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De onde vem o racismo asiático? Conheça o movimento Stop Asian Hate

Depois do começo da pandemia, níveis de discriminação contra imigrantes aumentaram muito nos EUA

Marina Sakai (sob supervisão de Yolanda Reis) Publicado em 11/05/2021, às 16h03

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Manifestação anti-violência asiática nos EUA (Foto: Spencer Platt/Getty Images)
Manifestação anti-violência asiática nos EUA (Foto: Spencer Platt/Getty Images)

Robert Aaron Long, homem branco de 21 anos, matou oito pessoas em três casas de massagem diferentes em Atlanta, EUA, em 16 de março de 2021. Seis delas eram mulheres asiáticas. Segundo conclusões da polícia, os crimes não tiveram motivação racial. No dia seguinte, em São Francisco, Xiao Zhen Xie — uma idosa na casa dos 70 anos — estava na calçada em São Francisco e sofreu agressões. Retribuiu a violência e ambos foram levados ao hospital. Os casos foram noticiados pelo The New York Times.

Foram duas ocasiões de racismo e xenofobia contra pessoas asiáticas. Esse tipo de crime cresceu 150% desde o começo da pandemia de coronavírus, segundo estudo da California State University.

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Medo e incerteza mobilizaram a comunidade Asiática-Americana e das Ilhas Pacíficas (AAPI) e apoiadores. Nos dias seguintes, a campanha Stop Asian Hate (Fim do Ódio aos Asiáticos), de combate aos crimes de ódio, ganhou força e divulgação. Segundo informações do UOL, milhares foram às ruas para exigir o fim dos ataques racistas, proteger o comércio asiático local e inspirar mudança.

Onde tudo começou

“A culpa é da China, nunca deveria ter acontecido,” disse Donald Trump no primeiro debate eleitoral contra Joe Biden em outubro de 2020, sobre a origem da pandemia de Covid-19. A partir de discursos como o do ex-presidente, quem também se referiu ao vírus como “a praga chinesa,” apoiadores da ideologia responsabilizaram imigrantes e pessoas asiáticas pela disseminação da doença.

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Mas, não. O assunto não começa ou termina em Trump. Asiáticos são vítimas de racismo desde a chegada na América em busca de oportunidades e melhor qualidade de vida — e o “sonho americano” nem existia ainda.

Na década de 1850, imigrantes chineses foram aos Estados Unidos para trabalhar nas minas e na construção de ferrovias. O ofício era perigoso e insalubre, além dos salários precários. Surgiu, então, a noção dos asiáticos vindo para “roubar os empregos dos norte-americanos.”

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Segundo informações do Washington Post, o racismo se tornou institucionalizado quando, em 1854, George Hall, homem branco, foi julgado por assassinar Ling Sing, imigrante chinês, e nenhuma das testemunhas pôde depor em defesa de Sing, pois também eram asiáticas.

Na década de 1940, durante a Segunda Guerra Mundial, o governo estadunidense forçou todos os japoneses a irem para campos de internamento (similares aos campos de concentração da Alemanha Nazista) até o fim do conflito por suspeitarem de espionagem. Em 1945, voltaram para casa e encontraram suas microempresas e pequenos negócios vandalizados ou confiscados.

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No Brasil, o governo era de Getúlio Vargas. Segundo a Comissão Nacional da Verdade (CNV), imigrantes japoneses eram perseguidos, presos, violados, torturados e mortos durante a Segunda Guerra pelo Japão ter os "aliados errados." 

Minoria modelo

O mito da minoria modelo caracteriza os asiáticos como "a minoria que deu certo," povos os quais imigraram e lutaram durante muito tempo para ascender socialmente. É uma visão meritocrática e invalida a experiência de outros povos minoritários (como negros ou indígenas, por exemplo), os quais não tiveram oportunidade de "crescer na vida" por séculos de colonialismo e escravidão.

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A minoria modelo também reforça o estereótipo. Você deve conhecê-lo: notas altas, silencioso, limpo e arrumado, futuro cientista ou médico responsável por contribuir para o desenvolvimento do país.

O problema aparece quando percebemos como as posições de privilégio são emprestadas, e basta algo afetar negativamente a maioria - como a Covid-19, por exemplo - e o mesmo grupo é tratado com distância, violência e ódio. 

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Onde estamos

De março de 2020 a 28 de fevereiro de 2021, a Stop AAPI Hate, centro norte-americano, registrou quase quatro mil casos de agressões contra asiáticos. Na mesma pesquisa, a organização constatou: idosos são um grupo alvo e mulheres são afetadas quase três vezes mais que homens. 

Esse último dado é outro sintoma do racismo contra pessoas asiáticas: a fetichização das mulheres. Os estereótipos de submissão e infantilização são frequentes na indústria do entretenimento. “Japonesa” foi a palavra mais pesquisada no PornHub em 2019, maior site de pornografia mundial, segundo o relatório Year in Review. “Coreana” e “asiática” também figuraram no top 5. 

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Robert Aaron Long, o assassino das seis mulheres das casas de massagem, alegou ter se sentido “ameaçado” por elas; era um “gatilho” para ele, por isso, cometeu o ato. Depois dessa justificativa, o crime foi desconectado do título de crime de ódio motivado por raça.

As manifestações que sucederam o crime ocorreram em todos os Estados Unidos e, inclusive, juntaram celebridades pela causa, como Rihanna, Lucy Liu, Sandra Oh e Gwyneth Paltrow, por exemplo.

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A intenção do movimento é, além das marchas pelas ruas e hashtags nas redes sociais, arrecadar fundos para pequenos negócios, idosos e a segurança de todos os afetados. Uma campanha no site GoFundMe juntou mais de US$ 2 milhões (cerca de R$ 11 milhões).

Além do financeiro, é importante entender as origens do racismo asiático e o quão real ele se tornou depois do início da pandemia. Conscientização contra "piadas" sobre características de imigrantes, falta de representatividade no entretenimento e o preconceito com quem não se adapta ao estilo de vida branco são igualmente essenciais.

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