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“É impossível ser mais sincero do que Johnny Thunders com uma guitarra”, diz diretor de documentário sobre o ex-New York Dolls

Looking for Johnny será exibido no MIS, em São Paulo, na nesta quarta, 8

Lucas Brêda Publicado em 08/10/2014, às 18h20 - Atualizado às 18h49

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Johnny Thunders - Reprodução/Vídeo
Johnny Thunders - Reprodução/Vídeo

“Quando você é moleque, tem duas ou três bandas favoritas. Para mim essas bandas foram The Clash e Johnny Thunders”, conta Danny Garcia que, após realizar The Rise and Fall of The Clash, estreia o documentário Looking for Johnny no Brasil, com exibição no MIS, em São Paulo, na noite desta quarta, 8. Com pouco dinheiro – e tímidas pretensões –, o cineasta concluiu o segundo filme da carreira dedicado ao rock, priorizando um dos artistas esquecidos mais importantes da história do punk: o ex-New York Dolls e Heartbreakers Johnny Thunders.

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Em conversa por telefone com a Rolling Stone Brasil, Garcia narra: “Eu simplesmente pensei: ‘Não existe um bom documentário sobre Thunders’, o que é inaceitável. Então, decidi: ‘Quer saber? Eu mesmo vou atrás disso’”. O sucesso com The Rise and Fall of The Clash (2012), também ajudou na obtenção de material para o novo longa. “As pessoas que me ajudaram com o Clash, também me ajudaram com Thunders”, diz. “Deram-nos 70 minutos de filmagens inéditas do Heartbreakers”.

“Quando comecei a entrevistar as pessoas, percebi que todo esse material era explosivo”, revela. Uma das cenas citadas com mais apreço por Garcia é a que traz o guitarrista em uma das usuais e insanas performances ao vivo. “Nos anos 1970, não dava para adivinhar que tipo de show você iria ver. Você só sabia que músicas eles iam tocar. Sempre”, recorda.

Além de Sid Vicious, é possível afirmar que Thunders foi o ícone punk de vida mais intensa, regada a drogas e desapego. A inconsequência – muitas vezes inerente ao próprio estilo de vida do músico – pode ter brecado a ascensão dele, após influentes discos com o New York Dolls e o Heartbreakers. Nos anos 1980, o guitarrista se viu em uma carreira solo caótica – mas recheada de pérolas – que desembocou na morte dele, em 1991. “Assim que as coisas começavam a ficar boas, ele fazia algo para foder com tudo”, diz Garcia.

“Todos nós já sabemos que ele sofreu com o abuso de [substâncias] tóxicas, mas este não é o tipo de filme que eu gosto de fazer”, comenta o diretor, se referindo ao documentário Born to Lose (1999), também sobre Thunders. “Queria mostrar Johnny de outra maneira: como ele era bom compositor, guitarrista e entretenedor, falar sobre a vida e os discos dele. Ter um filme decente sobre Johnny Thunders – um ao qual eu gostaria de assistir. Não um filme dele ficando chapado e usando drogas. Queria mostrar Johnny de uma forma positiva: como eu o vejo”.

A própria morte de Thunders é tida como algo misterioso. Garcia afirma ter feito uma longa busca – tendo analisado, inclusive, o obituário do músico – e trata o acontecimento como decorrência da vida que Thunders teve. “Tudo aponta para Johnny ter ficado muito mal quando ele foi para Nova Orleans”, comenta o cineasta. “Ele tinha hematomas por todo o corpo e, em lugares estranhos – estava muito, muito doente. Sei que a imprensa e os fãs sempre procuram por algo mais místico, mas, neste caso, pessoalmente, acho que o corpo ‘desistiu’ dele”.

Genuíno, lendário e seminal

“É impossível ser mais sincero que Johnny Thunders tocando guitarra e cantando com o coração na ponta da língua. Ele não fazia pose – como vários outros contemporâneos dele, na cena punk”, define Danny Garcia. A sinceridade do músico, transformada em acordes, foi o coração da música do New York Dolls, que já em 1973 precedia – junto a David Bowie e Lou Reed, entre outros – o que Ramones e Sex Pistols tornariam mundialmente conhecido.

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“Não havia cena local em Nova York antes do [New York] Dolls. Tinha algumas bandas tocando no Queens, em Long Island, mas não havia nada sólido ocorrendo em NY. E o Dolls criou a coisa toda – cinco anos antes do CBGB. O Dolls criou essa cena. E Ramones, Patti Smith, Television, todos eles assistiram ao Dolls antes. Só assim eles puderam montar uma banda”, narra Garcia, estruturando a formação do punk norte-americano, que ganhou força nas casas de shows CBGB e Max’s, já na segunda metade da década de 1970.

De forma pragmática, o cineasta afirma: “Johnny Ramone se baseou em Johnny Thunders, como fizeram Sid Vicious, e Steve Jones, e Mick Jones – e assim vai. Sem sequer saber, ele influenciou todos esses caras que mudaram o jogo, sabe? Não só a música, como a moda, e tudo mais. Estamos falando de alguém muito importante na cultura, e não são muitas pessoas que o conhecem”.

Entretanto, se o fato de Thunders ser tratado como uma “lenda esquecida” motivou Garcia a dar este título ao longa, ele nega. “Não, não. É apenas para explicar que eu estava procurando saber quem é o verdadeiro Johnny Thunders, por trás da persona pública que todos nós conhecemos”. Ele ainda conclui – e alfineta os jovens atuais: “Não acho que ele seja ‘esquecido’. É que ele é conhecido apenas por uma parcela de jovens do underground, que conhecem Thunders, Television, Ramones, e tudo mais – e estou falando da música e não da camiseta”, conta segurando o riso.

Exibição de Looking For Johnny – The Legend of Johnny Thunders

8 de outubro (quarta-feira), às 21h

Museu da Imagem e do Som (MIS) - Avenida Europa, 158 - Jardim Europa - São Paulo – SP