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Depois de começo tardio, Charles Bradley estava ansioso por segundo disco

Aos 64 anos, soulman lança Victim of Love: "Você nunca é velho o bastante até estar caído no chão"

JAMES SULLIVAN Publicado em 24/02/2013, às 13h02

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Charles Bradley - Divulgação / Rogério Motoda
Charles Bradley - Divulgação / Rogério Motoda

Charles Bradley esperou mais de 60 anos para contar a história dele em seu disco de estreia, No Time for Dreaming (2011). Mesmo que estivesse fazendo shows incansavelmente para divulgar o disco com sua banda de apoio, a Menahan Street Band, Bradley estava impaciente, se coçando para voltar ao estúdio.

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“[Aquele disco] só abriu a primeira página do livro”, diz o cantor, cujo segundo álbum, Victim of Love (Dunham/Daptone), será lançado em 2 de abril. “Muitas coisas dentro de mim não foram contadas. Elas estão desesperadas por uma chance.”

Esteja ele cantando sobre seu coração faminto ou seu desespero com as desigualdades do mundo, Bradley se tornou conhecido pelo soul clássico e suplicante que faz. Embora tenha sido chamado por anos de Black Velvet (veludo negro), aparecendo em um show-tributo a James Brown com outro grupo do Brooklyn, o AllStarz (cujos integrantes chegaram a tocar em turnê com The Intruders, Clarence Carter e Brass Construction), ele não é só suavidade: Bradley, que também ganhou a alcunha de Screaming Eagle of Soul (águia gritante do soul), consegue cantar como se quisesse ser ouvido dentro de um furacão em “Hurricane”, por exemplo.

Tempestades são um tema recorrente. Outra faixa nova, “Confusion”, pega emprestado o soul psicodélico da última fase do The Temptations. Foi escrita, como muitas das músicas de Bradley, durante uma jam da Menahan Street Band. “Tom [Brenneck, guitarrista] começou a tocar e aquilo me pegou”, diz Bradley. “Saiu naturalmente.”

A história difícil de Bradley – envolvendo uma vida de trabalhos estranhos, um ocasional período como sem-teto e o assassinato do irmão – é contada no documentário Charles Bradley: Soul of America. O filme estreia no dia 10 de abril nos Estados Unidos, no canal EPIX, depois de ter sido bem-recebido no SXSW 2012.

O cineasta Poull Brien diz que ouviu a música de Bradley pela primeira vez quando um amigo estava lhe apresentando novos artistas do soul, como Sharon Jones e Aloe Blacc. “Eu costumava ser DJ de funk e soul”, Brien conta. A música "The World (Is Going Up in Flames)", que se tornaria o carro-chefe do disco de estreia de Bradley, “marcou muito” o diretor, que pouco depois se ofereceu para fazer um vídeo para a gravadora Daptone sem cobrar nada.

Isso levou ao documentário. "Ele é tudo o que qualquer gostaria de ter como tema”, diz Brien. "Era uma equipe entusiasmada grudada nele o tempo todo, ouvindo cada palavra. E ele estava completamente disposto – não houve momento em que ele não nos deixou acompanhar. Nós nos sentimos abençoados e com sorte por ter encontrado um cara como aquele."

O cantor começa a turnê de Victim of Love em 12 de abril; no fim do mês, apresenta-se no New Orleans Jazz and Heritage Festival, antes de voltar para casa, em Nova York, em um show no histórico Apollo Theater, no dia 16 de maio. Bradley já esteve lá para o funeral de James Brown, em 2007. Ele havia encontrado o ídolo uma vez, enquanto trabalhava como cozinheiro em São Francisco.

"Eu fui até o camarim dele e conversamos", ele relembra. "Eu disse: 'James, me dê uma chance, cara'. Ele olhou para mim de cima a baixo e disse: 'Meu jovem, eu posso dizer que você é um bom artista'." Mas o Padrinho do Soul não era do tipo que dividia o palco com um reles iniciante.

Desde que se lançou em carreira solo, Bradley se apresentou com outro ídolo, Stevie Wonder. Ele também ama algumas divas, incluindo Aretha Franklin e Barbra Streisand. Mas Bradley está se tornando mais conhecido por suas performances próprias, nas quais cai de joelhos e desce até a plateia para distribuir abraços em grupo.

Esta energia, diz ele, é recarregada a cada noite pela plateia. "Quando você estava buscando algo a sua vida toda...", diz, com a voz sumindo. "Eu apenas cuido da minha saúde e continuo batendo em portas. Estou aqui para agradar a todos e proporcionar bons momentos."

Aos 64 anos, após uma vida lutando por tudo isso, ele não tem intenção de diminuir o ritmo. "Você nunca é velho o bastante até estar caído no chão", diz Bradley. "Quando eu parar de cantar e dançar, é hora de ir para casa e curtir a vida no além."

Ouça, abaixo, "Strictly Reserved For You", faixa de Victim of Love: