cobrar do poder público. E nunca vamos deixar de fazer nossa parte, porque não dá pra confiar em político", disse após o minuto de silêncio que foi feito em todo festival Planeta Brasil, em homenagem às vítimas da tragédia de Brumadinho.

Além disso, teve até pedido de casamento! Quando Djonga começou a contar que estava prestes a cantar "Leal", música que escreveu para a até então namorada Malu, ela apareceu (ainda com resquícios da barriga de quem deu a luz à primeira filha do casal), vinda do canto do palco, ajoelhou o pediu em casamento.

(Foto: Nathalia Pacheco)


Sidoka, o príncipe do trap nacional

Essa não é a primeira vez que o Sidoka aparece nas nossas escolhas de melhores momentos de um festival (na nossa cobertura do Cena 2019 ele também foi posicionado por nós como um dos principais destaques), e com toda certeza não vai ser a última.

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Por mais surpreendente que isso possa soar, o músico mineiro consegue incorporar ao vivo ainda mais energia do que nas gravações, que por si só já pulsam com vivacidade e agressividade sonora impar.

Nos shows, todos os níveis são elevados ao extremo, e o resultado, apesar de poder ser intimidador para quem não está familiarizado, é uma apresentação livre de qualquer sinal de tédio, e impulsionada do começo ao fim por uma das mais puras externalizações do que é o espírito do trap. 

E na edição de 2020 do festival Planeta Brasil não foi diferente. Pensando bem, houve sim uma diferença crucial: a intensidade da interação do público com o artista, que foi de dar inveja em muito veterano.

Afinal de contas, assim como Djonga, Sidoka estava jogando em casa.

(Foto: Igor Brunaldi)


O espírito calmo e a catarse de Nick Murphy 

Nick Murphy (ex-Chet Faker) apareceu no palco depois de dar um leve susto nos fãs com o atraso de uns bons 15 minutos. Apesar disso, tocou com classe, profissionalismo e, principalmente, com o semblante calmo igual ao do Buda estampado na camiseta que vestia por baixo do jaleco de cientista.

O rosto do músico australiano não refletia nem de perto a energia elevada do som que levou ao Palco Norte na Esplanada do Mineirão, nem mesmo no momento memorável em que apresentou uma interpretação catártica de "Message You at Midnight", na qual usou um arco de violino para tocar guitarra.

O que chamou a atenção não foi a incorporação do item (afinal de contas, Jimmy Page, do Led Zeppelin, já fez isso há muitos anos, assim como Jonny Greenwood, do Radiohead, também), mas sim a forma como o arco foi utilizado para auxiliar no crescimento sonoro constante da composição.

(Foto: Bruno Soares)


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