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Nos Embalos do Pop

Uma noite de bebedeira com Ed Sheeran, o superastro que sofria pesadamente com bullying e agora quer apenas uma vida “normal”

Patrick Doyle Publicado em 23/05/2017, às 17h21 - Atualizado às 18h13

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Ed Sheeran por Peggy Sirota - Peggy Sirota
Ed Sheeran por Peggy Sirota - Peggy Sirota

‘‘Vamos encerrar lá em casa!”, Ed Sheeran grita enquanto entra em uma SUV. É pouco mais de meia-noite em Londres. Ele passou boa parte da noite em um bar, e mesmo com o chamativo cabelo ruivo escondido por um boné as pessoas começaram a reconhecê-lo. O DJ tocou uma de suas músicas e os amigos tiveram de criar um muro ao redor dele para que pudesse beber em paz. Isso o deixou um pouco ansioso – é por esse motivo que estamos indo para a casa dele em West London para continuar a festa.

Sheeran, que faz o primeiro show de uma turnê pelo Brasil nesta terça, 23, está celebrando porque sabe que está prestes a conseguir seu primeiro número 1 nos Estados Unidos com “Shape of You”, uma faixa elegante com batida funk de seu novo álbum, ÷ (pronuncia-se Divide). Juntaram-se a nós sua namorada, Cherry, e os velhos amigos Zack, Nathan e Catherine, que o veem se apresentar desde que lançou o primeiro álbum, The Spinning Man, aos 13 anos. “Ganhei disco de madeira”, Sheeran, agora com 25, brinca. “Nada de ouro. Vendi 100 cópias.”

Ele está enchendo a cara hoje: martínis com expresso e shots de ponche de rum no jantar, gim-tônica no bar. É meu aniversário e, a certa altura, ele pega meu celular, tira uma selfie nossa e posta no meu Instagram, escrevendo: “É meu aniversário, vadias #london #hashtag #believe #achieve #inspiration”. Encoraja os amigos a entornar cervejas com um grito de guerra que termina com “Na na na na/Hey hey hey/You’re a cunt!”

Logo chegamos à casa dele, um espaço de cinco andares em estilo industrial com paredes de tijolos, piso de madeira e vários toques pessoais: um Pokémon Charmander de pelúcia no quarto e um bong no formato da cabeça do produtor Benny Blanco na sala de estar. Também há um estúdio de gravação, uma academia e um bar completo, onde recentemente recebeu vários atores de seu seriado preferido, Game of Thrones, no qual fará uma ponta. Quando entramos, Sheeran oferece quartos a quem quiser “mandar ver” e vai preparar drinques.

Possivelmente tirando Justin Bieber, ele é o maior astro pop da atualidade, mas o refinamento da máquina pop é algo a que resiste com todas as forças. Sua vida é uma mistura caótica de excesso de comida de bar, partidas de sinuca às 3h da manhã, shots no jantar e decisões impulsivas: “Se um dia você precisar de uma banda de casamento...”, diz logo depois de nos conhecermos e ficar sabendo que tenho uma namorada. “Sempre digo: ‘É de graça se eu estiver livre’. Se você me der muita bebida e uma cama, estarei lá” (durante o período que passamos juntos, conheço pelo menos três amigos em cujo casamento ele tocou). Sheeran não tem filtro. “Uma merda das grandes lá em cima, cara. Quem fez aquilo?”, pergunta depois de sair do banheiro (um amigo admite o feito).

À medida que a fama aumenta, agarrar-se a algo que pareça normal é importante para ele. Anda muito com os velhos amigos; até escreveu sobre eles no single “Castle on the Hill”, uma homenagem a seus dias rebeldes no ensino médio em Suffolk, na Inglaterra.

Por volta das 4h da manhã, Sheeran corre para o andar de cima para pegar o violão e, depois, senta à mesa da cozinha. Toca por duas horas seguidas – um show consideravelmente mais intimista do que os de estádio que faz sozinho, somente com um violão e um pedal de loop. Esta noite, toca músicas de ÷ e também várias faixas não lançadas que, diz, estão planejadas para discos futuros. Aceita pedidos também – incluindo “Love Yourself”, o hit número 1 que compôs com Justin Bieber. “Sabe que ‘Love Yourself’ era para se chamar ‘Fuck Yourself’, certo?”, brinca antes de tocar essa versão.

Em resumo, este é o dom de Sheeran: ser uma mistura de trovador da velha guarda com hitmaker do Top 40, um cara que poderia arrasar na noite de palco aberto no bar, mas também é um dos compositores que mais entendem de pop atualmente (e também é um rapper surpreendentemente bom). Suas plateias são formadas, na maior parte, por garotas, mas ele é suficientemente talentoso para impressionar alguém como Elton John, que o contratou para sua empresa de agenciamento em 2011. “Ele pode escrever melodias de maneira tão simples”, diz John, mencionando “Thinking Out Loud”, vencedora do Grammy de Canção do Ano em 2016. “Van Morrison teria se orgulhado muito de compor essa. Ele me faz pensar em mim mesmo quando fui pela primeira vez para os Estados Unidos, em 1970. Todos os motores estavam ligados, nada era impossível. O problema é que, agora, todos soam como Ed Sheeran: Shawn Mendes, Justin Bieber...”

“Desculpe, estou um pouco bêbado”, Sheeran diz depois de errar um verso de uma faixa nova. Ele pausa para enrolar um cigarro e esquentar uma pizza. Depois, senta e toca “Perfect”, uma valsa dedilhada de ÷. Como a maioria das canções que compõe atualmente, é sobre Cherry, que conhece desde o ensino médio e com quem retomou contato em uma festa após um show em Nova York. Eles mantiveram o relacionamento em segredo por um ano, até Taylor Swift os convidar para sua festa de 4 de Julho em Rhode Island e uma amiga postar no Instagram a foto de uma faixa comemorando o primeiro aniversário do casal.

“I found a love to carry more than just my secrets” (“Encontrei um amor para aguentar mais do que só meus segredos”), Sheeran canta. “I don’t deserve this, darling, you look perfect tonight” (“Não mereço isso, querida, você está perfeita esta noite”).

“Minhas glândulas lacrimais estão pulsando”, diz Catherine.

“Vou pensar em outra para chorar”, Sheeran responde.

“Não faça isso!”, ela implora.

Ele se levanta e prepara mais um gim-tônica. “Estão todos bem? Estou muito bem.”

Por volta das 6h, é hora de ir para a cama.

No começo do ano passado, Ed Sheeran e Cherry estavam fazendo um passeio em um vulcão na Islândia quando ele ignorou instruções do guia para não se desviar de uma trilha. Enquanto se aproximou de um gêiser borbulhante, a camada fina de terra começou a ruir embaixo de seus pés, que mergulharam em água a quase 95 graus. Foi a primeira vez em que Cherry o ouviu gritar. Ela tirou uma das meias dele e a pele saiu junto. “Ainda tenho estresse pós-traumático por causa disso”, conta. Ele teve de ser levado de helicóptero até um hospital.

O casal poderia ter ido para casa – em vez disso, continuou com uma viagem que durou seis meses. Pelo jeito, ele realmente precisava fugir de ser astro pop por um tempo.

Geralmente, o humor de Sheeran é incansavelmente bom, mas ele admite que de vez em quando “entra em parafuso”. Isso aconteceu em 2013, quando conseguiu a chance de abrir os shows de Taylor Swift e se mudou para Nashville, onde a turnê estava baseada. “Eu estava na turnê mais incrível do mundo, porra”, conta. “Estava morando em um país ao qual não pertencia, em uma cidade onde praticamente não conhecia ninguém.”

Sheeran começou a beber – muito. Seu parceiro frequente de composições, Johnny McDaid, guitarrista do Snow Patrol, ficou preocupado quando o viu em um show em Hollywood em 2015. “Ele não parava um segundo”, McDaid conta. “Sentei com ele e falei: ‘Olha, cara, pode se divertir o quanto quiser, mas tome cuidado, porque se a bolha estourar, você pode demorar muito tempo para se recuperar’.”

Um único comentário no Twitter podia acabar com o dia dele: “Todos diziam na internet ‘Ed está ficando careca’, e não estou, mas fiquei convencido de que estava. Cabelo ruivo é muito fino – o meu é totalmente fino. Eu também estava muito grande na época”, acrescenta, falando de seu peso, “então meio que fiquei com complexo de duas coisas para as quais nunca daria a mínima”.

Além disso, perdeu alguns amigos. “A lista da Forbes fodeu com tudo”, afirma, falando de uma matéria na revista que indicava que ele havia faturado US$ 57 milhões em 2015. “Recebia mensagens de texto com fotos de carros e a pessoa falando ‘quero este de aniversário, por favor. Só custa 0,06% de sua renda anual’” (ele acabou parando de usar o celular; usa um iPad para se comunicar e um telefone velho para familiares próximos).

Então, depois de ir ao Grammy do ano passado e ganhar o prêmio de Canção do Ano, Sheeran pulou as festas pós-premiação e embarcou em um voo para a Islândia. Assim que o pé dele sarou, o casal viajou pelo interior do Japão por um mês, de Hokkaido a Okinawa, onde ele pôde andar anônimo, “comer coisas estranhas, mergulhar nas águas termais e esquiar”.

Sheeran parou de fumar e passou a beber bem menos. Em junho, passou três semanas em Gana a convite do cantor ganense-inglês Fuse ODG. Trabalhando na casa de Fuse, começou a compor músicas com influência africana. “Toda vez que fazíamos uma música, davam uma festa para ela”, conta. “Ele convidava mais de 200 pessoas e ia até altas horas.”

Apenas uma delas, “Bibia Be Ye Ye”, está em ÷, mas a liberdade que Sheeran sentiu na viagem permaneceu. Enquanto o álbum anterior, x, detonava amargamente suas ex-namoradas, ÷ tem faixas como “Happier”, que ele escreveu depois de um casamento, quando encontrou uma ex e o atual dela, de quem Sheeran nunca gostou. “Ele estava realmente bem”, conta. “Pensei ‘claro, isso tinha de acontecer’.”

Elton John diz que as viagens “renovaram a alma” do cantor. McDaid corrobora: “Percebi, nos últimos meses, que ele sabe que vai ficar tudo bem. Sabe que fez algo incrível novamente. Acho que retomou contato com os amigos e com a família e se sente ancorado”.

São 11h da manhã depois do show improvisado na sala de estar de Sheeran. Gotas de chuva batem nas janelas do quarto de hóspedes, revelando um céu cinza. Apenas cinco horas se passaram desde que foi dormir, mas ele está no andar de baixo na academia, sem camisa, no meio de seu exercício diário de dez minutos no elíptico. “Suando tudo!”, exclama.

O estúdio fica do outro lado do corredor. Ele pede a todos que visitam que assinem nas paredes. Há autógrafos de gente como Rick Rubin, Harry Styles e Benny Blanco e um desenho de Damien Hirst, um de seus artistas preferidos. Uma parede está vazia, exceto por um nome. “É o Clapton”, Sheeran conta sorrindo. “Elton vem aqui na semana que vem e a Cherry vai cozinhar, então vou fazer uma parede das lendas.”

Sheeran e Clapton começaram a se falar por e-mail. O guitarrista o convidou para subir ao palco no Japão no ano passado e às vezes vem jantar. Sheeran não é exatamente querido pelos críticos, mas dá de ombros: “Não me importo com o que pensam de mim. Toda vez que alguém tem um problema comigo, penso: ‘Meus heróis gostam de mim. As pessoas por quem comecei na música são fãs do que faço. Por que diabos me importaria com o que os outros pensam?’”

Vamos almoçar em um pub nas redondezas, onde Sheeran imediatamente pede uma rodada de cerveja Adnams, de sua cidade natal. Fala sobre crescer em Suffolk, onde era zoado por ser ruim em esportes, por ser ruivo – e, principalmente, por ser gago. “Eu levantava a mão e não conseguia falar. E crianças são cruéis. Então, assim que isso acontecia, alguém imitava, e eu pensava ‘não vou levantar a mão da próxima vez’.” Diz que fazer rap ouvindo Marshall Mathers LP (2000), de Eminem, o ajudou a perder a gagueira.

Seus pais eram curadores de galerias de arte, montando exposições e fazendo palestras na cidade. O pai o ensinou a ser durão. “Ele cresceu com lábio leporino”, conta, “e dizia: ‘Toda vez que alguém zombar de você, bata o mais forte que conseguir e diga que não farão isso de novo’.” O pai ainda não leva desaforo para casa: Sheeran conta uma história sobre acender um cigarro em uma festa recente da Warner Bros. “Alguém disse: ‘Senhor, não pode fumar aqui’, ele respondeu ‘sou o senhor Warner’ e o deixaram em paz.” A mãe é o completo oposto. “Ela é literalmente um anjo”, afirma.

Embora o pai tivesse sugerido brigar para lidar com os problemas, Sheeran preferia o humor. “A maioria dos ruivos que conheço é muito extrovertida e engraçada”, define. “Basicamente contam a piada antes de você. Tipo meu primeiro álbum é laranja. Tem um motivo para isso – cheguei antes de você.” Ele acha que essa época tem muito a ver com sua escolha de carreira: “Esse negócio de ser músico meio que vem de querer ser amado e querido”.

Sheeran abandonou a escola em 2007, quando tinha 16 anos, e se mudou para Londres. Começou a se apresentar em noites de microfone aberto em bares no estilo “banquinho e violão”, mas encontrou público em clubes de hip-hop, shows de comédia e noites de jazz. “Em qualquer lugar onde não fosse comum ter um cantor e compositor, eu imediatamente me destacava”, lembra.

Em 2010, Ben Cook, chefão da Asylum Records, viu um clipe de Sheeran na internet. Foi a diversos shows – incluindo um em Southampton, na Inglaterra, onde Sheeran estava em pé sobre uma cadeira no meio da plateia e tocava violão. “Ele estava fazendo rap”, conta Cook, “então o pessoal estava tentando acompanhar e havia coisas realmente românticas de que as garotas gostavam”. Cook o contratou logo depois.

A primeira grande turnê de Sheeran nos Estados Unidos foi abrindo para o Snow Patrol em 2012, mais ou menos na época em que seu primeiro single, “The A Team” – uma balada sobre uma prostituta viciada em crack que conheceu em um abrigo para sem-teto –, estava estourando. “Em Orlando, havia umas 200 pessoas na primeira fila para ver o Ed”, conta McDaid. “Em meados da turnê, tinha umas 2.000. Dava para ver aquilo acontecer bem na sua frente.”

A turnê seguinte foi consideravelmente maior: 66 shows abrindo para Taylor Swift. “Ouvi ‘Lego House’ na Austrália quando estava na turnê de Speak Now”, conta a cantora. “Essa música arrasava com tudo.” Os respectivos empresários os uniram e eles acabaram sentados em um trampolim no quintal de Taylor compondo “Everything Has Changed”. Toda noite, ela convidava Sheeran para subir ao palco e tocar a balada.

Fora do palco, aquele foi seu período mais prolífico romanticamente. Ele diz que se envolveu com algumas amigas famosas da artista. “O mundo dela é o das celebridades”, descreve Sheeran. “Eu era um moleque britânico estranho de 22 anos em turnê com a maior artista dos Estados Unidos, que tinha todas aquelas amigas famosas. Foi muito fácil... frequentemente me via em situações nas quais acordava, olhava em volta e pensava ‘Como é que isso aconteceu?’” (Katy Perry recentemente resumiu o charme dele com as mulheres: “Todas o amam, ninguém tem medo dele, elas querem namorar com ele. Elas podem ficar com ele”.)

Sheeran narrou alguns desses relacionamentos em seu segundo álbum, x, de 2014. Escreveu “Don’t” sobre um caso com uma estrela pop que termina quando ele fica sabendo que ela transou com um amigo hospedado no mesmo andar no hotel. Muitos especularam que era Ellie Goulding, que em seguida lançou “On My Mind”, que tem o verso “Você queria meu coração, mas eu só gostava das suas tatuagens”. Ela negou ter se envolvido com Sheeran.

Uma pessoa com quem ele não ficou na turnê foi Taylor Swift, apesar das manchetes de sites de fofoca. “Achei esse aspecto um jornalismo bem preguiçoso”, afirma. “Não havia nenhuma verdade nisso.”

Sheeran e Taylor só se veem uma ou duas vezes por ano, mas ainda são próximos. “Temos gatos da mesma raça, fizemos presentes artesanais um para o outro no Natal, tiramos férias com nossas famílias e nos apoiamos”, diz a cantora. “Ele é o James Taylor da minha Carole King e não consigo imaginar que um dia não seja.” Sheeran pensa nos dois fazendo uma turnê por estádios em que trocam músicas por uma noite, como Jay Z e Justin Timberlake fizeram há alguns anos. “Ela estaria ao meu lado se tudo acabasse para mim”, ele afirma. “Taylor é meio que uma anomalia nesse sentido.” Ele fica irritado com as críticas recentes à cantora: “Ela é onipresente, porque é a mulher mais famosa do mundo, então não pode tomar a decisão de não estar na imprensa. Sempre a defendo.”

Na maioria dos finais de semana em que não há turnê, você pode encontrar Sheeran assistindo a jogos de hóquei. Cherry jogou no time da Duke University, nos Estados Unidos, até 2014. Mudou-se para Londres no ano passado com o cantor e assinou um contrato para jogar no Wimbledon Hockey Club (hóquei na grama é importantíssimo na Inglaterra). Durante a semana, ela trabalha como consultora financeira. “É a garota mais doce que você pode conhecer, mas no campo é a porra de um animal”, ele diz, orgulhoso.

No Oxford Hawks Hockey Club em um sábado, Sheeran encosta no lugar de sempre em uma cerca para ver o primeiro jogo da temporada e conversa com alguns pais (“Você faz algo musical?”, um deles pergunta).

Cherry, com a camisa 17, corre até ele, os dois se beijam e dão seu aperto de mãos secreto. No primeiro encontro, ele a levou para uma premiação no baile do American Institute for Stuttering – “Foi um evento bem triste, porque há muitas crianças que simplesmente não conseguem falar uma palavra”, Sheeran conta. O segundo encontro foi numa festa de aniversário para o empresário de Adele. Sheeran “testou” Cherry ao deixá-la sozinha por algumas horas. “Uma das principais coisas de ter um relacionamento comigo é que você precisa ser sociável pra caralho e boa em conversar com as pessoas, porque me arrastam para longe em festas e eventos. E a Cherry é perfeita nisso. Faz amizade com todo mundo.”

Depois da partida, Sheeran é levado à sede do clube. Pega uma bandeja e se serve de batata com feijão e queijo, levantando os dois polegares enquanto mastiga. Está no meio do prato quando vários outros times entram no local: garotas do ensino médio. Vários grupinhos delas se aproximam da mesa dele. O salão inteiro parece estar questionando por que exatamente Ed Sheeran está aqui. “Vou precisar ir embora”, diz. “Estou sendo muito filmado.” Ele coloca o boné e sai, de cabeça baixa, ileso. “Acabei de perceber que era uma escola inteira – todos os times. Não é o ideal”, afirma já dentro do carro.

Esse tipo de atenção o assusta um pouco e, ultimamente, ele tem lidado com invasões ainda mais estranhas de sua privacidade. Há pouco tempo, um policial o parou e pediu uma selfie. Também encontrou um drone em seu jardim. Ele tem “100%” de certeza de que alguém em sua equipe de 40 pessoas vende informações à imprensa. “Só quero saber quem é”, diz. O pior é ser vigiado: “As pessoas filmam escondidas – fico ansioso pra caralho”. Beber é uma das maneiras de lidar com isso.

‘‘Você tem tequila prata?”, Sheeran pergunta ao garçom em um restaurante em Nova York. “Tirando a Patrón.” Sim, eles têm. “Cinco doses de tequila e uma dose de suco de maracujá, por favor. Coloque a tequila no gelo e deixe descansar um pouco. Depois, despeje no suco e agite.” O garçom da ABC Kitchen se explica: não servem suco de maracujá, mas uma loja ali perto vende e alguém foi buscar.

Desde que o vi em Londres há três semanas, Sheeran está em uma turnê promocional, visitando Inglaterra, Noruega, Alemanha, França, Ásia e Austrália, onde se hospedou na casa de Russell Crowe. “Ele tem o próprio pub”, conta. “Fiquei tão fora de mim que não percebi que ele tinha bebido uma garrafa inteira de gim e também estava fora de si.” Houve uma pequena crise por volta das 8h da manhã, quando todos perceberam que Sheeran tinha se afastado para ir dormir e acabou em uma área gramada cheia de cobras venenosas. Cherry temeu outro transtorno tipo Islândia. “Ele estava tropeçando na grama, caindo nos arbustos”, conta.

Sheeran escapou ileso, mas há muitas histórias como essa. Em Nashville, em 2013, ele fingia tocar bateria com duas garrafas de cerveja às 4h da manhã na noite anterior ao show em um ginásio. Bateu na mesa e acabou com um caco enorme de vidro dentro da mão direita. Por um milímetro não atingiu um nervo.

Tem também a cicatriz. Recentemente, ele estava em uma festa dada pela princesa Beatrice no Royal Lodge, perto do Castelo de Windsor, quando começou a brincar com espadas cerimoniais. A história muda bastante – alguns dizem que foi a própria Beatrice, Sheeran diz que foi o cantor James Blunt –, mas alguém fez um corte na bochecha direita dele. “Ele foi ao hospital e voltou pronto para a balada e com pontos”, conta um amigo. “E todos estavam dormindo. Falou: ‘Mas que porra! Sangrei por esta festa e vocês estão dormindo?’”

“Ele pode ser extremamente travesso. Que bom que não surgiu na mesma época que eu, senão teríamos ficado acordados três semanas juntos”, diz Elton, que está sóbrio há quase 30 anos. “Não é muito de drogas, mas gosta de beber. É muito divertido.”

Os drinques com cinco doses de tequila chegam. Sheeran toma rápido e pede mais um. Fala sobre ir a Tóquio, onde se encontrou com Bieber. Eles foram a um karaokê e jogaram sinuca em um boteco. “Ele está muito bem – muito sóbrio, muito presente”, afirma Sheeran. “Houve uma reviravolta e não há nenhum comportamento de diva. Realmente está bem.”

Sheeran acha que bebe demais? “Frequentemente penso: ‘É ruim que eu beba quase todo dia?’ Então vejo meus amigos e a maioria deles faz o mesmo. E são piores do que eu. A primeira coisa que os norte-americanos dizem é: ‘Há um problema e você precisa ir para a reabilitação’, mas não acordo e bebo. Não dependo da bebida. Posso ficar totalmente sem ela. Só gosto de sair e me divertir, ter 25 anos, e acho isso normal.”

Em seu camarim no Saturday Night Live dois dias depois, Sheeran olha para as paredes verdes do lugar, cheias de fotos de antigos convidados musicais: Kanye West, Paul McCartney, ele mesmo. “Pareço a porra de um atormentado”, diz, comentando sobre uma foto de divulgação em que está inclinado para a frente com uma expressão séria no rosto. Logo, um vídeo ao vivo do ensaio para o show vai ao ar. Ele gargalha com o monólogo do anfitrião, Alec Baldwin, e com Melissa McCarthy imitando Sean Spicer, secretário de imprensa e diretor de comunicações do presidente norte-americano, Donald Trump.

Está mostrando a um membro da equipe o meme “cash me outside” quando o amigo Zach Braff entra na sala verde. “Não há nada mais divertido do que estar no SNL – estou muito animado”, diz a Sheeran. “É como você estar em uma convenção do Star Wars.”

Sheeran vai direto da sala para o palco para apresentar “Shape of You”, sem fazer nenhum tipo de aquecimento vocal. Mais tarde, está prestes a tocar a segunda música, “Castle on the Hill”, quando ele e Cherry encontram Tracy Morgan. O comediante fala sobre coisas que vão de O Império Contra-Ataca e O Poderoso Chefão a Michael Jackson. “Michael era a música”, defende Morgan. “Com cada fibra de sua alma. O problema dele é que chegou ao auge cedo demais. Ouça ‘ABC’. Ele tinha 8 anos quando gravou! E depois que você chega ao auge não há mais para onde ir.”

“Você está me assustando!”, Sheeran ri. Morgan responde que ele não tem nada com que se preocupar. “Você é bom. É centrado. Tem uma mulher ao seu lado. Vai ter uma esposa e filhos e vai ser feliz pra caralho.”

A cena fica mais surreal quando Baldwin se aproxima dos dois ainda vestido como Trump. A semana inteira, Sheeran ficou admirando os dois filhos pequenos dele: “Sempre que alguém traz bebês, penso: ‘Temos de providenciar um’”.

Depois do programa, ele tem de pegar um voo para fazer a passagem de som às 9h da manhã para o Grammy. “Você ficará bem”, diz Morgan. “Durma um pouco no avião.” Baldwin pergunta sobre os planos para a turnê. “Não importa o que faça, você é jovem, muito talentoso. Vocês terão um bebê. Tenham um no jatinho particular.”

“Bebês de ônibus de turnê!”, brinca Cherry.

Mas Sheeran está ansioso mesmo é por seu aniversário de 26 anos na semana seguinte, que vai celebrar com Cherry nos Alpes austríacos. “É incrível conhecer gente famosa, mas não é a vida real. Não é a vida de verdade”, diz. “Um dia isso acabará. E sei que a única pessoa que continuará constante é a Cherry. Preciso simplesmente aproveitar enquanto isso está aqui, mas sem deixar que se torne minha realidade. Porque não é a realidade em que quero viver.”

O músico faz diversos shows no Brasil neste fim de mês, passa pelas cidades de Curitiba (Pedreira Paulo Leminski), no dia 23; no Rio de Janeiro (Rio Arena), dia 25; em São Paulo (Allianz Parque), dia 28; e em Belo Horizonte (Esplanada do Mineirão), dia 30.

Habilidade Pop

Novo disco confirma o poder musical de Ed Sheeran

Por Maura Johnston

Nos quatro anos que se passaram desde que Ed Sheeran se estabeleceu como show de abertura/melhor amigo de Taylor Swift, ele não apenas se tornou um astro – ajudou a dar a cara do pop atual. Misturando sensibilidade acústica e conhecimentos da era digital, o cantor e compositor britânico criou hits para Justin Bieber e One Direction enquanto serviu de influência para novos nomes, como Lukas Graham e Shawn Mendes. Em ÷ (HHHH, Atlantic/Warner), primeiro disco dele desde x (2014), Sheeran leva a novos patamares a mistura de bravata em rap e jeito de “gente como a gente” que o ajudou a chegar às paradas.

O primeiro hit de ÷, “Shape of You”, é uma canção de batida forte e encorpada que Sheeran usou no Grammy para mostrar sua impressionante coleção de pedais de loop. “Perfect” é uma exuberante canção de amor que evoca a era de ouro do pop; “Castle on the Hill”, que equilibra guitarras inquietas e um refrão grandioso, remete a uma força ao vivo à la U2, Arcade Fire e Mumford & Sons. A música que fecha o álbum, “Supermarket Flowers”, é uma balada fina que o artista escreveu sobre a avó, recontando o funeral dela sob a perspectiva da mãe de Sheeran. Embora a poesia simples de seus versos revele o quão mundano é lidar com a morte, o refrão parece perfeito para multidões cantando de maneira catártica. E isso é um exemplo de que a habilidade de Ed Sheeran continua em evolução.