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Conexão Vivo transforma Salvador na capital da música brasileira

Evento marcado pela mescla de gêneros musicais e apresenta ao público encontro de diferentes gerações da música nacional

Por Murilo Basso Publicado em 15/08/2011, às 19h08

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Ortinho e Pepeu Gomes no Conexão Vivo, em Salvador - Marcelo Santana/Divulgação
Ortinho e Pepeu Gomes no Conexão Vivo, em Salvador - Marcelo Santana/Divulgação

A Praia da Pituba, em Salvador, recebeu entre os dias 11 e 14 mais uma etapa do Conexão Vivo 2011, que pelo segundo ano consecutivo passou pela capital baiana. Trazendo nomes emergentes e estabelecidos do cenário musical brasileiro, o grande diferencial do evento está na mescla de diferentes gerações da música nacional - isso sem desconsiderar o resgate histórico, ao apresentar ao público mais jovem nomes como Armandinho, o "pai da guitarra baiana", e o pernambucano Di Melo.

Na quinta-feira, 11, a paraense Juliana Sinimbú deu início ao festival em uma apresentação que passeou por carimbó e lambada. Em seguida os mineiros do Black Sonora, reciclando gêneros, fizeram uma apresentação cansativa até o "imorrível" Di Melo, aos 75 anos, assumir o controle e fazer a festa com "A Vida em Seus Métodos Diz Calma" e "Perna Longa". "A vida em seus métodos pede calma. Vai com calma, você vai chegar", canta. E Di Melo, em seus métodos, tem muito a nos ensinar.

Juarez Maciel e Grupo Muda (MG) receberam Edgard Scandurra, e o grande momento do show foi "Flores em Você" (do Ira!). Na sequência, o também mineiro Marku Ribas fez um show elegante, mesclando ritmos brasileiros ao jazz. Mas o grande encontro da noite aconteceu entre o violonista Gilvan de Oliveira (MG) e o mestre da guitarra baiana Armandinho. A dupla encantou com "Renascimento" e "Sarajevo", longas jam sessions que acabaram em uma de "Smooth" - que, segundo Armandinho, era como "Santana na [guitarra] baiana".

Inovando e com presença de palco marcante, o Porcas Borboletas (MG) fez um dos grandes shows da noite. A apresentação contou ainda com a empolgante participação de Paulo Miklos (Titãs) Fechando a primeira noite, Ortinho (PE) mostrou parcerias. Destaque para "Pense Duas Vezes" (com Marcelo Jeneci e Arnando Antunes), "A Casa é Sua" e "Envelhecer" (com Arnaldo). O pernambucano ainda recebeu Pepeu Gomes para a execução de "Raio Lazer" e "Herói Trancado", encerrando a noite com "Café com Leite de Rosas" - outra parceria com Jeneci.

Sexta-feira, 12

A segunda noite do Conexão Vivo começou sob forte chuva, o que acabou prejudicando as apresentações Babilak Bah (MG) e Iva Rothe (PA). Claudia Cunha, Manuela Rodrigues e Sandra Simões - as Três na Folia - decidiram espantar a chuva ao passear pelo universo amplo e plural do carnaval. "South American Way", de Carmen Miranda, "A Filha da Chiquita Bacana", de Caetano, e "Quê Que Essa Nega Quer", de Luiz Caldas, marcaram o repertório.

Seguindo o mesmo caminho, Márcia Castro fez valer no palco a diversidade pretendida pelo festival. Com participações de Mariella Santiago (BA) Mariana Aydar (SP) e Mayra Andrade (Cabo Verde) a festa continuou com canções de Rita Lee ("De Pés no Chão"), Clara Nunes ("Canto das Três Raças") e Jorge Ben ("Menina Mulher da Pele Preta"). No entanto o mineiro Pedro Morais não soube dar continuidade ao clima festivo que marcava Pituba. Com um show cansativo e intimista demais, o "ponto alto" ficou com o anúncio de uma canção sobre sustentabilidade - a qual acabou não sendo executada. A apresentação contou com a participação dos baianos da Maglore, que jogando em casa, tiveram as canções de seu álbum de estreia cantadas pelo público.

Já com um ótimo público, a popstar paraense Gaby Amarantos subiu ao palco com sua voz grave e seu tecnobrega. Gaby abriu o show "Faz o T", emendou "Beba Doida", da banda Xeiro Verde, e "Bebo Sim". Mas o grande momento foi o coro em "Belo Monte Não" e o virtuosismo em "Laje", uma espécie de encontro entre o tecnobrega e o heavy metal. Fechando a segunda noite, Lenine apresentou canções de Raul Seixas ("Ouro de Tolo"), sucessos próprios ("Martelo Bigorna") além de parcerias, como "Paciência", composta com Dudu Falcão.

Sábado, 13

A terceira noite de apresentações contou com o maior público do festival. Os baianos da Sertanília trouxeram ao palco sua sonoridade folclórica. O sertão é tema recorrente, o que acaba sendo evidenciado com a participação de dois ex-percussionistas do grupo Cordel do Fogo Encantado. Na seqüência, o coletivo Família de Rua na Estrada (MG) apresentou um duelo de MC's, levando a cultura hip-hop à capital baiana.

Alisson Menezes e Catrupia (BA) deram continuidade aos ritmos folclóricos, sacudindo a praia de Pituba com a presença da Véa Chica e do Boi-Burrinha, dançando em um círculo formado pela própria plateia. Prejudicada por problemas no som - e, também, por sua timidez - Érika Machado (MG) mostrou as composições de seu disco de estreia, Bem Me Quer Mal Me Quer, produzido por John Ulhoa, do Pato Fu. Mas embora a timidez não atrapalhe em estúdio, no palco apenas distancia Érika do público; dessa forma a convidada Rebeca Matta (BA) ganhou a plateia com apenas uma canção ("Garotas Boas Vão Pro Céu, Garotas Más Vão Pra Qualquer Lugar").

Em seguida, recém-operada da coluna, Elza Soares e os mineiros do Senta a Pua! trouxeram mais tradição para o Conexão Vivo. Elsa emocionou os presentes com canções como "Se Acaso Você Chegasse" e "Beija-me". Ao final da apresentação, acompanhada em coro pelo público, cantou à capela "Espumas ao Vento", em um dos momentos mais bonitos do festival. Poucos minutos depois o projeto mineiro Samba de Compositor valorizou o gênero com uma bela apresentação.

Encerrando a terceira noite, um momento histórico: o reencontro da formação original d'A Cor do Som, convidando Pepeu Gomes e levando Salvador de volta aos anos 70 com versões empolgantes de "Beleza Pura", de Caetano, e "Abri a Porta", de Gil com Dominguinhos. A noite terminou com o quase hino "Dentro da Minha Cabeça" (parceria de Gerônimo com Lula Queiroga) e uma verdadeira festa à frente do palco.

Domingo, 14

A abertura da última noite ficou a cargo do Grupo Percussivo Novo Mundo (BA). Combinando percussão e novas tecnologias, o PMN deu nova cara à música baiana. Peu Murray (BA) e Magary (BA) continuaram no mesmo caminho ao utilizar dos mesmos recursos para retratar ritmos tradicionais. Já a baiana Manuela Rodrigues fez uma apresentação versátil, que contou com a participação de Romulo Fróes - autor da canção que dá nome ao segundo trabalho da cantora, "Uma Outra Qualquer Por Aí". Mesclando elementos da soul music a antigos afoxés baianos, Gustavo Maguá (MG) fez uma apresentação leve e divertida.

O festival já se caminhava para o final quando o pioneiro do reggae mineiro Celso Moretti subiu ao palco. Acompanhado por sua banda, Moretti contou com a participação do baiano Edson Gomes, em outra grande apresentação na Praia da Pituba. Canções como "Malandrinha" e "Samarina" empolgaram a plateia e "A Carne", de Marcelo Yuka, fechou a apresentação.

Encerrando o Conexão Vivo, o rapper Renegado (MG) acerta ao não reciclar o gênero. Claro, há o discurso social, presente em (boas) canções como "Do Oiapoque a Nova York" e "Renegado", mas o mineiro não hesita e busca incorporar novos elementos ao seu som, como em "Suave". Também vale mencionar a ótima releitura de "Não Vou Ficar", eternizada por Tim Maia. Contudo a apresentação perdeu força com a entrada de Lenine, em um dos poucos encontros que não funcionaram ao longo festival. De qualquer forma, ficou evidente o êxito da edição do Conexão Vivo em Salvador: bons shows, boa estrutura, produção cuidadosa e um ótimo público provam que o festival está no caminho certo.