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Dentro do tributo a Michael Jackson: lágrimas e homenagens no adeus ao cantor

Repórter da Rolling Stone EUA conta sua impressão da cerimônia pública no Staples Center, em Los Angeles, na terça, 7

Por Steve Appleford Publicado em 08/07/2009, às 12h29

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Às 19h55 de segunda, o porteiro que guarda a porta de vidro do Staples Center, em Los Angeles, entregou uma mensagem para as centenas que já se aglomeravam à espera do tributo a Michael Jackson. "Estamos cientes do seu pesar!", ele anunciou em tom grave, afetuoso. "Estamos cientes da sua dor! E estamos cientes da sua alegria!"

O homem com camisa pólo roxa, então, instruiu aqueles com tíquetes para a formação de filas. Avisou, ainda, que os fãs deveriam deixar flores e outros "presentes" em cima de uma mesa fora do ginásio - enquanto isso, insistia "que é nosso prazer, privilégio, recebe-los...". Foi um momento de genuína cordialidade ao que, por outro lado, era um evento hiperbólico da mídia internacional - e, talvez, a fala do homem de roxo fosse melhor indicativo do que estava por vir do que os caóticos dias de organização que antecederam o acontecimento de terça, 7.

Parte funeral, parte celebração musical, o tributo de duas horas a Jackson foi profundamente emocional - um jorro público de luto, com inflamados depoimentos em louvor ao finado cantor e performances musicais inspiradas, de Stevie Wonder a Jennifer Hudson. Também foi o ingresso mais cobiçado do ano. Enquanto 17,5 mil entradas foram distribuídas gratuitamente a fãs, por meio de loterial virtual, os preços online iam tão longe quanto US$ 2 mil (R$ 4 mil). Os fãs do lado de fora do ginásio, contudo, encontraram cambistas vendendo o tíquete a preços tão baixos como US$ 200 (R$ 400) cada.

O acampamento midiático do outro lado da rua foi semelhante à combinação de Oscar e convenção política, com caminhões de satélite e câmeras de TV no horizonte. Atualizações vinham de todas as direções e celulares. Duas horas antes da cerimônia começar, o rumor era de que o corpo de Jackson não seria enterrado no cemitério Forest Lawn (onde uma cerimônia privada ocorreu da manhã daquele dia), mas transportado para o Staples Center, por meio de carro funerário ou helicóptero. Um homem com cabeça raspada podia ser ouvido aos berros: "Então ele não vai ser enterrado?".

Enquanto muitos fãs de amontoavam na entrada principal, outros se reuniram nos fundos da rodovia para esperar o carro que traria o corpo de Jackson. Quando o automóvel enfim passou, lentamente, por eles, o caixão dourado coberto de rosas vermelhas podia ser facilmente visto através da janela. Alguns aclamara, mas a maioria assistiu em silêncio. "Isso é maravilhoso", disse Christina Garcia, 28 anos. "É uma honra estar aqui. Definitivamente, é um dia triste."

Outros se alinharam próximos à entrada para assinar a coleção de grandes e brancos banners, que traziam centenas de mensagens rabiscadas em devoção ao cantor: "O Senhor seja louvado pelo presente que foi Michael Jackson", "RIP Michael - você foi o melhor" e "sempre acreditei em você". Outra mulher, em vestes negras, chorou enquanto um arranjo floral de 2 metros, no formato de coração, era erguido ao lado de uma estátua de bronze do ex-astro do Lakers (e amigo de Jackson) Earvin "Magic" Johnson. Lia-se "nós te amamos, Michael" em rosas vermelhas e brancas.

Uma vez dentro do ginásio, fãs e pessoas de luto recebiam programas com páginas de fotografias e depoimentos dos irmãos de Jackson e outros amigos. Mas estávamos em um tributo, não num concerto pop. Coroas funerárias se alinhavam ao longo do palco. A atmosfera era, antes de tudo, solene.

Smokey Robinson começou lendo declarações, de Diana Ross a Nelson Mandela, e o primeiro de muitos fãs gritou: "Te amamos, Michael!". Mas foi, em grande parte, silêncio e, em seguida, ovação quando os membros da família Jackson sentou em seus lugares. O coro cantou: "Aleluia! Aleluia!". Enquanto isso, o caixão dourado foi carregado pelos irmãos de Jackson, cada um usando uma só luva branca.

Mariah Carey foi a primeira a se apresentar, se destacando em um vestido preto, com decote profundo, para entoar um frágil "I'll Be There", o hit do Jackson 5. A cantoria cresceu apaixonadamente quando se juntou a ela Trey Lorenz. Fotos dos Jackson 5 mais novos foram exibidas em telão atrás deles.

No máximo, as curtas performances musicais eram como reciclagem do renomado 25° aniversário do Motown exibido em 1983, quando Jackson mostrou pela primeira vez seu "moonwalk". Era menos uma celebração simples de um legado musical e mais um vislumbre da profundeza de sentimentos dessa linhagem da música pop. Trouxe à tona o melhor nos números de terça. Mesmo Lionel Richie deixou de lado o estilo "baladas suaves de amante" e ativou o tom gospel numa excitante "Jesus Is Love".

Stevie Wonder sentou-se a um grande piano e disse tristemente à plateia: "Este é um momento que desejaria nunca ter vivido para ver". Ele cantou "Never Dreamed You'd Leave in Summer", acrescentando: "Michael, por que você não ficou?". Usher sentou-se em um banquinho, na escuridão, enquanto flashes de câmeras varriam o ginásio. Cantou "Gone Too Soon", e chegou a ir até o caixão no momento, encerrando o número com abraços na família Jackson, sentada na primeira fila.

A vencedora do Oscar Jennifer Hudson, visivelmente grávida em um vestido branco, lançou "Will You Be There" enquanto dançarinos faziam uma roda à sua volta. E, após trazer um par de amplificadores vintage, John Mayer tocou uma versão majoritariamente instrumental de "Human Nature" em sua desgastada guitarra Telecaster. Teve bom gosto, mas talvez tenha sido curto demais. Mas, para todas as mudanças e aparente caos reportados nos últimos dias, e todas as mudanças nos planos e locais de reunião, a cerimônia foi marcantemente bem-sucedida no Staples, onde Jackson passou suas semanas finais ensaiando para os 50 concertos na londrina O2 Arena.

Queen Latifah o chamou de "a maior estrela na Terra" e, logo, leu um novo poema de Jackson, escrito pela poetisa e ativista de direitos civis Maya Angelou: "Amados, agora que sabemos que não sabemos nada, agora que nossa estrela resplandecente e brilhante escapou da ponta dos nossos dedos como um punhado de vento de verão".

Berry Gordy, fundador da Motown, definiu Jackson "como um filho para mim", contou de jogos de beisebol entre os Jackson e os Gordy, e concluiu que o músico foi "o maior nome do entretenimento que existiu". Uma emocionada Brooke Shields falou nos tempos felizes que eles tiveram enquanto adolescentes e jovens adultos - como uma vez, na qual deram uma espiada no vestido de casamento de Elizabeth Taylor enquanto esta dormia. E Magic Johnson comentou de churrascos e fogos de artifício que soltou com os Jackson - lembrou, ainda, de uma tarde surpreendente e hilariante, em que era ele, o cantor e um balde de galinha frita. "O melhor momento da minha vida."

Outros sentiram necessidade em defender Jackson, após anos de problemas legais e financeiros, de ridicularização e acusações de pedofilia. Sheila Jackson Lee estava particularmente indignada, e provavelmente respondendo a comentários recentes do congressista nova-iorquino Peter King: "Sabemos que as pessoas são inocentes até que se prove o contrário". E o reverendo Al Sharpton deu ao cantor crédito por quebrar as barreiras raciais, para o bem de Oprah, Tiger Woods e Barack Obama. Suas palavras atravessaram todo o ginásio na hora de agradecer: "Obrigado, Michael!".

No final, os irmãos e irmãs de Jackson subiram ao palco com os dois filhos mais velhos de Michael. A menina Paris, 11, chegou ao microfone com olhos cheios de lágrimas. "Desde que nasci, papai tem sido o melhor pai que você pode imaginar. E só queria dizer que o amo muito", ela disse, desabando nos braços de Janet Jackson,

Minutos depois, no lobby, um sósia de Michael Jackson posou para fotos, bastante similar à aparência do cantor nos anos recentes: pele pálida, cabelo negro escorrido, silhueta fina. Fãs se enfileiraram para ser fotografados perto dele. Mas nem todos estavam bem-humorados com a homenagem. "Me salva!", um homem rosnou enquanto passava, balançando a cabeça. "O verdadeiro está dentro do caixão - nós acabamos de o deixar partir". Outra mulher acrescentou: "Obsceno!".

Do lado de fora, fãs estavam abatidas mas silenciosamente excitados com o que tinham acabado de presenciar. Jesse Martinez, 19 anos, tirava fotos ao lado da mãe. Elas dirigiram 200 milhas de Imperial Valley (também na Califórnia) para estar aqui. "Foi mais do que eu esperava", o jovem disse. Os dois usavam camisetas temáticas de Michael, compradas na noite anterior por US$ 5 (R$ 10). "Ela era a mais animada de todo mundo", o filho disse. "Meus pais têm todos os álbuns, então cresci ouvindo Michael o tempo todo."