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Dez anos de Room on Fire, do Strokes: “Conseguíamos sentir os olhos do mundo em nós”, diz produtor

O álbum, lançado em 28 de outubro de 2003, mostrou uma progressão natural do som que mudou o rock em 2001

Pedro Antunes Publicado em 28/10/2013, às 13h36 - Atualizado em 29/10/2013, às 02h29

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Strokes gravando o disco <i>Room on Fire</i> - Reprodução / Site oficial / Toshikazu Yoshioka
Strokes gravando o disco <i>Room on Fire</i> - Reprodução / Site oficial / Toshikazu Yoshioka

Os cinco Strokes e Gordon Raphael passaram três meses no estúdio TMF, em Nova York. Foram 12 semanas em que os cinco se enfurnaram para a gravação, mixagem e masterização de Room on Fire, segundo e aguardado disco da banda que protagonizou o que foi chamado de “a última revolução do rock” – seja estética, seja sonora. O trabalho foi lançado em 28 de outubro de 2003 e comemora, nesta segunda-feira, dez anos de existência nas prateleiras de CDs, aparelhos de MP3 e (algumas) vitrolas. A pressão estava lá o tempo todo.

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Todo o rebuliço em torno do grupo se deu por conta do EP The Modern Age e do disco de estreia Is This It, lançados em janeiro e agosto de 2001, respectivamente. Foram dois anos da banda em turnê por Europa, Estados Unidos, e a espera para o que viria a seguir daquele quinteto sujo de Nova York só crescia. Estes discos, assim como Room on Fire, foram gravados com o produtor Gordon Raphael, nascido em Seattle, mas que também vivia em NYC.

“No primeiro dia no estúdio, a banda ainda estava enlouquecida com o que havia acabado de acontecer com eles, na vida pessoal e profissional”, diz Raphael, em entrevista à Rolling Stone Brasil. “Sim, eu sei que eles sentiram a pressão – já que o mundo pareceu amar o primeiro disco. Eles queriam fazer um álbum ainda melhor, se fosse possível. Acho que eles estavam se colocando muita pressão para criar um segundo disco que se equiparasse às expectativas de todo mundo, ou próximo do que eles acham que era a expectativa”.

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Raphael entende que Room on Fire é um disco mais sombrio do que Is This It. Em entrevista à Rolling Stone EUA, para uma matéria de capa de 2003, a banda discutiu influências bastante distantes daqueles óbvios Velvet Underground e The Troggs. Os cinco integrantes vão mais longe.

O guitarrista Albert Hammond Jr diz que “Automatic Stop”, dona de uma linha de guitarra bem única, como se o reggae encontrasse a distorção punk, é uma homenagem a “Girls Just Want Have Fun”, de Cyndi Lauper. O vocalista Julian Casablancas, por exemplo, afirma que “The End Has No End” bebe da fonte de “Sweet Child O’Mine”, do Guns N’ Roses. Já o outro guitarrista da banda, Nick Valensi, prefere dizer que muito deste álbum veio das atmosferas sombrias do The Cure e seu post-punk depressivo.

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Questionado sobre as referências pouco ortodoxas, Raphael elogia o esmero com que os Strokes pesquisavam novas sonoridades. “Eles sempre foram músicos muito, muito criativos e inteligentes”, diz ele. “A maior parte cresceu na cidade de Nova York, viviam ali e ouviram e estudaram todo o tipo de rock e música pop, de Doors e Beatles, passando por Bob Marley, Cyndi Lauper e Blondie”, completou.

Raphael acompanhou todo o processo de crescimento de Julian Casablancas (voz), Nick Valensi (guitarra), Albert Hammond, Jr. (guitarra), Nikolai Fraiture (baixo) e Fabrizio Moretti (bateria), desde quando eles gravaram, em três dias, o EP que mudaria a vida deles. “A primeira vez que gravei com o Strokes, eu senti uma influência de Velvet Underground e eu estava pessoalmente inspirado por Stooges e uma banda industrial de Vancouver chamada Skinny Puppy. Tudo para conseguir fazer uma produção mais agressiva em si, mais suja.”

Fim das Longas Férias: o Strokes estavam prestes a lançar o quarto disco da carreira, Angles, em 2011, e marcava o retorno do grupo aos estúdios.

Room on Fire, no período de lançamento, dividiu fãs e públicos pela linha adotada pela banda. Alguns, furiosos, diziam que a banda fez apenas uma continuação de Is This It, enquanto outros ouviam nas 11 músicas, somando pouco mais de 30 minutos de duração, uma evolução para a sonoridade tão própria da banda. Ainda assim, o disco foi bem nas paradas: na Inglaterra, conseguiu um segundo lugar, enquanto nos Estados Unidos o álbum foi o quarto mais vendido.

Algumas faixas do disco entraram para o setlist usado pela banda nas últimas turnês –a última passagem pelo Brasil, após o lançamento do quarto álbum, Angles, por exemplo, mostrou a força do disco. Das 19 faixas tocadas, quatro eram de Room on Fire:

“12:51”, “Reptilia” (com direto à coro do público no solo), “Automatic Stop” e "Under Control", responsável por abrir o bis no show que encerrou a edição do festival Planeta Terra de 2011.

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Depois de The Modern Age e Is This It, contudo, a banda havia decidido seguir com outro produtor. Eles chegaram a gravar algumas faixas com Nigel Godrich, produtor de Radiohead, Paul McCartney, Travis, Beck, Ride, Pavement, entre outros. As sessões não foram bem e, logo, Julian ligou para Raphael. “Estava com o coração partido quando disseram que iriam gravar com outro produtor”, diz Raphael. “Eu via que tínhamos um ótimo trabalho em equipe e um ótimo resultado com Is This It ”. No momento em que foi chamado, o produtor aceitou o novo trabalho. “Eles queriam ver o que poderiam fazer com mais tempo em estúdio”, diz.

O resultado foi um álbum agressivo, que mostra a vida adulta batendo forte diante daqueles cinco jovens que estavam acostumados a tocar nos menores e mais sujos cantos de Nova York. Em vez de temáticas cheias de festas incríveis e ressacas tão intensas quanto os amores de uma noite fulminante, a banda dava a sua perspectiva para a vida adulta e aos relacionamentos maduros. O Strokes era uma banda diferente quando voltou ao estúdio com Gordon Raphael. Isso ele garante. “Nós conseguíamos sentir os olhos e ouvidos do mundo sobre nós”, diz ele. “Eu nunca havia sentido isso!”

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