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Couro, gospel e Luther King: os 50 anos da reinvenção de Elvis Presley na TV dos EUA

O programa, conhecido como 68 Comeback Special, marcou o renascimento do Rei do Rock

Paulo Cavalcanti Publicado em 03/12/2018, às 17h36

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Elvis Presley no '68 Comeback Special' (Fotos: NBC)
Elvis Presley no '68 Comeback Special' (Fotos: NBC)

Por toda sua vida, Elvis Presley sempre disse “sim”. Mas em uma ocasião crucial, ele disse “não” e seus instintos salvaram a carreira dele. Isto aconteceu em 1968 quando ele gravou o especial de TV para rede NBC intitulado Singer Presents...Elvis, mas que hoje é conhecido como 68 Comeback Special.

Os filmes de Elvis já não faziam sucesso como antes. O Coronel Tom Parker, empresário do cantor, então teve a ideia de fazer um especial de televisão a ser exibido durante o Natal, uma tradição bastante comum no showbusiness norte-americano.  Seria assim: Elvis permaneceria sentado ao lado de uma lareira, dublando 20 canções natalinas. No final, ele se levantaria, cantaria algo como “I’ll be Home for Christmas” ou “Silent Night”, desejaria “feliz natal” e então, iria embora.

Um astro sexy e durão

O diretor escalado foi Stevie Binder. Ele havia dirigido The T.A.M.I. Show (1964), considerado o primeiro concerto de rock filmado e também foi responsável por Hullabaloo, que ao lado de Shindig!, foi o mais importante programa de rock da TV. Naturalmente, ele não queria um especial de natal careta e convencional. Na opinião dele, se assim fosse, a carreira do Rei do Rock estaria enterrada.

Binder  queria lembrar a todos que Elvis foi o cara que popularizou o rock. A idéia era fazer show dinâmico, sexy, durão e com pitadas autobiográficas. O conceito foi aos poucos se cristalizando. Parker, vendo o seu conceito original indo por água abaixo, ameaçava acabar com o projeto. Mas Elvis e Binder ficaram amigos e o Rei fez tudo para que a visão do diretor fosse respeitada, batendo assim o coronel.

Uma encrenca vestida de couro

O programa abriu com “Trouble”, canção do filme Balada Sangrenta (1958). Na faixa, com pique de blues de Chicago, o Reirosnava: “Se você está procurando encrenca, então olhe direto para o meu rosto”. Elvis estava com 33 anos, bronzeado e mais magro do que nunca – ele era a própria imagem do deus Apólo. O espetáculo seguiu com um segmento acústico, onde Elvis, usando seu famoso traje de couro preto, reuniu os seus músicos da época da Sun Records, gravadora de Memphis onde ele iniciou a carreira.

Lá estavam o guitarrista Scotty Moore e o baterista DJ Fontana, além de Charlie Hodge, Alan Fortas e Lance LeGault, membros da chamada Máfia de Memphis, que constituía o circulo íntimo do Rei. Elvis se ocupou da guitarra elétrica e recordou hits do começo da carreira como “That’s Allright (Mama)”, “Heartbreak Hotel” e “One Night”, entre outros.

Coral e balé para o momento gospel

Ao longo do especial, Elvis fez piadas lembrando a época em que era um jovem roqueiro. Cantou o blues “Baby What You Want Me To Do”, de Jimmy Reed, lembrando de suas raízes musicais. O show ainda teve uma sessão gospel, com direito a coral e um balé. Elvis, acompanhado pelo trio feminino The Blossoms, interpretou “Saved”, “Where Could I Go But To The Lord” e “Up Above my Head”.

Um complexo número de produção contando as desventuras de um guitarrista foi ancorado pela canção “Guitar Man”; era a parte autobiográfica que Binder tanto queria.

Homenagem a Martin Luther King

Para encerrar o programa, Elvis queria algo de impacto. O cantor ficou chocado com morte do Dr. Martin Luther King, ocorrida no dia 4 de abril de 1968 justamente em Memphis, cidade onde o cantor havia se criado e morava há muito tempo.

Elvis não parava de falar do assunto e temia que o resto da nação fosse criminalizar a cidade pela tragédia que vitimou o líder pacifista. O compositor Earl Brown então, escreveu “If I Can Dream”, baseado no discurso “I have a dream” proferido por King em 1963. Era a canção perfeita para a ocasião.

Elvis, todo vestido de branco, interpretou a canção, um poderoso hino à paz e tolerância, como se a vida dele dependesse disso. De certa forma, isto era verdade. Foi um encerramento simplesmente impressionante, uma visão que marcaria um recomeço para Elvis. O especial foi ao no dia 3 dezembro de 1968 e bateu recordes de audiência, tornando-se imediatamente referência dentro da carreira do Rei do Rock.