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Com show gratuito, Surfer Blood volta a SP ainda superando a morte do guitarrista

“Eu sinto falta dele todo santo dia”, diz o vocalista, John Paul Pitts, sobre a morte do integrante fundador do grupo, Thomas Fekete, morto este ano

Lucas Brêda Publicado em 16/07/2016, às 12h23 - Atualizado em 17/07/2016, às 12h41

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O quarteto norte-americano Surfer Blood - Reprodução/Facebook
O quarteto norte-americano Surfer Blood - Reprodução/Facebook

O Surfer Blood tem uma trajetória no mínimo curiosa. Banda norte-americana da Flórida, o quarteto foi formado enquanto os integrantes estavam na faculdade como um projeto despretensioso. O primeiro disco deles, Astro Coast, saiu em 2010, apresentando a sonoridade desleixada e pesadamente influenciada pelos anos 1990, rendendo à banda um hit no universo indie: a faixa “Swim”.

O sucesso da música – e de todo o primeiro disco – garantiu ao Surfer Blood agenda cheia (como abrir uma turnê do Pixies) e, posteriormente, um contrato com uma grande gravadora, a Warner Bros. O segundo álbum, Pythons, foi feito sob pressão e com interferências do selo, e saiu em 2013, poucos meses depois de serem divulgadas notícias da prisão do vocalista, John Paul Pitts, por supostamente agredir a então namorada de um ano, em 2012.

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Os detalhes do acontecimento são poucos conhecidos, mas Pitts nunca foi oficialmente acusado e acabou publicando uma resposta, comentando o acontecimento, mais de dois anos depois, em março de 2015. Em postagem no site do Surfer Blood, ele dá a versão própria do acontecimento, negando as acusações e afirmando: “Não sou uma pessoa violenta e nunca machuquei fisicamente ninguém em toda a minha vida.”

A repercussão da prisão – incluindo intermináveis discussões na internet – foi suficiente para praticamente ofuscar o segundo álbum e o resultado foi previsível: eles foram desligados da gravadora um ano depois. “É definitivamente mais difícil do que era anteriormente”, conta Pitts, em conversa por e-mail com a reportagem da Rolling Stone Brasil.

Em 2015, o guitarrista Thomas Fekete foi diagnosticado um raro e agressivo tipo de câncer, vindo a morrer no último mês de maio, aos 27 anos. “Não superei a perda de Thomas ainda”, admite o vocalista. “Eu sinto falta dele todo santo dia”. Antes de morrer, Fekete lançou um disco (Burner, 2015) solo pelo selo atual do Surfer Blood, o Joyful Noise, a fim de conseguir ajuda no pagamento do tratamento da doença.

Os próprios companheiros no Surfer Blood se movimentaram bastante para ajudar Fekete a cobrir o tratamento do câncer. A banda fez uma série de shows beneficentes para angariar dinheiro, entretanto, os lucros obtidos foram roubados quando a van de turnê da banda quebrou em Chicago, nos Estados Unidos.

Em 2015, eles também lançaram 1000 Palms, o terceiro disco da carreira, de volta ao selo independente, Joyful Noise. Gravado parcialmente na casa dos pais do baterista, Tyler Schwarz. O registro traz uma sonoridade mais limpa, mas representa um aceno ao disco de estreia da banda. “Foi um recomeço”, assume Pitts.

Depois de uma passagem pelo Brasil em 2013, o grupo retorna ao país este fim de semana, para uma apresentação gratuita no centro de São Paulo. O Surfer Blood toca na Praça Dom José Gaspar, como parte do Jim Beam History Fest, em line-up que ainda conta com a banda Wild Nothing e o músico Ryley Walker. Abaixo, leia a íntegra do papo com Pitts.

Ano passado, vocês lançaram o disco 1000 Palms. Muitas pessoas o descreveram como um “recomeço” para a banda. Você concorda?

Foi um recomeço sim, de certa forma, porque o processo de fazer o álbum foi tão diferente de estar em uma grande gravadora. É uma extensão natural do som do Surfer Blood, mas feito sob circunstâncias com puseram menos pressão e menos envolvimento dos elementos externos à banda. É uma maneira de gravar nosso som muito mais livre e que explora novos territórios.

Ouvindo o disco, achei que 1000 Palms me lembrou do primeiro álbum de vocês (só que mais limpo). Vocês consideraram voltar às “raízes” quando fizeram este disco?

A interferência da gravadora foi tão menor que tivemos a oportunidade de só compor as músicas e rapidamente gravá-las. No trabalho anterior, tínhamos canções com diversas gravações e as mandamos para pessoas na gravadora, que retornaram com ideias e revisões. Foi um processo com muito mais personalidades envolvidas. Mas 1000 Palms soa limpo porque Rob Schnapf, que mixou Pythons, também o mixou e ele é incrível, faz tudo soar perfeito.

Ele foi gravada na casa dos pais de Tyler Schwarz, certo? Isso mudou o jeito com que vocês abordaram as canções?

Passamos um mês em Portland para compor e gravar juntos e depois viajamos até à [região de origem da banda,] Flórida. Fizemos tudo em um período de tempo menor que nosso álbum anterior, e isso provavelmente nos deixou menos propensos a repensar tudo.

Vocês tiveram uma experiência com uma grande gravadora, mas agora estão de volta à cena indie. O que preferem? Como isso afeta o funcionamento da banda?

Estamos muito felizes com nosso selo atual, Joyful Noise. Estando em uma gravadora menor nos faz sentir como em uma família, enquanto antes parecíamos empregados de uma grande corporação. Quando Thomas ficou doente, a Joyful Noise foi incrível e reuniu ideias incríveis para arrecadarmos dinheiro para ele. Eles também lançaram o álbum solo que ele gravou quando estava doente. É simplesmente maravilhoso lançar música por um selo com o qual nós realmente nos importamos, e que também se importa conosco.

Você acha que o disco pela Warner, Pythons (2013), foi ofuscado pela sua prisão e toda a confusão da época? Percebi que a recepção do álbum foi inteiramente mesclada com as consequências da prisão. O que você acha?

Com certeza houve uma época em que as resenhas do nosso disco eram basicamente pessoas mal interpretando as letras e tentando fazer conexões com as notícias que saíam sobre a prisão. Mas acho que as pessoas que estão ouvindo o álbum agora têm melhores possibilidades de separar as duas coisas. Na época que as notícias se espalharam, já tínhamos acabado de gravar o disco. Muitas das músicas foram escritas um ano antes de gravarmos. Muita gente achou que o álbum era uma resposta à prisão e suas consequências, mas realmente não foi.

Muita gente começou a reinterpretar suas músicas e até a boicotar a banda depois da prisão. Como você sentiu isso?

É obviamente difícil ver as pessoas pensando que sou uma pessoa terrível e acreditando em coisas sobre mim que não são verdadeiras. Mas isso me deixa muito grato por todos os fãs e todas as pessoas que ainda vêm aos nossos shows e continuam amando nossa música. É definitivamente mais difícil do que era anteriormente, mas eu amo tocar e sinto-me sortudo que essa é minha carreira.

Recentemente, você passou por outra tragédia, a perda de Thomas. Você tem alguma memória favorita dele? O que tem feito para superar isso?

Não superei a perda de Thomas ainda. Eu sinto falta dele todo santo dia. Quando o conheci, eu estava gravando músicas por diversão e nunca esperava que alguém fosse ouvi-las. Ele me convenceu a sair da Flórida para fazer turnês e passamos seis anos incríveis viajando o mundo juntos. Qualquer pessoa que conhece Thom sabe que ele é a pessoa mais engraçada e mais bacana para se ter por perto. Não vou citar uma memória específica porque sou sortudo o bastante para ter diversas memórias de viajar o mundo com ele.

Você está de ao Brasil novamente. O que você se lembra das últimas passagens pelo país e o que espera dos próximos shows?

Fomos ao Brasil anteriormente em 2013, para três shows. Divertimo-nos demais e estamos animadíssimos para voltar! O que eu mais lembro da última viagem foi quando nadamos à noite no Rio de Janeiro. Thom, Tyler, Kevin e eu saímos nadar no mar às 2h da madrugada e depois todos nós compramos água de coco de um vendedor ambulante e a tomamos juntos. Espero que seja bom novamente. Eu realmente gosto do Wild Nothing e espero vê-los ao vivo novamente.