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Diretor fala sobre documentário inspirado na democracia corintiana

“Não sinto que é um filme específico sobre o clube”, conta Pedro Asbeg sobre Democracia em Preto e Branco

Por Bruno Raphael Publicado em 05/08/2011, às 15h54

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"Deixo que a conclusão fique a cargo do espectador porque, se for ver, entre as pessoas do palanque mais famoso das Diretas Já!, estavam Fernando Henrique Cardoso e o Lula", conta o diretor à <i>Rolling Stone Brasil</i> - Reprodução
"Deixo que a conclusão fique a cargo do espectador porque, se for ver, entre as pessoas do palanque mais famoso das Diretas Já!, estavam Fernando Henrique Cardoso e o Lula", conta o diretor à <i>Rolling Stone Brasil</i> - Reprodução

Em 1984, o Brasil passava por um período conturbado no governo militar que tomava conta do país desde o início da década de 60. A ditadura chegava aos seus dias finais e tinha como maior representante da ascensão da democracia, curiosamente, um time de futebol - ao menos é essa a relação que o documentário Democracia em Preto e Branco tenta traçar. Levando como pano de fundo o núcleo ideológico criado pelos jogadores Sócrates, Casagrande e Wladimir dentro do Corinthians - no qual, por meio do voto, a equipe toda decidia questões como contratações e regras de concentração -, o diretor Pedro Asbeg faz um panorama dos momentos que conduziram até histórico movimento das Diretas Já!, em 1983.

Leia textos das edições anteriores da Rolling Stone Brasil - na íntegra e gratuitamente!

Em entrevista à Rolling Stone Brasil, Asbeg tratou dos principais temas do documentário, que vem sendo rodado desde 2010 numa iniciativa independente dele e do produtor Gustavo Gamas Rodrigues. Usufruindo do crowdfunding (prática que consiste na captação de verbas para uso artístico, através de doações do público via internet) os dois conseguiram arrecadar mais de R$ 22 mil para a realização do documentário. "Já havia feito a primeira etapa das entrevistas em 2010 por conta própria. Mas de lá pra cá, percebi que o filme não tratava só da democracia corintiana", conta Asbeg. "Então decidimos seguir por um caminho próprio, que poderíamos dar conta. Sentei com Gustavo e decidimos estipular uma cota para o site."

A iniciativa termina neste sábado, 6, no site Incentivador. Lá, é possível doar qualquer quantia, num sistema que premia o doador. Uma contribuição de R$ 500, por exemplo, dá direito a um estágio como assistente de direção no documentário, além de ter seu nome publicado nos créditos finais do filme (para saber clique aqui).

Explicando como surgiu a ideia de produzir Democracia em Preto e Branco, Asbeg, experiente no ramo de documentários futebolísticos (dirigiu e produziu mais de 10 curta-metragens, como Unido Vencerás, de 2003), conta que o que lhe empolgou a princípio não foi o fato de se tratar do Corinthians, mas sim da realidade que se formava ali. "Quando a gente entende o contexto em que aquilo [a democracia corintiana] estava acontecendo, na base do voto democrático, ao mesmo tempo que as pessoas no Brasil queriam e não podiam votar pra presidente, a conexão fica muito grande", conta o diretor. "Não sinto que é um filme específico sobre o Corinthians, pela questão da contextualização. Vamos tratar de todo o processo de redemocratização do Brasil, incluindo até a música como o Rock Brasil, que surgia naquele momento."

Dentre todos os atletas do Corinthians, Asbeg opta por destacar um grande ídolo da equipe na época. "No que diz respeito ao Sócrates, isso é muito verdadeiro. Ele falava muito sobre política e a importância do voto. A poucos dias da aprovação ou não da Emenda Dante de Oliveira [proposta de 1984 que decidiria se ocorreriam ou não as eleições diretas no país], ele subiu num palanque e declarou que tinha uma proposta do [clube italiano] Fiorentina", conta Asbeg. "Ele usou o poder de mobilização que tinha dizendo que, se a emenda fosse aprovada, ele não sairia do Corinthians. Mas, infelizmente, a emenda não foi aprovada e o Sócrates foi pra Itália."

No panorama atual, o diretor não vê nenhum atleta com engajamento semelhante ao do "doutor" Sócrates. "Não sou saudosista, mas acho que a tendência é que os jogadores sejam cada vez mais treinados para darem respostas que não vão, de maneira alguma, fazer com que o patrocinador dele ou a torcida fiquem chateados, ainda mais no que diz respeito à política", acredita Asbeg, que diz não tentar veicular nenhum tipo de ideologia no documentário. "Deixo que a conclusão fique a cargo do espectador porque, se for ver, entre as pessoas do palanque mais famoso das Diretas Já!, estavam Fernando Henrique Cardoso e o Lula."

Democracia em Preto e Branco ainda não tem previsão de conclusão das filmagens, mas Asbeg conta que "num mundo ideal, o filme seria finalizado entre maio e junho de 2012". O primeiro trailer pode ser conferido abaixo:

Democracia em Preto e Branco from Gustavo Rodrigues on Vimeo.