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De Alceu Valença a Thiago Pethit: Luiz Fernando Carvalho comenta a trilha de Velho Chico

O diretor carioca fala sobre as mudanças da trilha sonora na segunda fase da novela e da importância dela para a trama

Gabriel Nunes Publicado em 08/05/2016, às 10h54 - Atualizado às 12h32

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Antonio Fagundes vive Afrânio em novela global <i>Velho Chico</i>. - Globo/ Caiuá Franco
Antonio Fagundes vive Afrânio em novela global <i>Velho Chico</i>. - Globo/ Caiuá Franco

A presença de uma trilha sonora marcante é uma das principais características dos trabalhos do novelista veterano Benedito Ruy Barbosa. Como esquecer “Admirável Gado Novo”, do paraibano Zé Ramalho, que serviu como um dos temas de O Rei do Gado? Em Velho Chico, trabalho mais recente que leva a assinatura do roteirista, a seleção do repertório ficou a cargo do diretor criativo Luiz Fernando Carvalho, que conversou com a Rolling Stone Brasil sobre como são tomadas as decisões musicais e na influência delas no desenrolar da trama.

Ambientada na cidade fictícia de Grotas de São Francisco, no nordeste brasileiro, a trama foi dividida em duas épocas históricas distintas. Começando nos fins da turbulenta década de 1960, Velho Chico estreou em 14 de março e agora se encontra nos dias atuais. Segundo Carvalho, a escolha das músicas foi essencial para que se ressaltasse o salto temporal no enredo. “Sempre pensei na primeira fase da novela com uma textura mais orquestral e clássica. Já para a segunda, procurei criar camadas sonoras que dessem conta da complexidade estética do nordeste”, afirma.

Embora exista essa diferença de períodos na narrativa, o diretor afirma que a seleção se deu de forma que a trama ganhasse um caráter atemporal. “Procurei dar uma harmonia sensorial, emocional e crítica ao enredo. Sei que isso é muito delicado para a linguagem da TV, mas em alguns momentos é possível ouvir as letras de certas canções conversando diretamente com os diálogos dos personagens. A música acaba entrando como um dos personagens da história, como uma voz que precisa ser ouvida”, explica Carvalho.

O diretor ainda conta que as decisões a respeito do repertório foram importante para que se criasse um contraponto entre os conflitos internos dos personagens e as consequências do coronelismo ao longo do tempo. “As músicas foram escolhidas como subtexto da trama. Elas complementam o tempo todo o contexto e seus acontecimentos. Um exemplo disso é a faixa ‘Senhor Cidadão’, do Tom Zé, que é tema do personagem Coronel Saruê (Antonio Fagundes). Ela quer dizer que naquele fim de mundo o único cidadão é ele, já que detém todo o poder e dinheiro, enquanto o resto do povo continua até hoje privado dos seus direitos”, complementa.

De Alceu Valença a Thiago Pethit, é evidente a grande variedade de nomes que fazem parte da trilha sonora de Velho Chico. O diretor vê essa diversidade como um reflexo da pluralidade cultural brasileira. “O Brasil é um país antropofágico, que se recria a cada instante, usando para isso timbres de todas as épocas", diz. "Tudo está em jogo constantemente, nada que é bom morre ou desaparece para sempre. No mesmo universo podem e devem conviver lado a lado uma balada indie folk, como é o caso de ‘L’Étranger’, do Thiago Pethit, com a Tiê, com uma canção de protesto do Vandré. Tudo é Brasil”, define.