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Cultura Inglesa 2016: Kaiser Chiefs encerra festival com músicas novas, cover de The Who e muita energia

Quinteto britânico se apresentou este domingo, 12, no Memorial da América Latina, em São Paulo

Lucas Brêda Publicado em 12/06/2016, às 22h23 - Atualizado em 13/06/2016, às 10h52

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Kaiser Chiefs durante show na 20ª edição do festival Cultura Inglesa, que aconteceu em 12 de junho de 2016 - Camila Picolo/Divulgação
Kaiser Chiefs durante show na 20ª edição do festival Cultura Inglesa, que aconteceu em 12 de junho de 2016 - Camila Picolo/Divulgação

Em 2016 o festival Cultura Inglesa aparentou ter um line-up mais econômico. Se em 2014 e 2015 pelo menos duas bandas internacionais se apresentaram no evento de encerramento (Jesus and Mary Chain e Los Campesinos! em 2014, Johnny Marr e The Strypes em 2015), este ano, o único representante britânico na programação foi o Kaiser Chiefs. Em compensação, a organização escalou uma banda nacional de peso na abertura, a pernambucana Nação Zumbi.

Aparentemente deslocado no line-up – tradicionalmente voltado à música britânica –, contudo, o grupo de Jorge Du Peixe e Lúcio Maia subiu ao palco do Memorial da América Latina, em São Paulo, neste domingo, 12, prometendo um show com setlist de covers de influentes bandas inglesas (de Beatles a Clash). Os sons europeus até estiveram presentes, como na versão de “China Girl”, de David Bowie, mas foi o manguebeat característico dos pernambucanos que se sobressaiu na apresentação.

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A plateia já estava abarrotada entre as 17h e às 18h e a resposta mais efusiva veio na reta final, com as performances de “Maracatu Atômico” – esta da época de Chico Science – e “Quando a Maré Encher”. O setlist ainda contou com singles recentes, como “Cicatriz” e “A Melhor Hora da Praia”, ambas do álbum autointitulado mais recente do grupo, lançado em 2014.

Ainda com (muito) fôlego

Nos dois últimos anos, o Cultura Inglesa apostou em atrações identificadas com os anos 1980, com o barulhento Jesus and Mary Chain em 2014 e o ex-guitarrista do Smiths, Johnny Marr, no ano seguinte. Em 2016, foi possível identificar o perfil do público antes mesmo de o Kaiser Chiefs subir ao palco. A plateia vibrou e cantou junto com “Do I Wanna Know?” – hit do Arctic Monkeys, de 2013 – e “No You Girls” – Franz Ferdinand, 2009 – muito mais do que com “Jumpin’ Jack Flash”, dos Rolling Stones, ou “Girls & Boys”, do Blur, tocadas em sequência pelo som mecânico, no intervalo entre os dois shows principais.

Muito mais do que fãs saudosistas ou admiradores recentes de bandas influentes do passado, o Memorial da América Latina esteve repleto de seguidores de um indie rock britânico contemporâneo, ainda que já amadurecido e existente há mais de uma década (representado por bandas como Libertines, The Fratellis, Kasabian, The Kooks e os próprios Arctic Monkeys, Franz Ferdinand e Kaiser Chiefs, entre outros).

E esta foi a atmosfera encontrada pelo Kaiser Chiefs: uma plateia majoritariamente formada por fãs da banda, diferente das duas últimas passagens deles pelo Brasil – no Lollapalooza de 2013 e abrindo a turnê nacional do Foo Fighters, em 2015 –, quando dividiram as atenções dos eventos com outros artistas. Apesar de o Cultura Inglesa ser também um festival, o Kaiser Chiefs teve a vantagem de ser atração principal e único grupo estrangeiro do evento – ou “a banda que todos estávamos esperando”, conforme anunciou o mestre de cerimônias antes de os ingleses subirem ao palco, por volta de 18h40.

A edição que comemorou 20 anos de #CulturaInglesaFestival chegou ao fim com Kaiser Chiefs, cheia de amor, e bem no dia dos namorados. Valeu, galera!! <3 <3 <3

Posted by Cultura Inglesa on Sunday, 12 June 2016

“Chamamo-nos Kaiser Chiefs e queremos ouvi-los", gritou o vocalista Ricky Wilson na inflamada performance inicial, do hit “Everyday I Love You Less and Less”. O vento do fim de semana mais frio em São Paulo em anos (fez 11ºC na noite) em nada assustou o quinteto, tanto que o baterista, Vijay Mistry, tocou usando apenas uma camiseta, enquanto quase todo o público trazia pelo menos três peças de roupa protegendo o torso (ao fim do show, Wilson e o baixista, Simon Rix, tiraram os agasalhos e acabaram também só de camiseta).

Historicamente, o Kaiser Chiefs tem fama de não poupar as energias no palco, e foi assim nas performances seguintes, “Ruffians on Parade” e “Everything Is Average Nowadays”, emendadas uma na outra, com Wilson subindo na bateria, indo ao meio da plateia e convocando os presentes a gritarem e levantarem os braços nos momentos propícios. “Estamos aqui entretê-los”, avisou o vocalista, logo depois de cantar a anti-tédio “Everything Is Average Nowadays” (em tradução livre, “Tudo é medíocre hoje em dia”). “Vocês estão entretidos?”.

Além do frio e da resposta entusiasmada, o Kaiser Chiefs foi recebido com balões vermelhos. “Soube que hoje é tipo o dia dos namorados no Brasil”, comentou Wilson. “Se forem fazer aquilo, se protejam. Ou não: vamos fazer bebês hoje”. Depois da brincadeira, ele puxou uma das novas e inéditas músicas do setlist, “ Parachute”. Encharcada de teclados e propiciamente gerando um clima romântico e dançante, a faixa traz o refrão: “If we only got one parachute, I'd give it to you” (“Se tivéssemos apenas um paraquedas, eu o daria para você”), o qual Wilson perceptivelmente se esforçou para alcançar o tom.

Interpretando o tipo canalha, dificilmente emocionável e que pouco se esforça para fazer o que quer que seja em cima do palco, Ricky dominou o show com notável inquietude. Ele pulou, balançou a cabeça, jogou e pegou o microfone, revirou caixas de som, escalou a estrutura da mesa de som e se comunicou quase o tempo inteiro com o público. Entre as diversas brincadeiras, o vocalista disse que reconhecia algumas pessoas na fileira da frente – o que, obviamente, não é nada provável.

Antes de “Never Miss a Beat”, Wilson avistou um rapaz usando uma camisa amarela na multidão, pedindo para que apenas ele cantasse um coro de “Ôôô”. Possivelmente por não entender o que ele disse em inglês – fato irônico por se tratar de um festival organizado por uma rede de escolas de línguas – ou por simples birra, o resto do público insistiu em cantar junto ao rapaz. A brincadeira não deu muito certo, mas de todo jeito o vocalista foi parar no meio da plateia, posicionando pessoalmente o microfone na boca do homem de amarelo.

O vocalista #RickyWilson foi parar no meio do público durante o show do #KaiserChiefs no #CulturaInglesaFestival, em São Paulo. Daqui a pouco, veja a cobertura completa do encerramento do evento no nosso site!

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A postura debochada de Wilson – que nos últimos anos dividiu opiniões ao ser jurado do programa The Voice britânico –, aliás, chega a soar deslocada com as novas músicas apresentadas pelo quinteto. Tanto “Parachute” quanto “Hole in My Soul” (outra inédita, de nome provisório, que deve estar no próximo disco do Kaiser Chiefs) são açucaradas declarações de amor, permeadas de sintetizadores e clichês apaixonados. “Há um buraco na minha alma que só pode ser preenchido por você” (“There’s a hole in my soul that can only be filled by you”), cantou ele.

Se “Cannons”, do bem-sucedido disco Education, Education, Education & War (2014) foi a performance mais minguada do show, a sequência anterior ao bis valeu o ingresso (apesar de gratuito, eles foram disputados e se esgotaram dias antes do evento). “Ruby”, hit máximo da banda, “Take My Temperature”, “The Angry Mob” e “I Predict a Riot” – todas dos dois primeiros álbuns do grupo –, junto à cover de “Pinball Wizard” e ao sucesso recente “Coming Home”, construíram os momentos genuínos de maior entrega e entusiasmo da apresentação.

O Kaiser Chiefs ficou menos de dois minutos fora do palco e logo voltou para o bis. Wilson fez mais algumas brincadeiras, pegou uma bandeira do Brasil atirada para ele e apresentou os outros integrantes antes de puxar “Misery Company” (segundo o vocalista, a música foi pedida por algum fã mais cedo no Twitter). A performance derradeira foi uma volta ao passado, o primeiro single do grupo, “Oh My God” (2004), com espaço para uma citação à também antiga “Na Na Na Na Naa”.

Há anos o Kaiser Chiefs não é unanimidade entre críticos e amantes da música em geral, com lançamentos irregulares e variável sucesso nas paradas de discos, um processo até comum para bandas com carreiras longínquas. Em cima do palco, contudo, o quinteto continua em ascensão, apoiado em um setlist previsível, mas que valoriza o melhor da produção do grupo, e nas macaquices do vocalista, sempre reduzindo a distância – física e moral – entre público e banda.