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Como Andy Serkis se transformou no rei das atuações "pós-humanas"

Em Planeta dos Macacos: O Confronto, que chega aos cinemas brasileiros na quinta, 24, o ator prova que é o mestre das performances de captura de movimento

Brian Hiatt Publicado em 16/07/2014, às 18h52 - Atualizado às 18h59

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O ator Andy Serkis - Victoria Will/Invision/AP
O ator Andy Serkis - Victoria Will/Invision/AP

Em um palco de Londres, em 1992, o jovem Andy Serkis pensou que estava alcançando os limites da transformação como ator. Interpretando Dogboy, “um bizarro e potencialmente violento garoto de rua que acredita ser um cachorro”, ele tinha que se despir todas as noites, latindo e mordendo, “matando meus pais de vergonha”.

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Isso, contudo, era apenas o começo para Serkis, hoje com 50 anos, que havia planejado passar toda a carreira atuando em dramas no estilo daqueles feitos pelo diretor Ken Loach – conhecido por retratar a dura realidade dos operários britânicos. Em vez disso, ele se tornou num especialista em monstros. Através da tecnologia de captura de movimento, aliada aos efeitos da computação gráfica, o ator interpretou Gollum (da trilogia O Senhor dos Anéis), o King Kong (2005) e César, o líder da revolução dos macacos em Planeta dos Macacos: A Origem (2011) – que ele retoma em Planeta dos Macacos: O Confronto, longa que chega aos cinemas brasileiros em 24 de julho. “As pessoas acreditam que é necessário muito movimento para a captura de movimentos, ”, conta Serkis. “Eu aprendi, porém, que a tecnologia te ensina a usar uma muito a imobilidade. Você aprende a confiar em si mesmo. É como se estivesse interpretando um papel ao vivo, de forma convencional.”

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Com exceção de Jar Jar Binks, da saga Star Wars, Gollum, da trilogia O Senhor dos Anéis, foi o primeiro personagem digital que pareceu realmente “vivo” ao lado de atores humanos. César, contudo, é algo ainda mais extraordinário: um macaco majoritariamente mudo, criado por computação gráfica, cujos anseios e conflitos são capazes de arrancar lágrimas. É uma somatória de pixels com a habilidade de atuar melhor do que os atores de carne e osso do longa, entre eles James Franco.

“Eu sempre o interpretei como um humano na pele de um macaco”, diz Serkis, que se inspirou em um chimpanzé bípede real chamado Oliver para criar o personagem. “Isso até o momento em que ele percebe que é, obviamente, um macaco. César é capaz de sentir empatia e tem muitas questões. Há um conflito interno muito grande.”

A tecnologia de captura de movimentos permite, agora, que até mesmo os mínimos movimentos oculares de Serkis sejam transmitidos aos “avatares” dele, que os animadores transformam em um personagem finalizado. O ator chama o processo de “maquiagem digital”. Os animadores, porém, veem esse “apelido” como uma maneira simplista e injusta de definir o trabalho deles – e o cabo de guerra entre os animadores e atores pelos créditos das “criações digitais” deles pode gerar ainda mais conflitos no que diz respeito ao futuro da atuação– especialmente pelo fato de nenhuma atuação feita através da captura de movimentos ter (ainda) concorrido em uma grande premiação. O supervisor de animações da saga Senhor dos Anéis, recentemente publicou um ensaio online em que defende que o personagem Gollum, em particular, é resultado de um “trabalho colaborativo”.

“Meu sustento depende da arte realizada pelos animadores”, garante Serkis. Ele argumenta, contudo, que com a evolução da tecnologia de captura de movimento o papel dos animadores é “honrar ainda mais o desempenho do ator no set de filmagens”. Além disso, o artista afirma que a caracterização por meio da maquiagem criou grandes personagens como o Homem Elefante, interpretado por John Hurt no filme homônimo de 1980. “A maquiagem era incrível, mas ninguém contestou a qualidade do desempenho de Hurt como ator.”

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Matt Reeves, diretor de Cloverfield – Monstro, que assumiu a saga dos macacos em Planeta dos Macacos: O Confronto, tem um ponto de vista equilibrado. “O segredo de tudo isso é que Andy Serkis é um grande ator”, diz ele. “Tudo começa com o desempenho dele. O grande truque, contudo, é a forma como você traduz isso para a anatomia de um chimpanzé que tem um rosto totalmente diferente? Então, o trabalho dos animadores é realmente importante.”

Reeves mostrou uma série de imagens de Serkis feitas através da captura de movimento ao amigo JJ Abrams, que ficou tão impressionado com o desempenho do ator que deu a ele um papel chave em Star Wars: Episódio VII. “Será algo muito especial”, promete Serkis. Como quase tudo em relação ao filme, que estreia em dezembro de 2015, o papel do ator ainda é um mistério. Ele diverte-se com a ideia de que não podemos nem adivinhar o número de cabeças e membros que o personagem dele terá. “Eu adoro o conceito de adentrar o mundo de pixels ao ponto de ninguém conseguir ter a mínima do que está acontecendo. Eu acho isso ótimo.”