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Compositor da trilha de Verdades Secretas defende a importância da música na dramaturgia

“É 33% para o diretor, 33% para o texto e 33% para o argumento musical”, define JP Mendonça

Lucas Borges Publicado em 19/12/2015, às 13h26 - Atualizado às 13h26

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João Paulo Mendonça - Divulgação
João Paulo Mendonça - Divulgação

João Paulo Mendonça é um artista dos bastidores da dramaturgia e valoriza como poucos um componente às vezes pouco percebido pelo público: seu ganha-pão, a trilha sonora. “É 33% para o diretor, 33% para o texto ou roteiro e 33% para o argumento musical”, define o carioca criado em São Paulo sobre a importância do som em produções audiovisuais e teatrais.

“Imagine o filme Psicose. Você vê que aquela moça [Mary Crane, personagem da atriz Janet Leigh] pegou uma grana de alguém, está tensa”, descreve o compositor. “Você precisa ter uma música que passe aquilo: se não fosse a música, Psicose seria quase uma comédia, a faca não entra na moça, é bizarro”, completa ele sobre a famosa cena do banheiro no filme de Alfred Hitchcock.

Depois de passeios por sons brasileiros, eletrônicos e clássicos, viagens por Japão, Estados Unidos, Tailândia e Camboja, esse fã de rock progressivo – “Yes, Genesis: acho que todo mundo deve a eles” – acabou aportando na Rede Globo.

JP Mendonça trabalhou com a produção musical de séries e novelas como Bang Bang, A Grande Família, Dona Flor e Seus Dois Maridos e Fina Estampa. Em 2015, foi ao ar com um dos grandes trabalhos da sua carreira, em Verdades Secretas, explorando novas sonoridades sob influência do dinamarquês Jacob Kirkegaard.

O resultado foi um material denso, por vezes enigmático, que, explica o compositor, tentou retratar a cidade de São Paulo (onde se passa a trama) de uma maneira diferente. “Queriam uma São Paulo fora do padrão que todo mundo conhece, cinzenta, urbana. Em Verdades Secretas resolvi dar um chute e fiz uma coisa cheia de amálgamas.”

A despeito da paixão com que fala de Verdades Secretas e da sua profissão, Mendonça explica que nem tudo é prazer nesse meio. “Não suporto country, acho um porre e fui chamado para fazer Bang Bang. Pensei: ‘Estou fodido’. Dessa forma aprendi a máxima de que um compositor não pode desgostar demais de um estilo. Fui pesquisar, descobri que existe uma associação de preservação da cultura do oeste dos Estados Unidos e saquei que existe o country e o western. Comecei a ouvir [Ennio] Morricone.Tem música boa em todo estilo que você pesquisar.”

Bastante atuante também no teatro, Mendonça está em cartaz atualmente com Talk Radio (peça de Eric Bogosian, inspirada no filme homônimo de Oliver Stone e dirigida por Maria Maya) e em 2016 fará a trilha de uma nova montagem de Doroteia, de Nelson Rodrigues, com Letícia Spiller no elenco e direção de Jorge Farjalla. “E estou escrevendo uma ópera baseada em um texto filosófico do século 6, pesquiso muito”, conta ainda, antes de uma última tese fervorosa sobre o valor dos sons. “Se você parar para pensar, tem uma dicotomia entre música e imagem. A música é de certa forma uma arte invisível – se ela chamar muita atenção, estará atrapalhando."